A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

Número de respostas: 16

A Invisibilidade da Diferença

Uma Análise da Percepção Social e do Estigma Comportamental no Espectro Autista

Autores

•     Gustavo Oliveira Sousa Silva Faculdade de Letras/UFMG

Palavras-chave:

Autismo, Inclusão, Estigma, Níveis de Suporte, Percepção Social

Resumo

Este artigo analisa a percepção social do Transtorno do Espectro Autista (TEA), focando nos desafios da inclusão real. Discute como o comportamento de indivíduos com TEA, especialmente aqueles que necessitam de maior suporte, impacta a forma como são vistos socialmente. Argumenta-se que a inclusão frequentemente hierarquiza, priorizando autistas de nível 1 em detrimento daqueles com necessidades de suporte mais elevadas, e defende a necessidade de uma aceitação incondicional que abranja a totalidade do espectro.

PDF: leia aqui o texto completo

Coordenadores de mesa: 

  • professor Ana Matte
  • Mesa Thais Faria

Em resposta à Primeiro post

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Ana Cristina Fricke Matte -
Bom dia, Gustavo e Thaís,
Sobre o tema do trabalho, concordo com você, Gustavo, a rigor não existe inclusão. Escolher o que pode e o que não pode ser incluído não só reforça a exclusão, como também causa conflitos dentro da própria comunidade no espectro e de pais de filhos no espectro. Já que temos tão poucas chance de incluir, essas chances são motivo até de desavenças, como conta uma amiga que levou o filho autista adolescente para assistir a um jogo de futebol na sala exclusiva para autistas e foi hostilizadas por mães que estavam lá com seus filhos crianças.
Minha pergunta para todos os trabalhos sobre TEA e Semiótica, repito para você:

A função da veridicção é muito profícua para tratar de questões como o masking no autismo. Esclarecendo para quem eventualmente não souber, o Masking é um mascaramento, disfarce de características do TEA, uma estratégia que todos os autistas, especialmente mulheres e identificados como elas, usam para se defender de um mundo que só vai reconhecê-los quanto mais típicos se mostrarem. É o contrário da inclusão, não? Mas parece-me que, com moderação e muita consciência, é uma estratégia que pode ajudar em muitos momentos. O que você acha disso?

Um excelente evento para todes nós!

Ana Cristina
Em resposta à Ana Cristina Fricke Matte

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Gustavo Oliveira Sousa Silva -
Olá, professora! A função de veridicção — ou seja, o processo de tornar visíveis e reconhecíveis certas verdades sobre si e sobre o mundo — é mesmo muito útil para pensar o masking no autismo. O masking, como você explicou, é uma forma de disfarçar ou camuflar características do TEA para se adequar a expectativas neurotípicas. De fato, ele se opõe ao ideal de inclusão, que pressupõe acolher a diferença sem exigir adaptação forçada.

Mas, como você pontua, o masking pode ser também uma estratégia de sobrevivência social em certos contextos, principalmente em ambientes hostis ou pouco abertos à neurodiversidade. O importante talvez seja o autista ter consciência de que pode escolher usar ou não essa estratégia, e que o peso dessa decisão não deveria recair somente sobre a pessoa autista, mas sobre a necessidade de construirmos espaços mais inclusivos e acolhedores.

Assim, a veridicção nos ajuda a nomear, expor e politizar o fenômeno do masking, ao mesmo tempo em que reconhece a agência de cada pessoa em escolher como navegar um mundo ainda pouco sensível às diferenças.
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Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Thais Faria -

Boa tarde, a todos!

Meu nome é Thais Faria e sou a coordenadora de mesa deste trabalho. Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor quanto ao tema, uma vez que é de grande pertinência atualmente, principalmente, no ambiente escolar.

Por isso deixo a minha pergunta: você acha que os profissionais da educação são preparados de fato para receber um aluno autista?

Em resposta à Thais Faria

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Gustavo Oliveira Sousa Silva -
Oi, Thaís!

Infelizmente, de modo geral, não. Muitos profissionais da educação ainda não recebem formação suficiente — teórica e prática — para compreender a neurodiversidade e lidar com as especificidades do autismo na sala de aula. Há avanços, é verdade, mas o preparo costuma se restringir a cursos pontuais ou orientações gerais, sem um acompanhamento real do dia a dia escolar e sem abrir espaço para o diálogo com as próprias pessoas autistas e suas famílias.

Ou seja, falta uma formação mais sólida, contínua e construída coletivamente, que permita aos professores não só “acolher” o aluno autista, mas criar práticas pedagógicas que respeitem e valorizem suas formas de aprender e de estar no mundo. Sem isso, a inclusão tende a ficar apenas no discurso.
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Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Thallita Emanuella de Jesus Freitas -
Oi Gustavo, que trabalho necessário e sensível! A forma como você usou a Semiótica da Veridicção pra discutir a inclusão foi muito potente e ainda propôs uma reflexão mais humana e realista sobre o que é, de fato, incluir. A crítica à seletividade e a defesa de uma aceitação incondicional são pontos fortíssimos que ficaram muito bem desenvolvidos. Também curti muito o espaço que você deu pra pensar em novas investigações e caminhos futuros. Fiquei pensando: você chegou a encontrar algum exemplo de prática inclusiva que já se aproxime dessa ideia de aceitação plena? Seria massa ver isso ganhando forma na realidade também. Parabéns pelo trabalho!
Em resposta à Thallita Emanuella de Jesus Freitas

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Gustavo Oliveira Sousa Silva -
Ei, Thallita! Obrigado pelo seu comentário. Sim, há práticas inclusivas que caminham nessa direção — embora, honestamente, ainda sejam exceções e, muitas vezes, dependam de iniciativas individuais de professores ou de projetos pontuais, não de políticas estruturais consolidadas.

Existem escolas e educadores que, por exemplo, trabalham ativamente com a construção de ambientes sensoriais adaptáveis, flexibilizam currículos e avaliações, e criam espaços de escuta real para o aluno autista e sua família. Também há projetos que formam professores em parceria com associações de pessoas autistas, para que a perspectiva da neurodiversidade venha de quem realmente a vive.

Ainda assim, na maior parte das redes de ensino, falta investimento, formação continuada e principalmente uma mudança cultural profunda para que a aceitação plena — isto é, não apenas “tolerar” ou “adaptar”, mas realmente valorizar as diferenças — seja regra e não exceção.

Obrigado pelo incentivo — é uma discussão que precisa muito ganhar cada vez mais espaço!
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Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Isadora Baroni Santos -
Achei o artigo muito necessário e real. Ele fala de algo que a gente percebe, mas muitas vezes não sabe como nomear: a inclusão que só vale pra quem “não dá trabalho”. A crítica à preferência por autistas de nível 1 mostra como, mesmo com tantos discursos sobre diversidade, ainda existe uma exclusão disfarçada. A análise do post da @carolsouza_autistando traz isso com muita sensibilidade e coragem. Me tocou especialmente a parte que fala sobre a aceitação incondicional — porque é isso que falta. Incluir de verdade é aceitar todo mundo, do jeito que é.
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Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Isadora Alves dos Santos -
Oi Gustavo, parabéns pelo artigo! A forma como você articula a análise discursiva da postagem com a reflexão crítica sobre a seletividade da inclusão no espectro autista é extremamente relevante e necessária. Achei muito potente a abordagem da veridicção para mostrar como as “verdades” sobre o autismo são construídas socialmente especialmente quando revelam preferências por sujeitos que exigem menos adaptações. Me chamou atenção a crítica à ideia de inclusão condicional, que infelizmente ainda é muito presente. Você acredita que esse tipo de hierarquização se manifesta também em políticas públicas ou está mais restrito ao senso comum e às práticas escolares?
Em resposta à Isadora Alves dos Santos

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Gustavo Oliveira Sousa Silva -
Oi! Muito obrigado pela leitura atenta e pelo comentário tão generoso. Concordo completamente contigo: a inclusão condicional — que prioriza sujeitos que “se adaptam melhor” ou que “dão menos trabalho” — não é apenas uma questão de senso comum ou de práticas escolares, mas também aparece em políticas públicas.

Muitas vezes, essas políticas partem de uma visão capacitista de “inclusão”, que coloca o ônus da adaptação no próprio sujeito autista, ao invés de pensar transformações estruturais no ambiente e na cultura escolar. Ou seja, a hierarquização que legitima apenas certas formas de neurodiversidade “aceitáveis” acaba se perpetuando também no discurso oficial, mesmo quando se fala em inclusão.

Por isso, acredito que uma crítica mais profunda, como a que você traz, é fundamental para que possamos pensar políticas que realmente questionem as bases do que entendemos como normalidade, produtividade e adequação. Obrigado de novo pelo retorno!
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Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Kristine Batista Soares -
Olá, Gustavo!

Parabéns pelo trabalho, ele traz uma reflexão muito necessária e sensível sobre a forma como a sociedade enxerga (ou muitas vezes não enxerga) as diferentes manifestações do espectro autista. Confesso que não sou da área e fiquei com uma dúvida, na prática, por que você acha que existe essa tendência contínua de inclusão seletiva, que prioriza pessoas com autismo de nível 1 e acaba invisibilizando aquelas que precisam de mais suporte?

Achei muito importante vocês destacarem esse ponto, me fez repensar o quanto ainda precisamos ampliar o debate sobre inclusão de verdade.

Abraços,
Kristine Batista Soares
(coautora do artigo “Lobby e legística”)
Em resposta à Kristine Batista Soares

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Gustavo Oliveira Sousa Silva -
Oi! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário tão cuidadoso. Acho que essa tendência de inclusão seletiva acontece, em parte, porque ainda vivemos numa lógica social que valoriza a produtividade, a autonomia e a adaptação ao que é considerado “normal”.

Pessoas autistas que exigem menos adaptações ou que têm formas de interação mais próximas do padrão neurotípico acabam sendo vistas como mais “fáceis” de incluir — e, assim, são mais aceitas. Já aquelas que precisam de apoio mais intenso, ou cujas formas de comunicação e comportamento fogem totalmente do que a escola ou a sociedade espera, seguem sendo invisibilizadas ou tratadas como “problema”.

Isso revela o quanto a inclusão ainda é pensada dentro de um modelo de adequação, e não de transformação real dos espaços e das relações. Seu comentário toca num ponto essencial: precisamos ampliar muito o debate para que a inclusão seja, de fato, incondicional e para todos. Obrigado por trazer essa questão!
Em resposta à Primeiro post

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Leidiane Pereira de Almeida -
Achei o trabalho muito necessário! Ele mostra como ainda existe muita seletividade quando se fala em incluir pessoas autistas, principalmente quem precisa de mais suporte. Gostei do jeito como o autor trouxe essa crítica.
Em resposta à Leidiane Pereira de Almeida

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Gustavo Oliveira Sousa Silva -
Muito obrigado pela leitura e pelo retorno tão generoso! Fico feliz que o trabalho tenha contribuído para evidenciar essa seletividade, que infelizmente ainda está muito presente em discursos e práticas de inclusão.
Em resposta à Primeiro post

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Maria Eduarda Gomes Ribeiro -
O artigo está excelente! A forma como o autor aborda a inclusão no espectro autista é sensível, crítica e profundamente necessária. A análise da seletividade nas práticas inclusivas e a aplicação da Semiótica Discursiva enriquecem a discussão com profundidade teórica. Parabéns pelo trabalho claro, bem estruturado e com um posicionamento comprometido com a diversidade e a justiça social!
Em resposta à Maria Eduarda Gomes Ribeiro

Re: A Invisibilidade da Diferença. Autoria: Gustavo Oliveira Sousa Silva

por Gustavo Oliveira Sousa Silva -
Muito obrigado pelo comentário tão generoso e encorajador! Fico muito feliz em saber que o trabalho conseguiu articular a teoria com uma reflexão crítica sobre a inclusão e suas contradições, sem perder a sensibilidade que o tema exige. Seu retorno fortalece ainda mais a importância de manter esse debate vivo e comprometido com a diversidade e a justiça social.