A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

Número de respostas: 16

A VERDADE NEGADA

UMA ANÁLISE SEMIÓTICA SOBRE A INVISIBILIDADE DAS MULHERES AUTISTAS NAS REDES SOCIAIS

Autores

•     Júlia Rodarte Mendonça

Palavras-chave:

Semiótica Discursiva, Percurso Gerativo de Sentido, nível narrativo, nível discursivo, veridicção

Resumo

Este artigo propõe uma análise semiótica de um texto publicado pela Mídia NINJA sobre o diagnóstico tardio em mulheres autistas, buscando compreender como a verdade sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em mulheres é socialmente construída e frequentemente negada. Utilizando os conceitos de dialogia, quadro de valores e função de veridicção, a análise investiga a tensão entre o que se é e o que se parece ser, mostrando como a narrativa social muitas vezes invalida a existência dessas mulheres.

PDF: leia o texto completo aqui

Coordenadores de mesa: 

  • professor Ana Matte
  • Mesa: Ana Noronha

Em resposta à Primeiro post

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Ana C. Noronha -
Olá, pessoal!
Que bom termos este espaço para trocarmos ideias sobre trabalhos, sobre semiótica. Que tema importante, Júlia!
Aproveitem para colocar suas questões, observações, vamos dialogar.
Profa. Ana Noronha
Em resposta à Ana C. Noronha

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Julia Rodarte Mendonca -
Olá, professora Ana!
Fico muito feliz com sua leitura e com o espaço que o fórum nos proporciona para esse diálogo tão necessário.
Escolhi esse tema justamente por perceber o quanto o discurso social, inclusive nos espaços digitais, ainda invisibiliza certas experiências, como a das mulheres autistas. A análise semiótica me ajudou a entender melhor como essa exclusão simbólica se estrutura e se mantém, mesmo em contextos que se propõem a ser mais inclusivos.
Estou aberta a ouvir sugestões, provocações ou novas leituras que possam enriquecer essa discussão!
Obrigada pelo acolhimento e pelo incentivo à troca!
Júlia.
Em resposta à Primeiro post

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Ana Cristina Fricke Matte -
Júlia, boa tarde!
Este é o melhor momento da nossa disciplina, quando vocês podem conversar com outras pessoas sobre o trabalho que fez, não ficando restritos à minha avaliação.
Semiótica é minha melhor praia e fico contente que tenha feito bom proveito da disciplina. O que você considerou mais difícil de levar do estudo teórico à prática na análise da veridicção no diagnóstico tardio do TEA em mulheres?
Um ótimo evento!
Ana
Em resposta à Ana Cristina Fricke Matte

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Julia Rodarte Mendonca -
Boa tarde, professora Ana!
Muito obrigada pelo retorno tão generoso! Fico especialmente feliz em saber que a senhora aprecia tanto a semiótica, isso com certeza se refletiu na forma como a disciplina foi conduzida e na motivação que tivemos ao longo do processo.
Falando sobre a análise, acredito que o ponto mais desafiador foi levar o conceito de veridicção para a prática, especialmente em um tema tão delicado quanto o diagnóstico tardio de TEA em mulheres. No início, parecia mais simples identificar o que “parece ser” e o que “é”. Mas, conforme fui mergulhando nos relatos, percebi que a própria possibilidade de “ser” autista é muitas vezes negada socialmente quando se trata de uma mulher. Ou seja, não se trata apenas de uma dúvida sobre a veracidade do diagnóstico, mas de um apagamento simbólico ainda mais profundo, que impede esse reconhecimento desde o início.
Isso me fez entender que a veridicção não está só no conteúdo do que é dito, mas também na identidade de quem fala e nas estruturas sociais que decidem quem merece ser ouvido. Essa foi, sem dúvida, a parte mais difícil, e também a mais transformadora do trabalho.
Agradeço pela pergunta e pela oportunidade de refletir mais uma vez sobre o processo. Um ótimo evento para todos nós!
Júlia.
Em resposta à Julia Rodarte Mendonca

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Ana C. Noronha -
Olá Júlia, olá Ana Matte,
Júlia, muito importante a menção do apagamento simbólico e de se enxergar os efeitos de verdade que o texto produz em uma dimensão mais ampla, que está na estrutura social nossa.
Quando li seu trabalho, agora, notei que você não usou a palavra "segredo", que é o que caracteriza, no quadrado da veridicção, o que não parece mas é (como a mulher autista que faz-parecer que não o é).
Gostaria de vê-la comentar um pouco sobre esse termo, "segredo", pois ele me parece tão pertencente à isotopia do feminino e dos apagamentos sociais... O que me diz?
Em resposta à Ana C. Noronha

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Julia Rodarte Mendonca -
Olá, professora!
De fato, a palavra “segredo” não aparece no meu texto, mas sua provocação me fez olhar para a análise com outros olhos.
O “segredo”, dentro do quadrado veridictório, como aquilo que é, mas não parece, descreve perfeitamente a situação das mulheres autistas retratadas no relato analisado. Elas vivem o TEA de forma legítima, mas justamente por conseguirem mascarar os traços para se adaptarem socialmente, muitas vezes de forma involuntária e exaustiva, acabam sendo invisibilizadas. Seus sintomas tornam-se um segredo socialmente construído, pois não se encaixam no modelo dominante do “autista típico”, geralmente pensado a partir de características masculinas.
Gostei muito da relação que a senhora propõe com a isotopia do feminino, porque o segredo parece atravessar mesmo muitas das experiências sociais das mulheres. A exigência de dissimular, esconder ou se adequar às expectativas externas cria esse cenário de silêncio forçado, que é tanto individual quanto coletivo.
Fico com a sensação de que esse “segredo” não é apenas uma categoria da análise semiótica, mas também uma metáfora poderosa para refletir sobre os apagamentos simbólicos que o meu artigo buscou evidenciar.
Muito obrigada pela pergunta! Ela me fez querer retomar a análise e explorar ainda mais esse aspecto.
Em resposta à Julia Rodarte Mendonca

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Ana C. Noronha -
Gostei muito dessas suas reflexões trazidas à tona a partir da minha provocação quanto à lexicalização desse ser e não parecer em "segredo". Sim, penso que você tem razão quanto a esse termo atravessar muitas outras experiências femininas. O segredo está contido (ou contém, dependendo da aproximação) no silenciamento que a cultura impõe às mulheres. Esta aí uma boa linha para alguma continuidade ao seu trabalho.
Quanto ao texto original, retirado da Mídia Ninja, há nele muitas vozes que constroem essa verdade e a reforçam, em um jogo bastante complexo. Achei isso interessante também.
Abraço.
Em resposta à Primeiro post

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Kayque Edgar Chiarelli Nascimento Cornelio -
Parabéns pelo trabalho, Júlia! A sua análise sobre a invisibilidade das mulheres autistas é potente e necessária. A forma como você articula os conceitos de veridicção, parecer x ser e os quadros de valores deixa muito claro como o gênero ainda atravessa (e limita) o reconhecimento do TEA.

Achei especialmente forte a discussão sobre o masking e o quanto isso contribui para o apagamento simbólico dessas vivências. Você acredita que as redes sociais têm conseguido romper esse ciclo de invisibilização ou ainda operam mais dentro da lógica dos discursos dominantes?
Em resposta à Kayque Edgar Chiarelli Nascimento Cornelio

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Julia Rodarte Mendonca -
Oi! Muito obrigada pela leitura atenta e pelo comentário tão generoso! Fico feliz que a discussão sobre o masking tenha te tocado, também foi uma parte que me marcou muito durante a escrita do artigo.
Sobre sua pergunta, acredito que as redes sociais estão num lugar ambíguo: ao mesmo tempo em que ainda reproduzem muitos discursos dominantes, também vêm se tornando um espaço importante para romper o silêncio sobre o autismo em mulheres.
Por um lado, os algoritmos e as lógicas de visibilidade das plataformas ainda favorecem certos padrões e estéticas, e isso pode acabar reforçando o apagamento. Mas, por outro lado, coletivos autistas, criadoras de conteúdo neurodivergentes e páginas como a Mídia NINJA vêm ajudando a construir outras narrativas, mais plurais e acolhedoras.
Então, diria que as redes têm potencial para romper esse ciclo de invisibilidade, mas ainda estamos em um processo de disputa por espaço e escuta. É como se a veridicção ainda estivesse sendo construída ali — entre o ser e o parecer, entre o que é dito e o que é finalmente reconhecido.
Obrigada pela pergunta e pelo diálogo!
Em resposta à Primeiro post

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Marcelle Cristina Ribeiro Mendes -
Oi, Júlia!
Seu trabalho ficou incrível! A escolha do tema é super necessária e sensível, e você conseguiu articular muito bem os conceitos da semiótica com a realidade das mulheres autistas. A forma como você explicou o uso da veridicção, do “ser e parecer”, e do masking foi clara e tocante — dá pra sentir o peso simbólico do apagamento que essas mulheres vivem.

Adorei como você trouxe a ideia da disputa por narrativas nas redes sociais. O texto da Mídia NINJA foi uma ótima escolha pra mostrar como essas vozes, mesmo silenciadas por tanto tempo, estão encontrando espaço pra serem ouvidas e validadas. E sua análise deixou tudo muito bem amarrado, sem deixar de lado o impacto coletivo dessa exclusão.

Parabéns mesmo! Um trabalho necessário, bem fundamentado e escrito com sensibilidade.
Em resposta à Marcelle Cristina Ribeiro Mendes

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Julia Rodarte Mendonca -
Oi!
Muito obrigada pelas palavras tão generosas, fiquei realmente feliz com seu comentário. Escrever esse artigo foi uma forma de tentar dar visibilidade a algo que muitas vezes é silenciado de maneira sutil, mas muito profunda. Saber que essa mensagem chegou até você com sensibilidade me mostra que valeu a pena.
Fico ainda mais contente que você tenha notado a intenção de mostrar as redes sociais como um território de disputa simbólica. Apesar de todos os limites dessas plataformas, é muito importante reconhecer que elas também têm permitido o surgimento de narrativas que antes não tinham espaço.
Obrigada, de verdade, por esse retorno tão acolhedor. Seguimos na troca!
Em resposta à Primeiro post

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Ana C. Noronha -
Bom dia!
Que boas reflexões, que discussão rica este trabalho está provocando aqui no fórum!
Muito bom, Júlia.
Em resposta à Primeiro post

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Maria Eduarda Gomes Ribeiro -
O artigo é muito bem escrito e aborda uma temática extremamente relevante com sensibilidade e profundidade. A análise sobre como as mulheres autistas são invisibilizadas é clara e impactante. É admirável como os conceitos da semiótica foram articulados para mostrar como o gênero influencia no reconhecimento do diagnóstico. Um trabalho necessário e muito bem desenvolvido!
Em resposta à Maria Eduarda Gomes Ribeiro

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Julia Rodarte Mendonca -
Oi!
Muito obrigada pelo seu comentário tão generoso! Fico feliz que a articulação entre os conceitos da semiótica e a realidade das mulheres autistas tenha ficado clara na leitura. A intenção era justamente dar visibilidade a esse apagamento simbólico que, infelizmente, ainda é tão presente. Agradeço demais pelo reconhecimento e pela troca!
Em resposta à Primeiro post

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Lisania Gabriele Santos -
Olá, Júlia! Que trabalho maravilhoso! Apesar dos avanços, ainda temos muito o que explorar no estudo do TEA, especialmente no que diz respeito ao diagnóstico tardio e ainda mais das mulheres, frequentemente silenciadas nesse contexto.
Em resposta à Lisania Gabriele Santos

Re: A Verdade Negada. Autoria: Júlia Rodarte Mendonça

por Julia Rodarte Mendonca -
Oi, Lisania!
Muito obrigada pelo carinho e pela leitura atenta. Também acredito que ainda temos muito a avançar, especialmente no reconhecimento das vivências das mulheres no espectro. Fico feliz que o trabalho tenha contribuído com essa reflexão tão necessária!