Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

Número de respostas: 16

VERIDICÇÃO E GÊNERO

A CONSTRUÇÃO SEMIÓTICA DA ‘VERDADE’ NO DIAGNÓSTICO DE TEA

Autores

•     Lívia Lima Teixeira

Palavras-chave:

Semiótica Discursiva, TEA, Diagnóstico, gênero, veridicção

Resumo

Este artigo propõe uma análise semiótica de um texto publicado pela Mídia NINJA sobre o diagnóstico tardio em mulheres autistas, buscando compreender como a verdade sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) em mulheres é socialmente construída e frequentemente negada. Utilizando os conceitos de dialogia, quadro de valores e função de veridicção, a análise investiga a tensão entre o que se é e o que se parece ser, mostrando como a narrativa social muitas vezes invalida a existência dessas mulheres.

PDF: leia o texto completo aqui

Coordenadores de mesa: 

  • professor Ana Matte
  • Mesa: Thais Faria

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Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Ana Cristina Fricke Matte -
Lívia,
Este é o melhor momento da nossa disciplina, quando vocês podem conversar com outras pessoas sobre o trabalho que fez, não ficando restritos à minha avaliação.
Semiótica é minha melhor praia e fico contente que tenha feito bom proveito da disciplina, só acho importante que, caso você tenha interesse em aprofundar seus estudos, reveja esses conceitos relativos à função veridictória. O que você considerou mais difícil de levar do estudo teórico à prática na análise desse artigo?
Um ótimo evento!
Ana
Em resposta à Ana Cristina Fricke Matte

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Livia Lima Teixeira -
Olá Ana! Muito obrigada pelo feedback e pela oportunidade. Fico feliz que tenha gostado do meu trabalho.
A maior dificuldade ao aplicar a teoria na prática foi a sutil distinção entre "segredo" e "mentira" nos diagnósticos de TEA em mulheres. Teoricamente, "segredo" é o que é, mas não parece ser, e "mentira" é o que não é e não parece ser.
Na prática, vi que o autismo feminino "é", mas muitas vezes "não parece ser" para os profissionais, por conta dos estereótipos. Isso resulta em subdiagnósticos ou diagnósticos tardios. O desafio foi diferenciar quando o autismo estava apenas "oculto" (segredo) ou quando a atribuição a outras condições chegava a criar uma "mentira" sobre sua inexistência. Essa linha é bem tênue, e a influência do gênero complica ainda mais.
Agradeço muito sua observação. Certamente vou aprofundar esses conceitos!
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Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Thais Faria -
Boa tarde, a todos!

Meu nome é Thais Faria e sou a coordenadora de mesa deste trabalho. Primeiramente, gostaria de parabenizar a autora quanto ao tema, uma vez que é de grande pertinência, principalmente, por ser um assunto tão explanado e pouco se sabe sobre.

Por isso deixo a minha pergunta: Quais são os sintomas do TEA mais evidentes de uma mulher adulta ?
Em resposta à Thais Faria

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Livia Lima Teixeira -
Boa tarde, Thais! Muito obrigada pelas suas palavras, fico feliz que tenha achado o tema tão importante e pertinente. Sua pergunta é crucial, pois os sintomas do Transtorno do Espectro Autista (TEA) em mulheres adultas podem ser bem desafiadores de identificar, justamente porque frequentemente se manifestam de forma atípica em comparação com os homens e são muitas vezes camuflados. Pelo que investiguei e pelos depoimentos que analisei , os sintomas mais evidentes em mulheres, mas que frequentemente são mal interpretados ou não reconhecidos, incluem as diferenças na comunicação social, que podem ser mais sutis, e os padrões restritos e repetitivos de comportamento e interesses, que tendem a ser mais internalizados ou direcionados a temas socialmente mais aceitáveis. As questões sensoriais também são bem presentes, como a dificuldade em lidar com ambientes muito estimulantes (ex: multidões), mas são comumente diagnosticadas apenas como ansiedade. É muito comum que elas recebam diagnósticos anteriores de condições como ansiedade, depressão, TOC ou TDAH, que acabam mascarando o autismo. Essa habilidade de camuflar ou imitar comportamentos neurotípicos ("masking") é uma característica forte em mulheres autistas, o que pode atrasar muito o diagnóstico. Por isso, a jornada diagnóstica de muitas é marcada por uma série de diagnósticos que não capturam a condição primária, até que finalmente chegam ao TEA, muitas vezes na vida adulta. Em resumo, os sintomas em mulheres adultas tendem a ser mais internalizados, camuflados e frequentemente confundidos com outras condições de saúde mental, o que torna o processo diagnóstico longo e complexo.
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Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Beatriz Monteiro de Andrade Dias -
Muito legal o trabalho de vocês, achei o tema muito interessante! E como você acha que os profissionais de saúde poderiam ser mais preparados para reconhecer essas camadas dos sinais do TEA em mulheres, sem cair em rótulos ou generalizações?
Em resposta à Beatriz Monteiro de Andrade Dias

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Livia Lima Teixeira -
Muito obrigada! Fico feliz que tenha achado o tema interessante. Penso que para os profissionais de saúde reconhecerem com mais sensibilidade as nuances do TEA em mulheres, sem se prenderem a rótulos, seria fundamental uma formação que abrace a semiótica da veridicção e as complexidades do gênero. Isso os ajudaria a entender que o autismo feminino, com frequência, "é" uma verdade profunda e existente , mas que por vezes "não parece ser" aos olhos que ainda se pautam por estereótipos , levando a diagnósticos que se revelam "falsos" como ansiedade ou depressão.
Analisar os depoimentos reais de mulheres autistas pode ser uma forma poderosa de sensibilizar, permitindo que compreendam o esforço da camuflagem ("masking") e as formas mais sutis com que os sintomas se manifestam. O essencial, para mim, é desenvolver uma escuta mais empática e curiosa, que valorize a singularidade da experiência de cada paciente e que vá além das aparências superficiais.
Em resposta à Primeiro post

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Julia Rodarte Mendonca -
Oi, Lívia!
Parabéns pelo seu trabalho! Achei muito interessante como você usou o conceito de veridicção para analisar os relatos das mulheres autistas. A forma como você mostrou que o diagnóstico muitas vezes permanece como “segredo”, escondido atrás de outros rótulos como ansiedade ou depressão, foi muito clara e forte.
A sua escolha de usar depoimentos espontâneos do Reddit trouxe uma perspectiva muito rica, porque dá voz às próprias mulheres que vivem esse processo de apagamento. Fiquei pensando: você acredita que esse “parecer” imposto às mulheres autistas, por conta dos estereótipos de gênero, também influencia a forma como elas se veem e se reconhecem ao longo da vida?
Seu texto me fez refletir muito sobre como o discurso clínico e social anda lado a lado na produção dessas “verdades”. Obrigada pela leitura tão potente!
Júlia.
Em resposta à Julia Rodarte Mendonca

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Livia Lima Teixeira -
Olá, Júlia! Muito obrigada pelas suas palavras tão carinhosas e por essa leitura tão profunda do meu trabalho. Fico muito feliz que a abordagem da veridicção e o uso dos depoimentos tenham ressoado em você.
Sua pergunta é extremamente pertinente e, sim, acredito profundamente que o "parecer" imposto pelos estereótipos de gênero influencia de forma significativa a maneira como as mulheres autistas se veem e se reconhecem ao longo da vida. Esse esforço constante de se encaixar, de "mascarar" o que são para corresponder a uma expectativa social de feminilidade, muitas vezes as leva a internalizar uma "não-verdade" sobre si mesmas. Elas crescem achando que algo está errado com elas, sem compreender a raiz de suas diferenças, e isso pode gerar uma confusão de identidade e um sofrimento imenso, antes mesmo de terem acesso ao diagnóstico correto. Essa vivência da "não-verdade" na própria percepção é um dos pontos mais tocantes que emergem dos relatos, e sua reflexão é muito valiosa!
Em resposta à Primeiro post

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Michele Stefany Muniz Burmann -
Um conjunto de análises bem conscientes e práticos. O texto tem uma fluidez ótima e clara, uma abordagem bem objetiva de um tema em alta dentro das pesquisas sobre TEA. O diagnóstico de TEA em mulheres é muito complexo devido à alta habilidade de masking do gênero vinculado aos estereótipos socialmente ligados a mulheres. É de suma importância entendermos e observarmos a manifestação do espectro por meio da ótica da mulher com TEA para que possamos perceber os empecilhos entre os sinais e o diagnóstico adequado e o uso da semiótica discursiva nesta análise mostra camadas mais profundas implícitas que impedem os diagnósticos adequados de primeira e assim aumenta os diagnósticos tardios para mulheres do espectro.
Porém, acho importante destacar uma observação sobre o depoimento B, acredito que TDAH e TOC não se enquadrariam como diagnóstico falso já que ambos vem depois de “diagnóstico oficial” e hat-trick é também uma expressão que significa tríplice o que também indica que os três (TEA, TDAH E TOC) viram de uma única vez como um conjunto só, até porque, tendo em mente que não é sempre mas acontece, é comum que esses transtornos apareçam juntos. Isso acontece por sobreposição de sintomas e fatores neurobiológicos compartilhados.
Enfim, apesar do adendo, a pesquisa está excelente, muito bem estruturada, fundamentada e coesa. Parabéns Lívia, arrasou!
Em resposta à Michele Stefany Muniz Burmann

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Livia Lima Teixeira -
Muito obrigada pelas suas palavras, Michele! Fico muito feliz que tenha achado o trabalho fluido, claro e pertinente. É um tema que realmente me toca profundamente, e sua leitura sobre a complexidade do diagnóstico e o papel da semiótica discursiva capturou muito bem a essência da pesquisa.
Agradeço imensamente sua observação sobre o depoimento B, TDAH e TOC. Sua análise é muito perspicaz e valorizo demais esse adendo. Concordo que a comorbidade desses transtornos é comum, e minha intenção ao usar o termo "falso" foi mais no sentido semiótico de como esses diagnósticos "parecem ser" a verdade central, mas acabam por obscurecer o "ser" autista, que seria a condição primária por trás de várias dessas manifestações. Mas sua colocação enriquece muito a discussão e me faz refletir ainda mais sobre as nuances dessas intersecções.
Mais uma vez, muito obrigada pelo seu feedback tão atencioso e pelas felicitações!
Em resposta à Primeiro post

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Isadora Alves dos Santos -
Olá Lívia, seu trabalho é extremamente potente e necessário! A articulação entre veridicção, semiótica e gênero trouxe uma nova lente para pensar o diagnóstico do autismo em mulheres, e os depoimentos analisados tornam a discussão ainda mais concreta e tocante. Fiquei refletindo sobre uma pergunta: como você imagina que essa abordagem pode influenciar a formação de profissionais da saúde e da educação para que estejam mais atentos aos vieses que afetam o diagnóstico de meninas e mulheres autistas?
Em resposta à Isadora Alves dos Santos

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Livia Lima Teixeira -
Muito obrigada pelas suas palavras! Fico muito feliz que a abordagem tenha ressoado.
Sobre como isso pode influenciar a formação de profissionais de saúde e educação, penso que o ponto principal é a consciência sobre os vieses de gênero. A semiótica da veridicção nos mostra que o diagnóstico não é neutro; o que "parece ser" (tipo ansiedade ou timidez) pode esconder o que "é" (o autismo). Isso nos ajuda a entender por que o "falso" e o "segredo" são tão comuns no diagnóstico feminino, porque o autismo "é" mas "não parece ser", levando a subdiagnósticos e diagnósticos tardios.
Para a formação, isso significa discutir a veridicção no TEA feminino, analisando depoimentos reais para que futuros profissionais entendam as experiências de subdiagnóstico e como seus próprios vieses afetam a interpretação. O objetivo é incentivar uma escuta crítica, não se contentar com a primeira impressão, mas ir a fundo para entender o "ser" da condição. É fundamental desconstruir estereótipos, abordando ativamente como os estereótipos de gênero influenciam a percepção e o "masking". E, por fim, valorizar a narrativa da paciente, reconhecendo que a experiência da mulher é crucial na busca pela "verdade" do diagnóstico. Basicamente, é sobre dar ferramentas para que os profissionais questionem esses vieses e atuem de forma mais justa e inclusiva.
Em resposta à Primeiro post

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Maria Isabela Bertolini Viol -
O texto mostra como estereótipos de gênero dificultam o reconhecimento do autismo em mulheres, que muitas vezes são diagnosticadas tardiamente ou de forma errada. Usando a teoria da veridicção, a autora analisa depoimentos reais e mostra como o autismo feminino acaba sendo invisibilizado, tratado como “timidez” ou “ansiedade”. Essa análise é importante porque propõe uma forma mais crítica de olhar para o diagnóstico e defende práticas mais justas e sensíveis às diferenças de gênero.
Em resposta à Maria Isabela Bertolini Viol

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Livia Lima Teixeira -
Olá, Maria Isabela! Muito obrigada pelas suas palavras tão atentas e sensíveis. Fico imensamente feliz que você tenha captado a essência do trabalho e o ponto central de como os estereótipos de gênero e a veridicção invisibilizam o autismo em mulheres, transformando o que "é" em "parecer" outra coisa. É exatamente essa compreensão que buscamos para que as práticas diagnósticas sejam mais justas e acolhedoras. Agradeço de coração sua leitura tão perspicaz!
Em resposta à Primeiro post

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Maria Eduarda Gomes Ribeiro -
O artigo traz uma reflexão poderosa e muito bem construída sobre os efeitos dos estereótipos de gênero no diagnóstico de autismo em mulheres. A autora articula teoria e prática com habilidade, usando relatos reais para mostrar como o “parecer” frequentemente invisibiliza o “ser” no caso do autismo feminino. É uma leitura sensível, crítica e extremamente relevante para repensarmos o olhar clínico e social sobre o tema. Excelente trabalho!
Em resposta à Maria Eduarda Gomes Ribeiro

Re: Veridicção e Gênero. Autoria: Lívia Lima Teixeira

por Livia Lima Teixeira -
Olá, Maria Eduarda! Muito obrigada pelas suas palavras tão generosas e pela leitura tão atenta e profunda do meu trabalho. Fico imensamente feliz que a reflexão sobre os estereótipos de gênero e como o "parecer" muitas vezes invisibiliza o "ser" no autismo feminino tenha ressoado em você. Seu reconhecimento da articulação entre teoria e prática, e da relevância crítica e sensível do texto, é o maior presente. Agradeço de coração por entender a urgência de repensarmos nosso olhar.