Geraldi,
muito obrigada por estar aqui conosco compartilhando suas reflexões sempre tão incisivas e brilhantes.
De fato, a escola não pode ignorar que as tecnologias digitais, em especial as tecnologias em rede, possuem outra natureza do que tecnologias mais tradicionais (como caneta e papel, que facilmente podíamos chamar de suporte, na linha do que se fala em gêneros textuais e discursivos): a internet não é só um suporte.
Um e-mail corporativo pode ser comparado, sim, a uma carta corporativa recebida em escaninhos ou até pelo correio. No entanto, a carta é lida individualmente e não possui como possibilidade intrínseca um "responder a todos", como no e-mail; assim, a carta corporativa é mais hierárquica e com menos possibilidade de discussão de seu conteúdo. Em virtude disso, a carta em papel é mais definitiva que o e-mail. Aqui na UFMG vejo os dirigentes buscando formas de trazer para o e-mail essa característica, ao evitar a digitação do conteúdo de moções, declarações, normas etc: estes textos são escaneados e enviados em forma de imagem. No entanto, como digitar um e-mail é um processo mais ágil que [digitar + imprimir + assinar + escanear], este procedimento não se aplica a mensagens menos formais.
Antigamente, o saber enciclopédico era sinônimo de conhecimento referendado. Com a Wikipedia, para citar apenas um exemplo, o próprio conhecimento passou a ser discutível, mesmo quando se trata de formulações amplamente utilizadas pela comunidade científica.
Como você bem aponta, o conhecimento na internet está disponível numa escala nunca antes vista e é sempre renovável, exponencialmente acumulável. Nenhum livro didático pode fazer frente a isso.
Assim, quando você diz que a escola deixa de ser um espaço privilegiado para obtenção do conhecimento e deveria assumir essa sua incapacidade de competir com a escalabilidade do conhecimento na rede, assumindo o papel de espaço para aprender a refletir e ler criticamente, eu completo dizendo que também cada ciência e cada teoria possui um modo especial de pensar e refletir e que a escola é o lugar por excelência no qual podemos aprender esse modo de pensar, o modus operandis de cada ciência, capacitando-nos a essa leitura crítica que, por sua vez, a internet cada vez menos valoriza.
Cada vez há mais polêmica na internet, o que não significa haver mais crítica: o que se percebe é que as redes sociais propiciam a formação de panelinhas e fortalecem a repetição: o internauta pode escolher - e , em geral, escolhe - viver alimentado de mais do mesmo, e mais e mais do mesmo numa mesmice sem fim, recrudescendo suas verdades.
Assim, pergunto: como a escola pode contrapor-se a essa onda de mesmice aguda, de memes e manchetes tomados como últimas palavras sobre assuntos que não chegaram a começar a ser discutidos, sem cair na infelizmente enfadonha exigência de um aprofundamento teórico que poderia, afinal, ser uma arma contra essa superficialidade toda?
Um forte abraço e seja bem vindo!
Ana