EAD para crianças do campo foi uma ideia que trouxe de volta, com toda a força, o estigma contra a EAD em muitos meios educacionais. O que você pensa disso tudo?
Trabalho com EAD numa universidade federal, num curso regular e num programa de pós-graduação, presenciais em disciplinas a distância. Comecei a fazer isso em 2005, com o objetivo de abrir as portas da minha sala de de aula para o tipo de interação que conhecia em comunidades - totalmente online - de software livre, nas quais colaboração, respeito às diferenças e compartilhamento são palavras de ordem todos os dias. Não são comunidades perfeitas - e qual seria? - mas são ambientes em que vemos acontecer, sem que seja necessário forçar, a qualidade para mim mais importante em qualquer grupo: quando um cresce, todos crescem.
Passaram-se quase 14 anos e ainda persisto nesse caminho. Porque? Simples: funciona. O UEADSL nasceu dessa aposta, assim como diversos outros projetos do Texto Livre. Acredito na proposta nas bases de uma comunidade de prática (Castro) e da aprendizagem situada (Almeida), teorias que conheci a posteriori no trabalho de orientação, graças a meus alunos diligentes.
No entanto, EAD para crianças não é somente uma proposta inócua, é absurdo: sempre que dou aulas online encontro alunos - adultos - que não conseguem se adequar à realidade das aulas, sentem-se desconfortáveis, falta-lhes a presença física reconfortante do professor e das paredes e horário fixo - sim! - da sala de aula tradicional. Pode ser que aconteça com mais frequência com alunos com mais idade, mas afirmar isso como lei é querer que o mundo seja - ah, esse sim, virtual - um em que todos tem acesso à internet e à tecnologia da mesma forma.
Já sabemos que crianças cujos pais não são leitores assíduos mais provavelmente terão dificuldades em aprender a ler; não é diferente com o letramento digital. E a ideia de que o uso regular de celulares em redes sociais proveria às crianças as habilidades necessárias para estudar a distância também é equivocada: nesses anos como professora a distância, já vi dezenas ou até centenas de estudantes de graduação, usuários assíduos de redes sociais, apresentarem dificuldades como se nunca tivessem interagido online antes.
Redes sociais não ensinam autonomia, responsabilidade, nem mesmo letramento digital propriamente dito, pois baseiam-se na falsa ideia de que software bom é que nem geladeira, não precisa aprender para usar (ouvi isso de um professor de engenharia amigo meu, a quem retruquei: doce ilusão, alguém que nunca viu nem ouviu falar em geladeira, nunca soube que ela poderia ter comida dentro, pode morrer de fome ao lado de uma geladeira cheia de comida. Tudo é aprendido). Então o que se busca em softwares de massa é padronizar tanto que as pessoas nem pensem mais para usar. Coisa mais anti-educativa impossível: forma-se massas, não usuários individuais conscientes e críticos.
Enfim, eu amo a EAD, trabalho com ela, estudo-a, analiso-a e recrio-a sempre que possível, mas não sou ignorante do fato de que:
1. como qualquer modalidade de ensino, não atende a todos;
2. não é adequada para pessoas sem acesso aos recursos necessários;
3. precisa ser aprendida (aulas presenciais aprendemos obrigatoriamente desde a tenra infância, não se esqueçam);
4. os que alguns chamam de nativos digitais não nascem prontos para ela.
Então, sou absolutamente contra a EAD como alternativa de escola rural para crianças. Para adultos, conversamos na Feira de Saberes.
E você, o que acha?
Re: EAD: ame-a ou deixe-a?
Tem um vídeo muito interessante sobre o EaD no RJ (CEDERJ) e como é altamente relevante
para vida de muitos alunos.
Referência
Olá professora Ana Matte e demais colegas, estive inserida no contexto de uma escola do campo aqui do Rio Grande do Sul. Esta concepção de EAD para crianças é desastrosa, primeiramente porque sabemos que não chegaria até eles, é uma forma de exclusão. Concordo com a professora Ana em sua escrita e acredito que os povos do campo devem ser reconhecidos como sujeitos de direitos.
O problema que vejo nessa modalidade de ensino para crianças é a falta de humanização,ou seja, dificilmente formaremos seres humanos se as relações em torno dela for desumana. Minha experiência como monitora em uma escola do campo reflete até mesmo a dificuldade de direitos básicos, a água potável por exemplo, aqui é trazida semanalmente para a escola, e o acesso pelo veículo escolar em períodos de muita chuva costuma ser interrompido por semanas, ate mesmo meses. Acesso a internet na zona rural é para poucos, além de saber que muitas crianças não teriam acesso a aparelhos eletrônicos, pois é realidade das famílias que convivi.
Esta é uma questão bem delicada, mas seria ingênuo propor uma EAD de qualidade para crianças se ainda não conseguimos garantir nem a educação infantil para todas as escolas do campo. Eu trago uma reflexão para continuarmos o diálogo, se caso fosse possível uma EAD para crianças, qual seria o papel da escola e dos professores na construção da identidade desses sujeitos?? Qual seria a relação das crianças com o espaço escolar, sua história, sua vivência,sua cultura.
Sou estudante de duas graduações Ead> Deve -se pensar a educação a distância de forma mais ampliada. O que estou querendo dizer com isso? Na proposta de Ead NO CAMPO, devem ser dados todo o suporte e todo a aparato para quem será o condutor do processo de aprendizagem. Vejo a Ead como uma porta de entrada ao ensino de quem as vezes não pode estudar pela método presencial , devido a muitas barreiras. Então, concordo com o uso do ensino no campo, mas com qualificação e suporte.
Nossa.... Realmente uma problemática interessante.
Sou um adepto e defensor da EAD, principalmente que por experiência, acredito que o sucesso ou insucesso depende do engajamento, recurso do estudante, como Ana já apontou.
Interessante, que já existe um debate aqui em Minas Gerais de ofertar algumas disciplinas do Ensino Médio na modalidade EAD.
Se tratando da modalidade, vejo uma possibilidade de resinificação cultural uma vez que estudantes de comunidades do campo podem trocar experiência com estudantes da cidade ou de outras comunidades do campo, e a possibilidade de transitar em outros espaços aumenta o repertório de letramento desses sujeitos e por aí vai.
Sobre a EAD para crianças, existem alguns estudos que mostram que a utilização de tecnologias digitais é um estímulo positivo para crianças, contudo, um uso moderado. O problema que antes de pensar nas finalidades pedagógicas, esbarro na condição de acesso. Não faz sentido um estudante do campo ter que ir até o laboratório de informática, em uma escola na cidade, para fazer aulas EAD. O ideal que ele pudesse acessar em sua casa. E para isso terá que possuir no mínimo um Smartphone, que custa pelo menos 700 reais, e um acesso a internet, dependendo, um pacote de dados para que possam assistir vídeo aulas custará pelo menos 250 reais, isso se tiver internet na localidade do estudante. São muitas prioridades para famílias que não conseguem oferecer nem um café da manhã para seus filhos, infelizmente são as realidades dos nossos campos.
Que legal Tiago, duas graduações, parabéns! Sabemos a importância que a EAD tem e o quanto ela possibilita esse acesso, porém o enfoque da questão seria uma proposta para crianças, então penso que muda bastante, mesmo com suporte nas escolas do campo.
Sim, Joice concordo plenamente! A abordagem com público infantil é bem diferente do que com o público adulto.
Meu pensamento é mais aproximado ao do Maurício, deve ser feito uma mudança dos padrões e a dificuldade está na logística. Se tem que haver o predio, o prof. a professora, sim, como já existe! Mas prq está se falhando tanto como agora nas salas de aula? Prq os alunos tanto se desrespeitam, tanto a colegas como professores? A violência, os artifícios da evasão escolar, o descaso com a educação de todas as partes do conjunto, seja da família q joga o filho na escola achando q lá é depósito e obrigação do Estado, do prof. q vai pra escola cumprir horário. Diante da demanda esses casos n se tornam em pequeno número. A resignificação vem para tornar possível essa nova modalidade, n está dizendo q o método tradicional acabou. Então vemos recentemente o STF julgando a Homeschooling q ao meu ver unindo a EAD seria um aporte eficaz sim. Só q mudando da água para o vinho e fortalecendo o q Maurício falou, é q nós estamos falando o q se fala na legalização da maconha "deve ser legalizado sim, nem tem o q discutir" a questão é q n estamos preparados para assim fazer, ou seja sem o aporte do material independente da fase de ensino é o q torna esse método ineficaz!!
Pela contato que tive com o EaD tanto na graduação quando na pós, pude notar alguns perfis de alunos que tem bastante aderência ao Ensino a Distância, além de ser extremamente necessário.
Segundo a UNED – Universidade Nacional de Educação à Distância, uma das diferenças fundamentais entre os estudantes presenciais e EaD é a grande heterogeneidade sociodemográfica. Dividindo-se em 5 grupos :
a) 19-24 anos: com seu tempo disponível aos estudos, por não trabalharem;
b) estudantes mais maduros e autônomos: seguros em relação à sua capacidade de aprendizagem e independentes de tutorias;
c) estudantes de perfil mais tradicional: que abandonaram por um tempo os estudos e querem voltar a eles, ou que não conseguem cursar a modalidade presencial por ter que trabalhar ou ter obrigações/falta de dinheiro, com mais dificuldades para distribuírem o seu tempo;
d) Os que querem formas de ascensão na área de trabalho e não possuem tempo para cursar o ensino presencial e,
e) alunos que moram muito longe do centro universitário.
Referência
UNED – Universidade Nacional de Educação à Distancia. Disponível em: