21/Outubro: Semióticas do SEMIOTEC

registro 21/outubro

Semióticas do SEMIOTEC: log da conferência de Daniervelin Pereira, Conrado Mendes e Ana Matte para o STIS


21 de outubro de 2011/ sala #evidosol-1 da rede Freenode de IRC

 

[14:08] [+AnaMatte] boa tarde, pessoal, sou a Ana Cristina fricke Matte, professora da UFMG e coordenadora do lab SEMIOTEC e gostaria de abrir a conferência do STIS de hoje.

[14:09] [+AnaMatte] Esta conferência do STIS tem um caráter diferenciado:

[14:09] [+AnaMatte] estamos trazendo para cá alguns membros do grupo do CNPq que se formaram conosco e hoje estão continuando sua caminhada fora da UFMG:

[14:09] [+AnaMatte] o Conrado Mendes, que está fazendo doutorado em semiótica na USP sob orientação do Waldir Beividas e, nesse momento, está num doutorado-sanduíche na França

[14:09] [+AnaMatte] oi, conradomendes

[14:09] [+conradomendes] ola!

[14:09] [+AnaMatte] e a Daniervelin Pereira, que está fazendo seu doutorado na USP orientada pela Norma Discini.

[14:10] [+AnaMatte] oi, Dani_Re

[14:10] [+Dani_Re] oi

[14:10] [+AnaMatte] O SEMIOTEC é, hoje, a concretização de atividades que promovemos na UFMG desde 2005, relacionadas à semiótica e à tecnologia.

[14:10] [+AnaMatte] O grupo inicialmente estava registrado no CNPq como SEMIOFON, pois o foco principal dos trabalhos era o campo interdisciplinar entre fonética acústica e semiótica, área em que o Conrado desenvolveu seu mestrado.

[14:11] [+AnaMatte] Com criação da linha de pesquisa em Linguagem e Tecnologia e minha saída da linha de pesquisa em Fonética e Fonologia, o grupo passou a trabalhar com EAD e letramento digital e passou a focalizar a comunicação na web, em comunidades, redes etc, sob a perspectiva da semiótica.

[14:11] [+AnaMatte] A Revista Texto Livre: Linguagem e Tecnologia também reflete essas mudanças (hhttp://www.textolivre.net).

[14:11] [+AnaMatte] opa

[14:12] [+AnaMatte] http://www.textolivre.org

[14:12] [+AnaMatte] http://www.textolivre.net

[14:12] [+AnaMatte] sorriso

[14:12] [+AnaMatte] Outro fator importantíssimo para a mudança de rumos foi o crescimento impressionante do grupo Texto Livre (http://www.textolivre.org), cujas atividades relacionando ensino e comunidades de software livre com produção de documentação e desenvolvimento de software cada vez mais são uma referência no cenário nacional desses campos interdisciplinares da educação e do software livre.

[14:12] [+AnaMatte] Por este motivo, este ano mudamos o nome do grupo no CNPq para Texto Livre: semiótica e Tecnologia (http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=0333801U4BKW6D), e passamos a investir na oficialização do SEMIOTEC, com apoio direto da diretoria da FALE/UFMG.

[14:13] [+AnaMatte] Em agosto deste ano, o grupo fez uma reavaliação de seus projetos (http://textolivre.org/wiki/Projetos_do_Texto_Livre), da qual nasceu um projeto maior, integrando o GT de Educação do FISL, SLEducacional, Educandow e alunos do ELCM/UFMG, o Portal do Professor Livre na Rede

[14:13] [+AnaMatte] http://textolivre.org/wiki/Portal_do_Professor_Livre_Na_Rede

[14:13] [+AnaMatte] Também é importante citar o comprometimento dos tutores e monitores da disciplina online de Oficina de Leitura e Produção de Textos, da UFMG, com a implementação da metodologia Texto Livre junto aos 500 alunos semestralmente matriculados. Estamos com um evento em andamento: http://ueadsl.textolivre.pro.br

[14:14] [+AnaMatte] O SEMIOTEC, portanto, é hoje palco de inovação nas três frentes de atuação universitária: o ensino, a pesquisa e a extensão.

[14:14] [+AnaMatte] O STIS foi criado para que todos os integrantes do grupo e demais interessados pudessem desfrutar da pluralidade teórica que ferve no nosso caldeirão de ideias, pluralidade que tem limentado mesu sonhos e que acho muito importante compartilhar com vocês.

[14:14] [+AnaMatte] STIS = Seminários Teóricos Interdisciplinares do SEMIOTEC

[14:14] [+AnaMatte] bom, acho que consegui dar uma visão do todo.

[14:15] [+AnaMatte] Hoje é dia de ouvir quem chegou aqui graduando e saiu mestre - e volta para este debate como doutorando. Por isso, passo a palavra primeiro para a Dani_Re e depois para o Conrado. Cada um tem 20 minutos para apresentar, depois abrimos para a discussão.

[14:15] [+AnaMatte] Dani_Re: sua vez :D

[14:15] [+Dani_Re] ok, boa tarde

[14:15] [+AnaMatte] boa tarde!

[14:15] [+Dani_Re] agradeço a Ana pelo convite, é sempre bom ter esse espaço de compartilhamento das nossas pesquisas

[14:16] [+AnaMatte] é um prazer recebê-la, Dani_Re

[14:16] [+Dani_Re] quando a Ana me convidou para essa conversa, eu pensei logo nos primeiros passos que demos no grupo UFMGES lá na Letras

[14:16] [+Dani_Re] sorriso

[14:16] [+AnaMatte] sorriso

[14:16] [+AnaMatte] bem lembrado

[14:16] [+Dani_Re] entrei no grupo de estudos semióticos da UFMG quando ele já era interdisciplinar, porque envolvia estudos da canção e da fonética para análise de narrativas infantis

[14:16] [+Dani_Re] fazíamos encontros para discutir textos teóricos e as análises feitas individualmente

[14:16] [+Dani_Re] e confrontar os resultados

[14:16] [+AnaMatte] isso foi em 2004

[14:16] [+Dani_Re] pouco tempo depois, pela experiência em disciplinas semipresenciais oferecidas pela Ana comecei a pesquisar sites com atividades didáticas para ensino de português pela semiótica

[14:17] [+Dani_Re] sim, logo quando vc chegou à ufmg

[14:17] [+Dani_Re] (no início ainda nos reuníamos nos laboratórios da Letras, porque o acesso a computador e internet fora da faculdade era bem restrito ainda, ne, Ana?)

[14:17] [+AnaMatte] é sim, Dani_Re , era bem mais complicado

[14:18] [+Dani_Re] esse objeto de pesquisa estava relacionado às experiências de trabalho com a documentação de Software Livre

[14:18] [+Dani_Re] como alunos voluntários, fazíamos tradução e revisão de textos que serviam, além da divulgação de informações ao público interessado, para aprendizado das questões inerentes à área de Letras

[14:18] [+Dani_Re] nessa pesquisa dos sites com atividades didáticas, as análises revelaram essencialmente que os sites pareciam inovadores (os argumentos usados para adesão do público levavam a essa crença)

[14:18] [+Dani_Re] mas não eram de fato, já que a estrutura fechada das perguntas e respostas não permitiam um fazer diferente dos já apresentados pelo manuais impressos

[14:19] [+Dani_Re] foram propostos, então, alguns softwares didáticos que tinham como objetivo mudar a relação do sujeito com os exercícios, que procurariam o percurso da reflexão e não o da automatização

[14:19] [+Dani_Re] 3 softwares livres surgiram dessas reflexões coletivas: Crases, Vírgulas e Linha do Texto, que fazem parte do projeto Texto Livre (talvez alguns já conheçam)

[14:19] [+Dani_Re] bom, então veio a pesquisa de mestrado, quando relacionei o ensino de português à semiótica num projeto que buscou investigar o discurso dos professores sobre sua prática em cursos online

[14:20] [+Dani_Re] pela análise semiótica de 10 questionários respondidos e de 20 atividades didáticas, identificamos um sistema educacional canônico, digamos assim, que destaca uma relação marcadamente assimétrica entre a escola e o professor

[14:20] [+Dani_Re] os questionários foram respondidos por professores de ensino superior

[14:20] [+Dani_Re] eles demonstraram ter poucas opções além de transmitir os valores propostos pela instituição a seus alunos

[14:21] [+Dani_Re] as experiências ainda pareciam muito focadas na tentativa de reconstituir as práticas presenciais no ambiente digital, até pela pressão da escola

[14:21] [+Dani_Re] e também da instância superior, o MEC, para comparar as duas práticas

[14:21] [+Dani_Re] no doutorado, procuro verificar como se dá essa interação entre professor e alunos na prática da aula para depreender os mecanismos de construção do sentido em ambiente digital

[14:22] [+Dani_Re] acompanhei 2 cursos livres totalmente online e selecionei 3 interações em chat e 3 interações em fórum em cada 1 desses cursos

[14:22] [+Dani_Re] esses cursos já apresentam uma perspectiva bem diferente do que emergia nos relatos investigados no mestrado, o que demanda um olhar diferenciado

[14:23] [+Dani_Re] tenho feito, então, a análise semiótica desses enunciados para entender os modos de presença em cada gênero, levando em conta que o gênero tem um estilo próprio (segundo a concepção de Bakhtin) e os sujeitos também manifestam uma maneira peculiar de utilizá-los, muitas vezes flexibilizando sua estrutura de acordo com os objetivos

[14:23] [+Dani_Re] o chat educacional, por exemplo, às vezes é estilizado como aula, às vezes, como bate-papo e tira-dúvidas, o que pode ser percebido na análise de uma totalidade de enunciados

[14:23] [+Dani_Re] à moda de aula, ele tem ora uma inclinação mais teórica ora mais lúdica, dependendo do modo de condução dos sujeitos

[14:24] [+Dani_Re] tenho privilegiado nas análises um olhar pela semiótica tensiva (partindo das bases greimasianas sempre), porque me permite modular mais as diferentes relações estabelecidas entre sujeitos, entre práticas, entre espaços etc

[14:24] [+Dani_Re] me permite ainda considerar os ajustamentos sensíveis, que não estavam presentes nas minhas análises antes, não porque não existissem ou não fossem importantes, mas porque os instrumentos teóricos mais recentes propõem formas de perceber as entidades como mais graduais e menos categóricas

[14:25] [+Dani_Re] paralelamente, algumas reflexões na linha da sociossemiótica, lideradas por Landowski, contribuem para pensar nas formas de interação propostas em cada curso

[14:25] [+Dani_Re] cujo discurso indica a negação de uma interação mais programada para uma mais ajustada, de acordo com os valores de dinamicidade e flexibilidade que permeiam toda a discussão dos sujeitos

[14:26] [+Dani_Re] é muito mais do que uma busca de objetos do conhecimento

[14:26] [+Dani_Re] próprios do curso

[14:27] [+Dani_Re] mas a busca pela relação intersubjetiva e o ensino e aprendizagem q surgem no caminho

[14:27] [+Dani_Re] os próximos passos serão dados no sentido de entender melhor as estratégias de ocupação do espaço digital (inclusive no diálogo com as práticas do presencial)

[14:27] [+Dani_Re] também me interessa entender as coerções do ambiente digital como contágio para o gênero, já que o gênero digital não imita os já existentes (como a aula, a conversa), mas pressupõe nova composição, nova forma de tematizar e novo estilo

[14:28] [+Dani_Re] todas essas questões: a abertura do gênero à adequação da prática, a sensibilidade nas interações, a reconfiguração de modos de ensino e de aprendizagem de acordo com o perfil dos sujeitos, entre outras

[14:28] [+Dani_Re] apontam para um lugar de limiar ocupado pela prática educativa digital, dada na mistura entre esferas de comunicação e na mobilidade que encontramos enquanto valor nos discursos analisados

[14:28] [+Dani_Re] e esse lugar de limiar, pela própria complexidade envolvida, é aquele que nos deixa “de saia justa”, porque não dá só para aplicar conceitos teóricos, às vezes é preciso fazer a teoria “ouvir” o objeto e suas peculiaridades...

[14:29] [+AnaMatte] sorriso

[14:29] [+Dani_Re] daí a importância da interdisciplinaridade

[14:29] [+Dani_Re] bom, resumindo, é esse o percurso que tenho seguido desde o encontro com a semiótica dentro do que hoje conhecemos como grupo Semiotec

[14:29] [+Dani_Re] como deu para perceber, ainda falta muito "chão" para caminhar...

[14:29] [+Dani_Re] agradeço pela atenção e estou aberta para dúvidas, sugestões...

[14:30] [+AnaMatte] muito legal, Dani_Re , estou cheia das perguntas

[14:30] [+AnaMatte] mas vamos ouvir o conradomendes primeiro, tudo bem?

[14:30] [+Dani_Re] ótimo

[14:30] [+AnaMatte] obrigada, Dani_Re! entusiasmante!

[14:30] [+Dani_Re] sorriso

[14:30] [+AnaMatte] conradomendes: a palavra está contigo!

[14:31] [+conradomendes] Boa tarde a todos!

[14:31] [+AnaMatte] boa tarde

[14:31] [+conradomendes] Em primeiro lugar, gostaria de agradecer à Prof. Ana Cristina Fricke Matte pelo convite. Para mim, é uma alegria dividir esta mesa com você e com a colega de tantos anos, Daniervelin Pereira.

[14:31] [+Dani_Re] ;)

[14:31] [+AnaMatte] é uma prazer, conradomendes sorriso

[14:31] [+conradomendes] É com grande satisfação também que venho, ainda que virtualmente, à UFMG, instituição com um significado muito especial para mim,

[14:31] [+conradomendes] onde fiz minha graduação em Comunicação Social e cursei o mestrado em Estudos Linguísticos, sob orientação da Ana Cristina.

[14:32] [+conradomendes] Na UFMG, foi também onde aprendi meus primeiros passos em semiótica! Passos fundamentais que me levaram ao estudo da significação, esse universo apaixonante.

[14:32] [+conradomendes] Devo isso, sobretudo, à Ana e à Glaucia Lara.

[14:32] [+AnaMatte] ah, mérito seu

[14:32] [+conradomendes] Hoje curso doutorado na USP, sob orientação do prof. Waldir Beividas, e estou durante este o ano em Paris, em estágio doutoral na Université Paris 8, sob orientação do Prof. Denis Bertrand.

[14:32] [+conradomendes] Vou contar um pouco da minha trajetória.

[14:32] [+conradomendes] Como me formei em Comunicação Social/Jornalismo, sempre me interessei pela análise de produtos midiáticos.

[14:33] [+conradomendes] No mestrado, analisei uma semana do Jornal Nacional, noticiário exibido pela Rede Globo.

[14:33] [+conradomendes] A análise que fizemos levou em consideração tanto o plano do conteúdo, principalmente a partir do nível discursivo, (do qual vou daqui a pouco) ...

[14:33] [+conradomendes] ... como também o plano da expressão da fala, por meio de análise acústica, usando o programa Praat, que alguns de vocês devem conhecer.

[14:33] [+conradomendes] Depois dessas análises, o que fizemos foi correlacionar dados semióticos (relativos aos conceitos) e dados fonéticos (relativos aos sons).

[14:33] [+conradomendes] Encontramos resultados bem interessantes!

[14:34] [+conradomendes] (Mas deixo esse tema para outra oportunidade)

[14:34] [+conradomendes] No doutorado, por sua vez, faço a análise da cobertura midiática, em especial a do Jornal Nacional (JN) e a do Fantástico, de um caso que ficou muito famoso no ano de 2008, que acho que vocês devem se lembrar:

[14:34] [+conradomendes] O Caso Isabella Nardoni, a menina que foi morta pelo pai e pela madrasta, jogada do 6o. andar de um prédio.

[14:34] [+conradomendes] Resolvi estudar a cobertura midiática desse caso, porque fiquei muito intrigado pela repercussão que teve.

[14:35] [+conradomendes] Durante dois meses e meio, de forma ininterrupta, notícias sobre a morte de Isabella eram levadas ao ar todos os dias.

[14:35] [+conradomendes] Houve casos em que o JN chegou a exibir 4 reportagens sobre o caso numa mesma edição!

[14:35] [+conradomendes] Isso me motivou a estudar as razões - não as razões psicológicas ou as sociológicas que explicariam a repercussão do crime ou o crime em si -

[14:35] [+conradomendes] Mas a construção do sentido, a arquitetura da significação que levou o Caso Isabella Nardoni a um estado de comoção de que certamente vocês podem se lembrar.

[14:36] [+conradomendes] Minha pesquisa de doutorado, ainda em andamento, me conduziu a recentes desdobramentos da teoria semiótica francesa (dos quais falarei brevemente ao final desta apresentação) que levam em consideração a questão do afeto, do sensível.

[14:36] [+conradomendes] Em resumo, se pudesse definir em poucas palavras o que estudo hoje, diria que estudo o aspecto sensível da construção do sentido aplicado a um texto midiático.

[14:36] [+conradomendes] Espero não ter falado muito, pois ainda nem entrei no tema da apresentação.

[14:37] [+AnaMatte] ainda tem bastante tempo

[14:37] [+conradomendes] (Risos)

[14:37] [+AnaMatte] sorriso

[14:37] [+conradomendes] Bom, vamos lá!

[14:37] [+conradomendes] O assunto sobre o qual eu vou falar é a relação entre a obra de dois importantes linguistas com a teoria semiótica.

[14:37] [+conradomendes] Antes de mais nada, é bom frisar que a semiótica a que me refiro é a semiótica de linha francesa, também chamada de semiótica greimasiana (em homenagem a seu criador A. J. Greimas), também conhecida ainda por Escola de Paris, e semiótica narrativa e discursiva.

[14:38] [+conradomendes] teoria de que jra falaram Ana Cristina e Daniervelin.

[14:38] [+conradomendes] Não se trata, portanto, da semiótica norte-americana de Charles Sanders Peirce, ou da semiótica russa de Iuri Lotman, ou ainda da semiótica social de Kress e Van Leeuwen.

[14:38] [+conradomendes] Certo, gente?

[14:38] [+conradomendes] A partir de agora, quando eu me referir à semiótica, trata-se tão somente da semiótica de linha francesa.

[14:39] [+conradomendes] Dito isso, vocês talvez já possam ter ouvido dizer que a semiótica é uma teoria de bases linguísticas, não é?

[14:39] [+conradomendes] O porquê dessa afirmação reside na contribuição da obra dos linguistas Ferdinand de Saussure e Louis Hjelmslev.

[14:39] [+conradomendes] Vamos começar pelo primeiro.

[14:39] [+conradomendes] Fundador da Linguística Moderna, Ferdinand de Saussure foi um linguista suíço, que viveu entre 1857 e 1913. Sua mais importante obra, o Curso de Linguística Geral, foi escrito por seus alunos Bally e Séchehaye, a partir das anotações que fizeram das aulas ministradas na Universidade de Genebra dos anos de 1907 a 1911.

[14:39] [+conradomendes] A primeira edição é de 1916, três anos após a morte de Saussure.

[14:40] [+conradomendes] O linguista suíço rompeu com uma perspectiva comparativista anterior. A partir dele, podemos dizer que se inaugurou um novo corte epistemológico, ou seja, uma forma radicalmente nova de tratar os fatos da linguagem.

[14:40] [+conradomendes] Sua abordagem não histórica, descritiva e sistemática conduziu a Linguística ao posto de ciência-piloto das ciências humanas, influenciando a antropologia (Lévi-Strauss), a psicanálise (Lacan), entre tantas outras disciplinas e autores.

[14:40] [+conradomendes] Saussure inaugurou, dessa forma, o que mais tarde será conhecido por Estruturalismo, um paradigma das ciências humanas que concebe o mundo como uma rede de relações.

[14:40] [+conradomendes] Tomemos, por exemplo, dois tipos de relações primordiais para Saussure: as fônicas e as conceituais.

[14:40] [+conradomendes] No caso das fônicas, um sistema de sons - vogais e consoantes - se estrutura por elementos que se diferem entre si.

[14:41] [+conradomendes] O /b/ é distinto do /p/ porque o primeiro possui o traço /vozeado/ enquanto o segundo não. O fonema é, dessa forma, o conjunto de vários traços fônicos (vozeado, bilabial etc.).

[14:41] [+conradomendes] Quanto aos conceitos, ocorre a mesma coisa.

[14:41] [+conradomendes] Pensemos na oposição entre "menino" e "menina". Ambos possuem o traço /infantil/ ao passo que o primeiro possui o traço /masculino/, enquanto o segundo possui o traço /feminino/.

[14:41] [+conradomendes] O que importa, portanto, não é o som em si, mas as diferenças fônicas que permitem distinguir sons de outros sons, assim como as diferenças conceituais, que permitem diferir um conceito de outro.

[14:41] [+conradomendes] Um sistema linguístico é então uma série de diferenças de sons combinadas com uma série de diferenças de ideias. E essa confrontação de diferenças constrói um sistema de valores.

[14:41] [+conradomendes] O objeto da linguística saussuriana é a língua, ou seja, o que a língua possui de social, de comum entre as pessoas, isto é, o conhecimento das regras que temos internalizadas e que nos possibilitam nos comunicar com os outros.

[14:42] [+conradomendes] Saussure afirma: A língua é "o produto social cuja existência permite ao indivíduo o exercício da faculdade da linguagem".

[14:42] [+conradomendes] A língua é ainda um sistema de signos.

[14:42] [+conradomendes] E o que exatamente é um signo para Saussure?

[14:42] [+conradomendes] Vocês se lembram quando eu falei das relações entre um som e um conceito? Pois então. O linguista de Genebra vai definir o signo linguístico como a relação necessária entre uma imagem acústica e uma imagem conceitual.

[14:42] [+conradomendes] Atenção: não é a relação entre palavras e coisas - no sentido que uma palavra (signo) representa uma coisa do mundo - mas a união entre duas grandezas linguísticas às quais ele vai chamar de significante (a imagem acústica) e de significado ( o conceito).

[14:42] [+conradomendes] Então, voltando: a linguística estuda o sistema de signos linguísticos.

[14:43] [+conradomendes] Porém, sabemos que existem igualmente signos não linguísticos, tais como, por exemplo, o sistema de ritos simbólicos; os sistema de signos visuais, como os sistemas pictóricos.

[14:43] [+conradomendes] Assim, Saussure vislumbra a criação de uma disciplina que se ocuparia dos signos em geral, a semiologia: "uma ciência que estude a vida dos signos no seio da vida social"

[14:43] [+conradomendes] À Linguística caberiam os sistemas de signos linguísticos, enquanto à semiologia caberiam todos os sistemas de signos.

[14:43] [+conradomendes] Dessa forma, a Linguística faz parte dessa ciência geral, que é a semiologia.

[14:43] [+conradomendes] Guardadas as devidas diferenças entre os termos "semiologia" e "semiótica", é exatamente isso que Greimas, anos depois, propõe ao fundar a semiótica.

[14:44] [+conradomendes] Vamos falar agora de um outro linguista, continuador da obra de Saussure, cuja obra também é muito importante para a semiótica. Trata-se de Louis Hjelmslev (1899-1965), linguista dinamarquês.

[14:44] [+conradomendes] Sua obra de maior importância, Prolegômenos a uma teoria da linguagem, de 1943, foi vertida para o português brasileiro em 1975.

[14:44] [+conradomendes] Prolegômenos significa princípios ou noções básicas para um estudo de qualquer natureza.

[14:44] [+conradomendes] Hjelmslev opõe-se ao discurso do humanismo, uma vez que pretende apreender com premissas puramente formais a estrutura específica da linguagem.

[14:44] [+conradomendes] O linguista de Copenhague chama de plano da expressão o que Saussure havia denominado significante e plano do conteúdo o que o linguista suíço designara de significado.

[14:44] [+conradomendes] Não se trata, entretanto, de termos exatamente sinônimos, uma vez que a definição hjelmsleviana compreende uma formalização que não estava presente no Curso de Linguística Geral.

[14:45] [+conradomendes] Hjelmslev utiliza o termo função semiótica para designar a relação entre duas grandezas: conteúdo e expressão.

[14:45] [+conradomendes] Segundo o dinamarquês, o que une a expressão ao conteúdo é a função semiótica. Essa função é solidária e pressupõe necessariamente um ao outro: "uma expressão só é expressão porque é expressão de um conteúdo, e um conteúdo só é conteúdo porque é conteúdo de uma expressão".

[14:45] [+conradomendes] Para Hjelmslev, assim como propusera Saussure, conteúdo e expressão se subdividem em forma e substância. No entanto, diferentemente do linguista suíço, Hjelmslev vai dizer que é a forma que precede a substância e não o contrário.

[14:45] [+conradomendes] Disso resulta uma consequência fundamental: a língua, dessa maneira, não é um conjunto de etiquetas com as quais damos nome às coisas do mundo. A língua, por meio da forma, é, portanto, o que recorta o mundo contínuo em unidades discretas. Portanto, somente temos acesso ao mundo via linguagem, que o articula segundo suas estruturas.

[14:46] [+conradomendes] Saber disso, acreditem, é libertador!

[14:46] [+AnaMatte] com certeza!

[14:46] [+conradomendes] Para finalizar este pequeno panorama da obra de Saussure e de Hjelmslev, cito Luiz Tatit, importante semioticista brasileiro, afirma o seguinte:

[14:46] [+conradomendes] "Na realidade, apenas uma das diversas teorias que hoje se dedicam à abordagem do discurso e do texto pode ser considerada inteiramente comprometida com os princípios do pensamento saussuriano, trata-se da semiótica, que (...) jamais deixou de reconhecer sua dívida principal com o projeto científico globalizado de L. Hjelmslev, erigido, por sua vez, sob a metodologia linguística de Saussure"

[14:46] [+conradomendes] Essa é a razão pela qual compusemos esse trajeto composto por Saussure, Hjelmslev e, agora, Greimas, isto é, pela continuidade natural entre suas obras. Falemos um pouco sobre o terceiro autor.

[14:47] [+conradomendes] É a partir da obra Semântica Estrutural, publicada originalmente em 1966, que Algirdas Julien Greimas (1917-1992), linguista lituano radicado na França, lança as bases do que será conhecido posteriormente como semiótica.

[14:47] [+conradomendes] O autor inicia essa obra chamando atenção para o fato de que a semântica sempre foi vista como "parente pobre" em relação aos demais ramos da linguística, em especial a fonologia.

[14:47] [+conradomendes] Essa visão é derivada da dificuldade em determinar métodos próprios para essa disciplina. E é justamente essa a contribuição de Semântica Estrutural às teorias da significação e, mais especificamente, à semiótica.

[14:47] [+conradomendes] O salto da semântica para a semiótica realizou-se quando se percebeu que o texto tem uma estruturação própria e não é uma mera somatória de frases ou de palavras.

[14:47] [+conradomendes] Dessa forma, a então semântica estrutural deixa de se interessar pela totalidade da descrição do plano do conteúdo das línguas naturais, e a semiótica, termo cunhado em seguida, põe em seu escopo a descrição e explicação dos mecanismos que engendram o sentido de textos em geral.

[14:48] [+conradomendes] Assim, extrapolam-se os domínios da semântica (a palavra e a frase) e se passa a apreender como se constrói o sentido do texto como um todo.

[14:48] [+conradomendes] Além da linguística estrutural de Saussure e Hjelmslev, a semiótica francesa, para se constituir, também foi influenciada pela antropologia (nomes como Lévi-Strauss e Marcel Mauss) e pela filosofia, (especificamente, fenomenologia Merleau-Ponty).

[14:48] [+conradomendes] O projeto greimasiano foi de criar uma teoria gerativa, sintagmática e geral.

[14:48] [+conradomendes] Sintagmática porque se preocupa não apenas com o conteúdo, mas com o texto (expressão + conteúdo);

[14:48] [+conradomendes] Geral porque se interessa por qualquer tipo de texto (veiculado em qualquer materialidade);

[14:48] [+conradomendes] Gerativa porque concebe o processo de produção de sentido de um texto - o plano do conteúdo - como um percurso gerativo que vai do mais simples e abstrato ao mais complexo e concreto.

[14:48] [+conradomendes] De forma MUITO resumida, no nível fundamental, temos as oposições de base. Por exemplo: vida versus morte, que se articulam a partir de uma estrutura lógica (advinda de Aristóteles) chamada de quadrado semiótico.

[14:49] [+conradomendes] As estruturas fundamentais são convertidas em estruturas narrativas.

[14:49] [+conradomendes] Nível narrativo é o nível intermediário, também um nível lógico e abstrato, em que se estabelece a relação de um sujeito e um objeto.

[14:49] [+conradomendes] A oposição de base do nível fundamental exemplificada por vida versus morte é analisada no nível narrativo como um sujeito que entrou em disjunção com um objeto (vida).

[14:49] [+conradomendes] O último nível é o mais concreto e complexo. Aí podemos falar de atores, figuras e temas. É também o nível ainda das projeções enunciativas de pessoa, espaço e tempo e os efeitos de sentido advindos disso.

[14:49] [+conradomendes] Vejamos o exemplo: Estudante universitário foi morto por três tiros a queima-roupa na madrugada de ontem.

[14:49] [+conradomendes] Nesse caso, já temos um ator do enunciado (estudante universitário), sobre o qual são investidos valores, diferente do actante do nível narrativo (sujeito) que é mormente uma estrutura sintáxica.

[14:49] [+conradomendes] O tema da frase acima é o de um assassinato, que por sua vez é figurativizado por elementos que remetem ao mundo natural ou ao mundo construído como tal.

[14:50] [+conradomendes] O exemplo ainda projeta um ele, um lá (pressuposto) e um então. Ou seja, a partir dessas projeções enunciativas de pessoa, espaço e tempo, depreende-se, por exemplo, um efeito de afastamento do fato, de objetividade.

[14:50] [+conradomendes] O percurso gerativo de sentido concebe, portanto, a construção do sentidos em níveis, da mais abstrata e lógica à mais próxima da manifestação e, por isso, mais complexa e concreta.

[14:50] [+conradomendes] É uma forma de apreender o sentido pela ótica do estruturalismo, isto é, a partir das estruturas discretas e das relações estabelecidas por elas.

[14:50] [+conradomendes] Talvez vocês já tenham ouvido críticas à teoria semiótica no sentido de que ela coloca no texto uma camisa de força, engessando-o por causa de sua estrutura fixa.

[14:50] [+conradomendes] Eu não vejo a coisa por aí. Pois é no exercício de análise que observamos, por exemplo, que nível do percurso é mais proveitoso para examinar um texto x.

[14:51] [+conradomendes] Além disso, gosto muito dessa frase de Matte e Lara, que afirmam:

[14:51] [+conradomendes] "Diferentemente de engessar uma análise, a narrativa tem o poder de explicitar relações lógicas que o discurso manipula a fim de produzir efeitos de sentido. Em outras palavras: se a semiótica oferece modelos (enunciativos, narrativos, figurativos e passionais) para a análise, esses modelos não são dados de uma vez por todas, mas convocados ou revogados pelo exercício concreto do discurso"

[14:51] [+conradomendes] A última parte deste nosso trajeto se refere a um dos desdobramentos que teve a teoria de Greimas, o que ficou chamado de ponto de vista tensivo da semiótica.

[14:51] [+conradomendes] A atual fase por que passam os estudos semióticos influencia-se sobretudo pela fenomenologia, o que não significa retirar as bases linguísticas da teoria.

[14:51] [+conradomendes] Podemos afirmar que essa virada fenomenológica teve inicio, ainda tímido, em Semiótica das Paixões, publicação de Greimas em co-autoria com Fontanille (1993). Nessa obra, as paixões são concebidas fundamentalmente como configurações modais.

[14:52] [+conradomendes] Em Da Imperfeição (2002), o semioticista lituano dá maior enfoque ao tema do sensível, à estesia, que do grego significa sensação. Assim, a semiótica calcada num puro inteligível, passou a associar-se à dimensão sensível da percepção e dos afetos no discurso.

[14:52] [+conradomendes] Porém o desenvolvimento do ponto de vista tensivo da semiótica se deve fundamentalmente aos nomes de Claude Zilberberg e Jacques Fontanille, semioticistas franceses.

[14:52] [+conradomendes] O ponto de vista tensivo, erigido principalmente pela obra de Fontanille e Zilberberg, Tensão e Significação (2001), e, posteriormente, de forma mais aprofundada por Zilberberg em Elements de Grammaire Tensive (2006), distingue-se do modus operandi greimasiano pela concepção de um sentido de natureza continua e não estática e discreta.

[14:53] [+conradomendes] esse ponto de vista apresenta-se de forma complementar à semiótica de Greimas, pois se interessa pelas nuances, complexidades e imbricações ocorridas no discurso.

[14:53] [+conradomendes] das quais a Dani também já falou

[14:53] [+conradomendes] A semiótica tensiva procura analisar as figuras da ordem da instabilidade, do devir, da gradiência etc., objetos que não estavam inicialmente no escopo da semiótica.

[14:53] [+conradomendes] Antes de qualquer categorização, uma grandeza para o sujeito do discurso se expressa em uma "presença sensível", o qual deriva do conceito fenomenológico campo de presença.

[14:53] [+conradomendes] A presença se efetua em termos de intensidade, da ordem do sensível, e extensidade, da ordem do inteligível.

[14:54] [+conradomendes] A articulação entre intensidade e extensidade é chamada de correlação e a tensividade é o eixo semântico em que se articulam intensidade e extensidade.

[14:54] [+conradomendes] Tanto a intensidade como a extensidade são eixos graduais e, considerando o espaço interno entre os dois eixos, todas as combinações entre intensidade e extensidade são possíveis.

[14:54] [+conradomendes] Zilbeberg (2006) vai subdividir a intensidade e a extensidade no que chama de subdimensões.

[14:54] [+conradomendes] Porém, por ora, é importante ressaltar que, pela perspectiva tensiva, a intensidade regula a extensidade.

[14:54] [+conradomendes] Noutros termos, pelo ponto de vista tensivo da semiótica, o sensível rege o inteligível, daí a razão de essa ser considerada um virada fenomenológica no âmbito da semiótica.

[14:55] [+conradomendes] Dessa forma, podemos afirmar que a semiótica tensiva busca uma teorização sobre a natureza do sensível além de perceber o sentido como um contínuo.

[14:55] [+conradomendes] Assim, se o estruturalismo negligenciou a "elasticidade" do discurso, a semiótica tensiva busca conjugar as relações da estrutura, levando em conta os diferentes graus de intensidade e extensidade, ou seja, estados de alma e estados de coisa ou, mais usualmente, emoção e razão.

[14:55] [+conradomendes] Parto agora para as considerações finais.

[14:55] [+conradomendes] Nossa apresentação visou a estabelecer as bases linguísticas da semiótica de Greimas, além de trazer à luz o construto teórico greimasiano e apresentar, ainda que brevemente, um de seus desdobramentos: o ponto de vista tensivo da semiótica.

[14:55] [+conradomendes] Fiel à sua herança linguístico-estrutural, a semiótica ampliou grandemente seu escopo em seus aproximadamente 50 anos de vida. Passou a integrar estudos sobre enunciação (principalmente no que se refere à sintaxe discursiva) e sobre o sensível, tal como vimos no tocante à tensividade.

[14:56] [+conradomendes] Podemos concluir que se agregou a uma semiótica do descontinuo, do discreto, uma semiótica do contínuo, do gradual, em complemento (e não substituição) à primeira.

[14:56] [+conradomendes] Sem abandonar suas bases calcadas no primado da imanência, as quais possibilitaram a criação dessa disciplina sólida e coerente, a semiótica hoje é uma disciplina plenamente apta a analisar quaisquer tipos de textos, considerando-se a produção de sentido de maneira categorial ou gradiente.

[14:56] [+conradomendes] Muito obrigado pela atenção de vocês!

[14:56] [+AnaMatte] muito obrigada, Conrado! uau!

[14:56] [+AnaMatte] que aula!

[14:57] <@acris] conradomendes e Dani_Re: eu tinha que dizer isso com meu nick acris senão não poderia ser tão sincera: foi um verdadeiro TESÃO ouvir vocês! que delícia! Estou encantada!

[14:57] [+conradomendes] sorriso

[14:57] [+AnaMatte] abrimos para as perguntas

[14:57] [+Dani_Re] também adorei ouvir vcs 2

[14:57] [+AnaMatte] e debate, claro sorriso

[14:57] [+Dani_Re] "ouvir"

[14:57] [+AnaMatte] Dani_Re: é ouver :D

[14:57] [Beth] parabéns!!!

[14:57] [+Dani_Re] sorriso

[14:58] [Beth] Dani, vc diz que "o gênero digital não imita os já existentes (como a aula, a conversa), mas pressupõe nova composição, nova forma de tematizar e novo estilo"

[14:58] [Beth] Qual o conceito de gênero que você utiliza? E se você poderia exemplificar que essa diferenciação que vc postula entre o gênero digital e o não digital.

[14:58] [+AnaMatte] aproveitando a pergunta da beth Dani_Re: como você tem tratado a questão do gênero na tua pesquisa? Vê necessidade de usar classificações exaustivas ou isso é secundário na análise?

[14:59] [+Dani_Re] oi, Beth, uso o conceito de gênero dado por Bakhtin e o aprofundamento teórico que Norma Discini dá à questão do estilo do gênero

[15:00] [+Dani_Re] posso citar o chat como exemplo, q foi o q mais analisei até agora. Nesse caso, é claro que ele não é nem uma conversa nem uma aula

[15:01] [+Dani_Re] principalmente pela relação do enunciado com a sua exterioridade, que é importante para o conceito de gênero

[15:01] [+AnaMatte] fala mais...

[15:01] [+Dani_Re] a exterioridade do gênero chat é o ambiente digital

[15:01] [+Dani_Re] seria negar o valor desse ambiente e de sua peculiaridade igualar o chat a uma conversa ou uma aula presencial

[15:02] [+AnaMatte] gosto que você não fale em ambiente "virtual", mas digital. a ideia de "virtual" leva a muita confusão, tanto entre leigos quanto entre teóricos

[15:02] [+AnaMatte] isso mesmo

[15:02] [+conradomendes] tb acho legal, evitam-se confusoes com os termos da semiotica

[15:02] [+AnaMatte] conradomendes: ainda tem isso

[15:03] == claudiapenido [bb68349a@gateway/web/freenode/ip.187.104.52.154] has left #evidosol-1 []

[15:03] [+Dani_Re] se considerarmos ainda que o gênero tem um estilo, ele é constituído enquanto totalidade, o que justifica mais ainda a particularidade do gênero digital

[15:03] [+Dani_Re] sim, foi por causa dessa confusão q comecei a usar digital

[15:03] [+conradomendes] muito legal

[15:03] [+Dani_Re] nem sempre ele é virtual, no sentido semiótico :D

[15:04] [+AnaMatte] Dani_Re: acho que na maioria das vezes não é, não tem vínculo, são ideias completamente apartadas

[15:04] [woodsonfc] Nem mesmo virtual no sentido oposto ao real

[15:04] [+AnaMatte] woodsonfc: aí a coisa fica pior ainda

[15:04] [+Dani_Re] sugiro o texto da Norma, para quem nao conhece: "O estilo nos textos"

[15:04] [+AnaMatte] está online?

[15:04] [+Dani_Re] lá ela fala muito melhor sobre essa questão do estilo do gênero

[15:05] [+Dani_Re] achei uma versão pirata certa vez :P

[15:05] [+AnaMatte] rs

[15:05] [+Dani_Re] mas o livro mesmo é impresso

[15:05] [Beth] rss

[15:05] [+AnaMatte] vamos falar com ela, se ela autorizar a gente disponibiliza os capítulos

[15:05] [woodsonfc] blz

[15:06] [+Dani_Re] ok, posso pedir isso

[15:06] [+AnaMatte] o livro é de fato excelente

[15:06] [+AnaMatte] conradomendes: posso fazer uma pergunta enorme?

[15:06] [woodsonfc] Dani, vc acha que devemos fazer uma nova reclacificação dos generos digitais?

[15:06] [+conradomendes] sim, claro

[15:07] [+AnaMatte] woodsonfc: tenho pavor dessas classificações de generos

[15:07] [woodsonfc] Claro, além das existentes de Marcuschi etc

[15:07] [woodsonfc] Mas como conhecer sem classificar?

[15:07] [+AnaMatte] eu acredito que qualquer classificação pura e simples é, esta sim, engessante e sem sentido

[15:07] [+AnaMatte] voce pode analisar, por exemplo, com a teoria semiotica, como a Diana fez com a comparação entre fala e escrita

[15:08] [woodsonfc] Tá, digamos, recortar

[15:08] [+Dani_Re] woodsonfc, como muito gêneros digitais estão surgindo, eles não são classificados, o q ocorre é que eles guardam vestígios de outros gêneros da comunicação humana

[15:08] [+AnaMatte] fica uma classificação muito mais dinâmica e realista

[15:08] [+AnaMatte] conradomendes: essa opção de estudar a construção do sentido sobre a história da Isabela é realmente muito produtiva. Existem muitos teóricos de diferentes linhas e áreas do conhecimento preocupados com a construção do sentido passional e eu acho que a semiótica é uma teoria muito forte para tratar do tema porque trabalha com isso de forma muito estruturada e cientificamente organizada, possibilitando fugir dos lugares comuns que as análises da emoção geralmente apresentam. E eu não acredito que a semiótica

[15:08] [+AnaMatte] E eu não acredito que a semiótica coneguiria isso se não fosse sua origem e fundamentação linguística, porque a paixão, a emoção e a própria comunicação são questões de linguagem (verbal e não verbal), não é? Que tipo de dados voce está analisando?

[15:08] [+AnaMatte] conseguiria*

[15:08] [+Dani_Re] AnaMatte, mas o gênero nessa nova concepção da Norma, é uma estrutura aberta

[15:08] [woodsonfc] É, mas eles têm a propriedades distintas de seus gêneros originais e comuns entre si

[15:09] [+Dani_Re] mas tem uma estrutura, isso é importante

[15:09] [+AnaMatte] Dani_Re: é, eu sei, mas geralmente quem pensa em Bakthin não pensa assim, por isso quis falar nisso

[15:09] [+Dani_Re] mas nao é engessado, como prova o chat em sua variedade, por exemplo

[15:09] [+conradomendes] É isso mesmo, Ana!

[15:09] [+AnaMatte] exatamente, Dani_Re

[15:10] [+conradomendes] analisei dois meses e meio da cobertura feita pelo JN e nesse primeiro momento percebi identificar a relacao entre narrativa e acontecimento

[15:10] [+AnaMatte] só texto?

[15:10] [+AnaMatte] ou tem video, som, imagem...

[15:10] [+conradomendes] ou seja, a diferenca entre as lógicas implicatica e concessiva

[15:11] [+conradomendes] essa parte foi bem interesante

[15:11] [+conradomendes] nos ultimos meses

[15:11] [+AnaMatte] imagino que sim!

[15:11] [+conradomendes] venho trabalhando a questao justamente do audiovisual

[15:11] [+conradomendes] estou fazendo uma análise bastante detalhada de uma entrevista que a mae da garota concede ao fantastico

[15:12] [+AnaMatte] e como voce esta trabalhando isso, conradomendes ? com fonética acústica? semiótica visual?

[15:12] [+conradomendes] e tentando identificar sentidos advindos de diversas linguagnes

[15:12] [+conradomendes] verbal, paraverbal, visuak

[15:12] [+conradomendes] visual

[15:12] [+conradomendes] principalmente pela via de dois conceitos

[15:12] [+conradomendes] o de semióticas conotativas e o de sincretismo

[15:13] [+conradomendes] se pensarmos no caso da fala emotiva nós temos, acredito, um conteúdo conotativo (o de por exemplo uma paixao especifica cmo a trizteza)

[15:14] [+conradomendes] tristexa

[15:14] [+conradomendes] tristeza

[15:14] [+conradomendes] que incide sobre a semiótica denotativa ( C + E)

[15:14] [+AnaMatte] muito interessante

[15:14] [+conradomendes] estou percebendo que não apenas no caso da fala emotiva

[15:15] [+conradomendes] mas a se pensarmos a linguagem visual associada à verbal, observamos um fenômeno semelhante

[15:15] [+AnaMatte] bom, toda fala comunicativa é emotica, concorda?

[15:15] [+AnaMatte] ah sim, certamente

[15:15] [+conradomendes] o Parret, num livro de 2002, fala que quando o silencio reina na interlocucao, os outros sentidos sao automaticmente convocados

[15:16] [+conradomendes] entao, a visao ganha em importancia

[15:16] [+conradomendes] o tato

[15:16] [+conradomendes] etc

[15:16] [+AnaMatte] adoro parret

[15:16] [+Dani_Re] interessante

[15:16] [+conradomendes] no caso do meu estudo, na entrevista, há momentos em que a fala da mãe se perde

[15:16] [+conradomendes] tamanho estado emocional/passional

[15:17] [+AnaMatte] bom, gostaria de fazer uma pergunta aos dois, de certo modo retomando o início de nossa conversa, posso?

[15:17] [+conradomendes] entao ao telespectador é demandado atencao especial à linguagem visual

[15:17] [+Dani_Re] conradomendes, vc se lembra no título do livro?

[15:17] [+Dani_Re] do título*

[15:17] [+conradomendes] La voix e son temps

[15:17] [+Dani_Re] obrigada

[15:17] [+conradomendes] ;)

[15:17] [+AnaMatte] é verdade, excelente texto

[15:18] [+AnaMatte] posso fazer a pergunta final?

[15:18] [+conradomendes] claro q sim

[15:18] [+AnaMatte] Dani_Re e conradomendes: uma questão que é a base da ideia desses seminarios e que é o que garante a solidez dos trabalhos de vocês é a preocupação com a coerência teórica e epistemológica. O que vocês diriam para seus colegas, entusiastas começando na semiótica? O que faltou na sua formação e que vocês fariam diferente se pudessem?

[15:19] * AnaMatte parece aqueles recados de concurso de miss: deixe uma mensagem para as pessoas

[15:20] [+Dani_Re] acho importante ter um grupo de pesquisa

[15:20] [+AnaMatte] como era o UFMGES?

[15:20] [+Dani_Re] ter encontros regulares, q reúnam professores e alunos

[15:20] [+Dani_Re] sim, como conseguimos fazer no início, mas depois se perdeu

[15:20] [+conradomendes] Eu diria a quem está começando que a semiótica é uma teoria que a gente não aprede do dia para a noite. Que requer uma certa dedicação. Eu aconselho a quem está começando, a iniciar suas leituras pelo comentadores. Fiorin e Diana fazem isso muito bem. Também aconselho que se aprenda bem a semiítica dita standard, antes de querer se aventurar por novos desdobramentos. Acho que é isso.

[15:20] [+AnaMatte] é verdade

[15:21] [+AnaMatte] vocês tem razão

[15:21] [+AnaMatte] eu lembro que o Ignácio dizia que não dava pra fazer semiótica sozinho

[15:22] [+AnaMatte] e também reclamava muito de gente que usava a terminologia semiótica pra fazer análises completamente impressionistas

[15:22] [+conradomendes] é verdade, as trocas são muito enriquecedoras

[15:22] [+Dani_Re] concordo com o conradomendes, é bom ter um entendimento mais geral antes de enfrentar os textos da "fonte"

[15:22] [+AnaMatte] exatamente isso que vocês falaram

[15:22] [woodsonfc] É mais que sexo, é necessário uma suruba semiótica

[15:23] [+conradomendes] hahaha

[15:23] [+Dani_Re] hehehe

[15:23] [+AnaMatte] a semiótica tem essa constituição como castelo de cartas: se você tira uma da base, cai o castelo... tudo vai se encaixando e o sentido do estado de arte da teoria só é totalmente apreensível se você conhece o que veio antes

[15:23] [+AnaMatte] woodsonfc: :D

[15:24] [+AnaMatte] tai, woodsonfc: voce vai organizar a suruba? reativar o UFMGS?

[15:24] [+conradomendes] Eu vejo às vezes na USP alunos que se iniciaram pela tensiva e que nao conhecem a standard

[15:24] [+AnaMatte] UFMGES*

[15:24] [+conradomendes] fica muito complicado

[15:24] [+AnaMatte] é muito complicado mesmo

[15:24] [woodsonfc] Deixa comigo, faço com prazer

[15:24] [+AnaMatte] woodsonfc: vou cobrar :D

[15:25] [+AnaMatte] conradomendes: eu gostaria de trocar umas ideias sobre essa tua apresentação, depois, com calma

[15:25] [woodsonfc] hj tive problemas internetisticos, mas tô nessa

[15:25] [+Dani_Re] isso aí, woodsonfc, reúne esse povo aí em torno da semiótica sorriso

[15:25] [+conradomendes] vai se rum prazer

[15:25] [+AnaMatte] a Dani_Re já está na jogada, na disciplina online, estamos debatendo semanalmente e está sendo muito interessante

[15:25] [woodsonfc] Aqui e vcs tb

[15:26] [+conradomendes] isso mesmo Woodson!

[15:26] [woodsonfc] Precisarei muito estar em contato nessa etapa final

[15:26] [+conradomendes] vc ja defendeu?

[15:27] [woodsonfc] Estamos pensando em março

[15:27] [+conradomendes] bacana

[15:27] [woodsonfc] 28

[15:27] [+AnaMatte] bom, alguém gostaria de fazer mais alguma pergunta ou comentário? já é noite na França, né Conrado?

[15:27] [+conradomendes] se estiver em BH, vou te ver

[15:27] [+conradomendes] 19:27

[15:27] [+Dani_Re] hehe

[15:27] [woodsonfc] Consegui a licença da PBH e estou por conta

[15:27] [+AnaMatte] venha sim, conradomendes, já teremos o lab montado pra te receber

[15:28] [+conradomendes] ainda é cedo, como diria a marina Lima

[15:28] [woodsonfc] blz

[15:28] [+AnaMatte] :D

[15:28] [+conradomendes] com ceretza

[15:28] [woodsonfc] Estou na UFMG agora pq a Internet lem casa caiu

[15:28] [+Dani_Re] conradomendes e suas músicas :D

[15:28] [+conradomendes] vai ser um prazer me juntar a voces

[15:28] [woodsonfc] Tá aqui, Conrado?

[15:28] [+conradomendes] chego no fim de nov

[15:28] [woodsonfc] Vem pra Aled?

[15:29] [+conradomendes] nao vai dar tempo

[15:29] [+Dani_Re] evento por aqui é o q nao falta...

[15:29] [+conradomendes] E, Ana,

[15:29] [+conradomendes] esses grupos como o UFMGS

[15:29] [+conradomendes] tem uma funcao estrategica

[15:30] [+AnaMatte] bom, eu quero agradecer a presença de todos, principalmente da Dani_Re e do conradomendes que nos brindaram com suas excelentes apresentações, um grande aprendizado! Esta conferência será publicada e estará disponível em breve na página do stis (http://stis.textolivre.org/)

[15:30] [+AnaMatte] tem sim, conradomendes

[15:30] [+conradomendes] porque como nao ha aula de semiotica na grade da graduacao, isso passa a servir como formacao complementar de quem esta se iniciando

[15:30] [+AnaMatte] é verdade

[15:30] [+AnaMatte] acho que em todo lugar existe falta de aulas de semiótica

[15:31] [+conradomendes] infelizmente

[15:31] [+Dani_Re] sim

[15:31] [+AnaMatte] palmas para os palestrantes! clap clap clap!!!

[15:31] [+Dani_Re] AnaMatte, obrigada pelo convite

[15:31] [+Dani_Re] adorei participar do Stis

[15:31] [woodsonfc] É, acho que tem potencial de esclarecer e desmistificar muita coisa

[15:31] [+conradomendes] Eu é que agradeço!

[15:32] [+conradomendes] Foi ótimo "rever" vocês

[15:32] [+Dani_Re] ;)

[15:32] [woodsonfc] clap clap Sim

[15:32] [+Dani_Re] :D

[15:32] [+conradomendes] sorriso

[15:32] [+AnaMatte] foi ótimo te "ouver", conradomendes :D quando voltar, dá notícias!

[15:32] [+AnaMatte] Dani_Re: te espero no dia 9/11, ein?

[15:32] [+conradomendes] com certeza!

[15:33] [+Dani_Re] sim, sempre é um prazer "ouver" vcs

[15:33] [+Dani_Re] ok, AnaMatte, estou tentando me organizar aqui

[15:33] [+AnaMatte] no dia 9 será o dia da cultura livre, provavelmente teremos atividades online tb, divulgaremos, estão todos previamente convidados

[15:33] [+conradomendes] obrigado!

[15:35] [+AnaMatte] beijos! e até a próxima! STIS:O semi-simbolismo na dança (Isabel Coimbra) dia 18 mesma bat hora mesmo bat canal!

[15:35] [+Dani_Re] bjos e até a próxima

[15:35] [+conradomendes] boa tarde! até a próxima!

[15:35] [Beth] muito legal pessoal! Até o próximo!