Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Mauricio Teixeira Mendes -
Número de respostas: 17
Neste tópico discutiremos um relato da professora Hemerencia Maria da Silva, que trabalhou na produção de tecnobiografias para UEADSL. Seguimos....
Em resposta à Mauricio Teixeira Mendes

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Hemerenciana Maria da Silva -

Neste primeiro semestre de 2019, trabalhei com turmas do Ensino Fundamental da Escola Estadual Padre João Afonso na produção de tecnobiografias que deveriam fazer parte da Feira de Saberes nesta versão do UEADSL. Infelizmente não conseguimos concluir o trabalho a tempo. Mas venho compartilhar um pouco desta experiência. Participar da produção das tecnobiografias foi muito interessante, pois além de acompanhar histórias incríveis pude perceber o quanto as novas tecnologias estão presentes no nosso dia a dia. No recorte abaixo percebe-se a influência das novas tecnologias no dia a dia das pessoas como, por exemplo, deixar de escrever uma carta e um bilhete para fazer uma ligação, fazer pesquisas e participar de eventos, algo que até então era desconhecido.

“Me lembro que meu primeiro contato com tecnologia foi quando em Padre João Afonso surgiu o primeiro posto telefônico, as pessoas formavam filas para fazerem ligações. Eram feitas de acordo com a ordem de chegada, as pessoas pagavam pelos minutos que falavam era bom pois a notícia chegava mais rápido. O problema é que todas as pessoas que ali estavam ficavam sabendo o assunto do que se tratava o telefonema.

Com a chegada do posto telefônico, as cartas e bilhetes foram ficando de lado, perdendo a importância, pois com a tecnologia digital tudo era mais rápido.

Usei um mouse pela primeira vez na escola quando fizemos uma pesquisa sobre comidas típicas de várias regiões. As pessoas importantes no processo do meu aprendizado foram os meus pais e professores.

Eu já vivenciei a proibição do uso de celular em sala de aula. Não participo de redes sociais. Já fiz uploads de imagens e vídeos sobre receita culinária, em um trabalho apresentado no UEADSL onde recebi vários comentários e um certificado. ” (FONSECA,2019)

 

O recorte acima é de uma tecnobiografia de uma estudante da EJA, pelos relatos percebe-se que ela passou por diferentes práticas de letramento, e é interessante que a relação entre sujeito, língua e tecnologia faz emergir novos desafios na maneira de utilizar a própria língua, e isso acontece devido este constante movimento.  Deixo uma indagação para pensar a língua em seu real contexto de uso.

A língua que utilizamos é diferente da que encontramos na gramática?


Em resposta à Hemerenciana Maria da Silva

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Tiago de Melo Silva -

A língua que utilizamos sem dúvida é diferente da gramática! Na gramática temos as normas estabelecidas, na linguagem falada há a utilização de acordo com a vivência do ser e o entorno que o cerca também a influencia. Sendo assim, há diferenças profundas entre as duas , que leva em consideração as formas como cada um vai encará-la.

Em resposta à Hemerenciana Maria da Silva

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Daniel Rodrigues Paes Landim -
As instituições escolares comumente priorizam o ensino da gramática normativa, ou seja, a norma culta da língua. Dessa forma, a norma culta é tida como a única correta e as demais variedades são menosprezadas consideradas desvios, erradas e subcultura. Não obstante, tal postura se reflete na escola, principalmente, no ensino de línguas. A escola tem priorizado a gramática normativa. Isso faz com que o ensino de línguas no Brasil tenha uma caráter reducionista, uma vez que a diversidade linguística não é enfatizada. Contudo, com os avanços dos estudos da sociolinguística compreende-se a língua como um complexo heterogêneo, fluido e multifacetado, ou seja, a língua como um produto social da coletividade está em um processo contínuo de evolução, por isso é plenamente compreensível que seus falantes façam uso de variações linguísticas que atendam a uma determinada necessidade comunicativa. Por tanto, linguisticamente falando, essas variações são plenamente válidas pois o propósito essencial da língua é a comunicação. É possível se comunicar bem em uma língua sem necessariamente ter conhecimento da gramática normativa. As gramáticas normativas apresentam um conjunto de regras, relativamente explícitas e coerentes, que devem ser seguidas quando surge a necessidade do emprego da norma padrão, mas não são necessariamente a língua, o uso dessas regras pode ser encontrado nos textos jornalísticos, acadêmicos e de boa parte dos livros publicados no país, essa norma é exigida na produção de publicações universitárias. Por isso, essa variedade padrão é ensinada na escola, já que seu ensino é uma ferramenta essencial para o conhecimento e para o acesso de informações fundamentais para a vida de qualquer pessoa. No entanto, apesar da importância de conhecer as regras de funcionamento da gramática normativa, os falantes que fazem uso dela podem incorrer no preconceito de que existe uma única maneira certa de falar a língua portuguesa. E essa maneira correta estaria estampada na gramática prescritiva. Essa ideia faz parte do que é denominado na academia de preconceito linguístico. O termo foi popularizado pelo professor Marcos Bagno (2009) na década de 1990 e define qualquer juízo de valor que estigmatiza direta ou indiretamente as pessoas que não dominam formas linguísticas consideradas certas por uma dada comunidade. Portanto, de acordo com Bagno a escola precisa evitar o preconceito linguístico e enfatizar a importância das variações linguísticas no processo comunicativo, os parâmetros curriculares nacionais também enfatiza que o ensino de língua no Brasil também precisa dar ênfase a temática das variações linguísticas uma vez que elas estão presentes entre nós falantes de uma língua. precisamos esclarecer aos alunos, que nem sempre alguém fala errado por querer, e que na verdade não é “errado” é diferente, mas por falta de orientação, conforme o ambiente social que vivi, essas pessoas acabam fazendo adaptações na língua, e que por isso acabam sofrendo o preconceito linguístico. Pois, falar diferente não é errado, toda língua sofre variação, em qualquer lugar do mundo há variação conforme seu idioma, como por exemplo, o inglês falado nos Estados Unidos é diferente do inglês falado na Inglaterra, sofre mudanças variações, mas tudo é inglês. Já o Português, falado em Portugal não é o mesmo falado no Brasil. precisamos esclarecer aos alunos, que nem sempre alguém fala errado por querer, e que na verdade não é “errado” é diferente, mas por falta de orientação, conforme o ambiente social que vivi, essas pessoas acabam fazendo adaptações na língua, e que por isso acabam sofrendo o preconceito linguístico. Pois, falar diferente não é errado, toda língua sofre variação, em qualquer lugar do mundo há variação conforme seu idioma, como por exemplo, o inglês falado nos Estados Unidos é diferente do inglês falado na Inglaterra, sofre mudanças variações, mas tudo é inglês. Já o Português, falado em Portugal não é o mesmo falado noAs instituições escolares comumente priorizam o ensino da gramática normativa, ou seja, a norma culta da língua. Dessa forma, a norma culta é tida como a única correta e as demais variedades são menosprezadas consideradas desvios, erradas e subcultura. Não obstante, tal postura se reflete na escola, principalmente, no ensino de línguas. A escola tem priorizado a gramática normativa. Isso faz com que o ensino de línguas no Brasil tenha uma caráter reducionista, uma vez que a diversidade linguística não é enfatizada. Contudo, com os avanços dos estudos da sociolinguística compreende-se a língua como um complexo heterogêneo, fluido e multifacetado, ou seja, a língua como um produto social da coletividade está em um processo contínuo de evolução, por isso é plenamente compreensível que seus falantes façam uso de variações linguísticas que atendam a uma determinada necessidade comunicativa. Por tanto, linguisticamente falando, essas variações são plenamente válidas pois o propósito essencial da língua é a comunicação. É possível se comunicar bem em uma língua sem necessariamente ter conhecimento da gramática normativa. As gramáticas normativas apresentam um conjunto de regras, relativamente explícitas e coerentes, que devem ser seguidas quando surge a necessidade do emprego da norma padrão, mas não são necessariamente a língua, o uso dessas regras pode ser encontrado nos textos jornalísticos, acadêmicos e de boa parte dos livros publicados no país, essa norma é exigida na produção de publicações universitárias. Por isso, essa variedade padrão é ensinada na escola, já que seu ensino é uma ferramenta essencial para o conhecimento e para o acesso de informações fundamentais para a vida de qualquer pessoa. No entanto, apesar da importância de conhecer as regras de funcionamento da gramática normativa, os falantes que fazem uso dela podem incorrer no preconceito de que existe uma única maneira certa de falar a língua portuguesa. E essa maneira correta estaria estampada na gramática prescritiva. Essa ideia faz parte do que é denominado na academia de preconceito linguístico. O termo foi popularizado pelo professor Marcos Bagno (2009) na década de 1990 e define qualquer juízo de valor que estigmatiza direta ou indiretamente as pessoas que não dominam formas linguísticas consideradas certas por uma dada comunidade. Portanto, de acordo com Bagno a escola precisa evitar o preconceito linguístico e enfatizar a importância das variações linguísticas no processo comunicativo, os parâmetros curriculares nacionais também enfatiza que o ensino de língua no Brasil também precisa dar ênfase a temática das variações linguísticas uma vez que elas estão presentes entre nós falantes de uma língua. precisamos esclarecer aos alunos, que nem sempre alguém fala errado por querer, e que na verdade não é “errado” é diferente, mas por falta de orientação, conforme o ambiente social que vivi, essas pessoas acabam fazendo adaptações na língua, e que por isso acabam sofrendo o preconceito linguístico. Pois, falar diferente não é errado, toda língua sofre variação, em qualquer lugar do mundo há variação conforme seu idioma, como por exemplo, o inglês falado nos Estados Unidos é diferente do inglês falado na Inglaterra, sofre mudanças variações, mas tudo é inglês. Já o Português, falado em Portugal não é o mesmo falado no Brasil. precisamos  esclarecer aos alunos, que nem sempre alguém fala errado por querer, e que na verdade não é “errado” é diferente, mas por falta de orientação, conforme o ambiente social que vivi, essas pessoas acabam fazendo adaptações na língua, e que por isso acabam sofrendo o preconceito linguístico. Pois, falar diferente não é errado, toda língua sofre variação, em qualquer lugar do mundo.
Em resposta à Daniel Rodrigues Paes Landim

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Mauricio Teixeira Mendes -

Daniel, obrigado pelo seu comentário.

De que maneira você associaria seu comentário com o recorte que a professora Hemerenciana destaca? No caso, houve uma ressignificação no uso da escrita na vida daquela estudante na maneira em que surgem novas tecnologias?

Abraços!!!

Em resposta à Mauricio Teixeira Mendes

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Daniel Rodrigues Paes Landim -
Sim, eu concordo com a professora. As tecnologias de fato resignificam às nossas práticas de leitura e escrita, uma vez que temos acesso a várias formas de interação em mídias multimodais vídeos, áudio, textos, e tudo isso de forma síncrona e assíncrona. Através da internet, por exemplo temos uma infinidade de recursos para nos comunicar o que consagra de forma efetiva essa autonomia que as tecnologias nos proporciona com tanta infinidade de recursos. E acho que no contexto educacional a interação entre a língua e a tecnologia pode revolucionar o ensino e aperfeiçoar a capacidade comunicativa dos falantes, uma vez que permite o usuário se comunicar em contextos reais do uso da língua.
Em resposta à Daniel Rodrigues Paes Landim

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Tiago de Melo Silva -

Concordo com vocÊ Daniel, ótima explanação.!

Em resposta à Hemerenciana Maria da Silva

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Joemir Santos -

Com certeza, a língua culta tem suas normas e todo um procedimento para mudanças, já a língua falada sofre mudanças de acordo com a necessidade e até por localidade tem suas peculiaridades. Aqui mesmo no ambiente virtual q podemos resumir d+ e continuaremos a entender. 

Em resposta à Joemir Santos

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Tiago de Melo Silva -

isso mesmo Edgar! A linguagem falada sofre variações de acordo com a localidade e outros aspectos. 

Em resposta à Tiago de Melo Silva

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Mauricio Teixeira Mendes -

Vou provocar vocês mais um pouco, de acordo com Bagno (2016) a humanidade passou milênios apenas falando, e a gramatica normativa é muito recente, tem aproximadamente uns 200 anos. De repente a gramatica passa ser o tipo definidor que exclui milênios de tradições orais. No campo existe um número considerável de pessoas que não dominam a escrita, e que nem sabem que são excluídos pela tal gramática, devido a falta de acesso a escolarização, um exemplo é o recorte da professora de uma aluna de 40 anos que somente agora está tendo a oportunidade de cursar o Ensino Fundamental. Então, eis a questão: De que maneira ensinar a gramática de forma menos excludente?

Em resposta à Mauricio Teixeira Mendes

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Joemir Santos -

Respeitando o contexto cultural, valorizando os saberes, dar uma resignificação e oportunizar um futuro ao qual nunca se imaginou!!

Em resposta à Joemir Santos

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Daniel Rodrigues Paes Landim -
Concordo com contigo meu caro Joemir Santos, o apreço a diversidade cultural, social e linguística, sem dúvidas é o melhor caminho se queremos ensinar a gramática normativa sem sermos preconceituosos e excludentes. Todo professor de idiomas precisa antes de tudo ser um apaixonado pela língua e creio que essa paixão encontramos quando aprendemos a maneja-la de acordo com as nossas necessidades comunicativas, uma vez que a linguagem perpassa todas as nossas atividades individuais e coletivas.
Em resposta à Mauricio Teixeira Mendes

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Tiago de Melo Silva -

Deve-se valorizar o entorno social do indivíduo,contextualizando a educação com elementos próximos a ele. Dessa forma, a educação torna-se mais inclusiva e participativa.

Em resposta à Tiago de Melo Silva

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Nathan Oliveira -

Bom, de cara a gente já tira que a linguagem escrita apareceu muito depois da linguagem falada e, inicialmente, apenas escreveu o que as pessoas falavam. Mas com o desenvolvimento de diferentes propósitos especiais de escrita, a linguagem escrita desenvolveu seu próprio estilo e regras próprias e tornou-se uma habilidade altamente exigida da linguagem.

Em resposta à Nathan Oliveira

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Mauricio Teixeira Mendes -

Olá Nathan!!! Grato pelos seus comentários...

I have question. (rsrsrsr)

De acordo com seu comentário, a gramática criou suas regras a partir do que as pessoas falavam.

Que pessoas eram essas?

Em resposta à Joemir Santos

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Nathan Oliveira -

Na minha visão, a função da linguagem é se comunicar com os outros para sobreviver e manter certos relacionamentos interpessoais. Como duas habilidades de linguagem, fala e escrita têm suas próprias características e têm diferenças fundamentais em muitos aspectos. 

Isso requer diferentes métodos de aprendizagem e ensino para lidar com eles, respectivamente. Existem diferentes exemplos de aprendizagem e ensino da língua falada e da linguagem escrita. Como professor de matemática que usa recursos numéricos e simbologias matemática, como aplicar os dois de maneira apropriada à sala de aula é de vital importância. 

A linguagem é um sistema mutável, especialmente a linguagem falada. Parece realmente impossível elaborar um plano perfeito de como aprender e ensinar a língua falada e a linguagem escrita. O que podemos fazer é fazer o melhor para melhorar os melhores métodos e materiais e mapear diferentes planos de ensino para as várias necessidades dos alunos.

Em resposta à Hemerenciana Maria da Silva

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Joice Padilha -

Que lindo trabalho professora Hemerenciana, fico contente em ver trabalhos das escolas do campo sendo contemplados em eventos como esse, com um longo alcance. Foi possível perceber as estratégias que usaste com a turma para alcanças as variações linguísticas. Percebo o envolvimento com a cultura local e histórica dos teus alunos, isso é um rico trabalho para as turmas de EJA, a partir de suas vivencias. 

Antes de trabalhar a variação linguística devemos reconhecer a língua  materna, pois é nas relações do dia a dia que praticamos a oralidade, já a escrita  padrão deve ser reflexo de um trabalho que não despreze o dialeto do aluno. É fato que falamos diferente da forma que escrevemos, porém a forma como nos relacionamos com a escrita nas turmas de EJA deve estabelecer formas de protagonismo por parte dos alunos, isso é possível perceber no teu trabalho. Parabéns aos envolvidos!!

Em resposta à Joice Padilha

Re: Práticas de letramento e o uso de tecnologias digitais em uma turma da EJA na Educação do Campo

por Mauricio Teixeira Mendes -

Olá Joice, prazer em te ter aqui.

Como seria esse reconhecer a língua materna?