Olá Tiago!
Primeiramente, gostaria de parabenizá-lo pelo trabalho! Gostei muito da temática e penso que é de extrema importância considerar o contexto social do aluno, especialmente na situação de crise em que vivemos.
Pela leitura do seu trabalho, voce afirma que o emprego das tecnologias no processo educacional mais exclui do que inclui alunos. Para você, como esse cenário poderia ser revertido? Teremos, talvez num futuro próximo, algum modelo educacional que não seja restrito a alunos com certa condição financeira?
Uma reflexão que eu gostaria de trazer, e até uma sugestão de leitura, é o que Bordieu afirma sobre transmissão de capital cultural, entre crianças mais e menos favorecidas. (Capítulo 2 - A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura, do livro Escritos de Educação do Pierre Bordieu)
Tive a oportunidade de debater esse texto em uma disciplina de sociologia da educação, e logo consegui associar com o que voce afirma no texto, em que a genitora da família por mais que tivesse metas a alcançar, ficou estagnada no sentido de se acomodar em adiar suas metas. Por outro lado, vi também a associação relevante que voce fez com a ausência e/ou pouca presença de representação de pessoas pretas e culturas de origem africana no ensino. Como uma mulher preta, que foi estudante de escolas públicas durante toda a vida escolar, vi que a realidade de muitos jamais chegariam à universidade, e, talvez , a ascensão social.
Dessa forma, concordo com voce nesse ponto que o poderio econômico, bem como o acesso aos recursos educacionais e fatores como racismo podem sim limitar as oportunidades educacionais e de empregabilidade de uma pessoa no Brasil. Por outro lado, vejo também a contribuição da minha herança cultural, que é abordada por Bordieu nesse capítulo, para o meu sucesso escolar. Bordieu afirma que a ideologia de escola libertadora é ligada a aparência de legitimidade das desigualdades sociais, utilizando da herança cultural (consequentemente do capital cultural do estudante - ressalto que nenhum desses é de escolha do aluno, pois tem a ver com os outros que o cercam e onde e/ou como e com quem foi criado) como um sendo "dom natural", o que na verdade não é.
Nesse ponto, ele também afirma que o poderio econômico tem menos influência no sucesso escolar de um estudante do que a herança cultural deixada por sua família, isto é, o nível cultural do meio familiar (ter frequentado faculdade que não necessariamente precisa ser os pais, mas sim alguém do convívio do estudante que funcionaria como espelho , acesso a educação, teatros, música, arte, dentre outros). Muitas vezes, as famílias transmitem esse capital cultural aos seus filhos sem sequer ter ideia disso, ainda que sejam pobres ou não. Herdar saberes também faz parte, segundo Bordieu, do sucesso escolar do aluno.
Por outro lado, é de se notar que, em geral, quanto maior o domínio cultural do estudante, maior tende a ser a sua origem social, e é nesse ponto que seu trabalho me retomou ao do Bordieu. Pois não necessariamente vem atrelado a racismo e pobreza, mas em geral sim, é dessa classe de onde vem as maiores dificuldades de acesso a educação e de sucesso escolar. Depois, se lhe interessar, recomendo bastante a leitura do livro, é realmente muito bom!
Ademais, gostaria de convidá-lo para contribuir com críticas, sugestões e comentários no trabalho que realizei com meu amigo Gabriel e a equipe do CAED/UFMG sobre o programa de extensão em que fazemos parte, intitulado Programa “APROXIME-SE Paralelo entre as Edições de 2020 e 2021 a partir da Experiência Remota .
Parabéns mais uma vez pelo trabalho realizado!!
Grande abraço!
Nathalia O. Costa