9. Novembro: Semiótica e Comunicação

9.1. registro novembro

Registro da Conferência em chat escrito, de 22 de novembro de 2013:

 

 Reflexões sobre a construção do sentido
conferencista: Elizabeth Harkot-de-La-Taille


 Semiótica e mídia: uma abordagem tensiva do fait divers
conferencista: Conrado Moreira Mendes

 

moderador: Equipe STIS

 

[14:03] <daniervelin> para quem participa pela primeira vez, organizamos as apresentações assim: damos voz (na forma escrita) aos palestrantes por 30 min (cada um). Nesse momento, a sala fica moderada e só eles podem falar/teclar
[14:03] <daniervelin> Após a fala dos dois conferencistas, teremos mais 30 minutos para o diálogo entre eles e os participantes, quando será possível fazer perguntas, sugestões, comentários, etc.
[14:06] <daniervelin> bom, então, gostaria de dar boas-vindas a todos os participantes e agradecer a presença da professora Elizabeth
[14:07] <daniervelin> seja bem-vindo, Conrado__
[14:07] <daniervelin> vou apresentar então nossos convidados para, em seguida, dar a voz à professora Elizabeth
[14:07] <daniervelin> a professora Elizabeth Harkot-de-La-Taille Graduada em Letras pela Universidade de São Paulo (1986), Mestre (1990) e Doutora (1996) em Semiótica e Linguística Geral, também pela Universidade de São Paulo.
[14:08] <daniervelin> é graduada*
[14:08] <daniervelin> É professora do Departamento de Letras Modernas da Universidade de São Paulo desde 2006.
[14:08] <daniervelin> Dedica-se à pesquisa nas áreas de Língua Inglesa e Semiótica, pela perspectiva teórica da Semiótica Discursiva.
[14:08] <daniervelin> É autora do livro “Ensaio semiótico sobre a vergonha” (1999), entre outros importantes artigos sobre os temas: construção discursiva da identidade, estereótipos culturais, imagens de si, paixões e interações sociais, aspectos retóricos e papel de componentes sensíveis no processo de significação.
[14:08] <daniervelin> o professor Conrado Moreira Mendes É Bacharel em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo pela Universidade Federal de Minas Gerais (2006), Mestre em Estudos Linguísticos pela mesma instituição (2009) e Doutor em Semiótica e Linguística Geral pela Universidade de São Paulo (2013).
[14:09] <daniervelin> É Editor-Convidado da Revista Estudos Semióticos e, atualmente, é Professor Assistente I da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, curso de Publicidade de Propaganda, campus Poços de Caldas, e Professor Adjunto I do Centro Universitário de Belo Horizonte UNIBH, curso de Design.
[14:09] <daniervelin> Atua principalmente nas seguintes áreas: Semiótica Discursiva, Comunicação e Linguística Geral.
[14:10] <daniervelin> então, damos a voz à professora Elizabeh para começar o Stis de hoje
[14:10] <Elizabeth_> Em primeiro lugar,muito obrigada pelo convite. Espero não fazer muitos erros de digitação...
[14:11] <daniervelin> o código para acessar os slides da primeira apresentação é: elizabeh
[14:11] <Elizabeth_> Nesta palestra, proponho-me a pensar algumas questões basilares sobre a constituição do sentido.
[14:11] <Elizabeth_> Porque existe o sentido? De onde ele vem? Como se instala e se dissemina? Um dos nomes que identificam as teorias do sentido, que são várias, é semiótica.
[14:12] <Elizabeth_> Quando falamos “semiótica”, porém, é preciso adjetivar a palavra, pois não há apenas uma teoria da significação que leva esse nome e as diferentes vertentes partem de concepções distintas da relação mundo-linguagem.
[14:12] <Elizabeth_> Antes de entrar nessa questão, no entanto, começo por uma história real, para ajudar a situar a questão.
[14:12] <Elizabeth_> Trata-se da história de Helen Keller. Nascida em 1880, no Alabama, estudou filosofia e se formou em 1904 por Radcliff College, em Cambridge, Massachusetts.
[14:13] <Elizabeth_> Ainda na faculdade, aos 22 anos, publicou The Story of my Life, autobiografia que foi traduzida para dezenas de línguas. Além do inglês, aprendeu francês, latim e alemão.
[14:13] <Elizabeth_> Recebeu vários títulos e diplomas honorários pelo mundo, foi nomeada Cavaleiro da Legião de Honra da França, condecorada com a Ordem do Cruzeiro do Sul, no Brasil, agraciada com o Tesouro Sagrado, no Japão,
[14:13] <Elizabeth_>  além ter sido membro honorário de inúmeras sociedades científicas e filantrópicas.
[14:14] <Elizabeth_> Ao longo de seus 87 anos de vida, foi recebida por oito presidentes americanos. Ganhou o respeito e a amizade de Alexander Graham Bell, a quem dedica seu primeiro livro, Charlie Chaplin and Mark Twain, este último, seu manifesto admirador.
[14:14] <Elizabeth_> Além da autobiografia, escreveu mais cinco livros, disponibilizados gratuitamente pelo Projeto Gutenberg (www.gutenberg.org), o primeiro, tb em áudio. Jornalista, conferencista e militante política,
[14:14] <Elizabeth_> sua história pessoal foi posta em um filme, The Miracle Worker (1963), escrito por William Gibson e dirigido por Arthur Penn. Morreu em 1968. Trinta e um anos depois, em 1999, integrou a lista das pessoas mais admiradas do século XX, na seleção realizada pelo Instituto Gallup
[14:15] <Elizabeth_> (Gallup's Most Widely Admired People of the 20th Century. A lista pode ser obtida em vários sites da internet, por exemplo, http://en.wikipedia.org/wiki/Gallup%27s_List_of_Widely_Admired_People.)
[14:15] <Elizabeth_> Sua trajetória contém ainda um dado especial: quando criança, ela teve escarlatina ou meningite, não se sabe, e ficou irrecuperavelmente cega e surda, aos 19 meses de idade. E viveu mais uns cinco anos no que ela mais tarde chamou de sua “prisão mental”.
[14:15] <Elizabeth_> O que pode significar perder de chofre os canais de contato com o mundo visual e sonoro?
[14:16] <Elizabeth_> Subitamente, de bebê brincalhão, a menina de nem dois anos acordou de uma febre alta, em seu berço, mas num outro mundo, de total silêncio e escuridão, como se tudo tivesse sumido e o tempo parado.
[14:16] <Elizabeth_> Não, não é bem isso. Um susto tátil: alguém a pega; um alívio olfativo: é o odor da mãe; um gosto na língua: é o leite, que vem saciar a fome, nesse estado de “suspensão do mundo”, de “intervalo sensível”
[14:16] <Elizabeth_> Para ela, no entanto, esse “intervalo” se instalava definitivamente. Daquele momento em diante, ela só teria o tato, o paladar e o olfato, para seu contato com o exteroceptivo.
[14:17] <Elizabeth_> Em escuridão silenciosa passaram-se mais de cinco anos, sem que a menina tivesse acesso a qualquer forma de educação especial ou que sua condição física lhe permitisse frequentar escolas.
[14:17] <Elizabeth_>  Cega e surda, também se tornara muda e era por muitos vista como intelectualmente incapaz. São suas as palavras que contam memórias desse período, resgatadas ou construídas:
[14:17] <Elizabeth_> "Antes de minha professora vir a mim, eu não sabia que eu era. Vivia em um mundo que era um não mundo. Não dá para descrever adequadamente aquele tempo inconsciente, ainda que consciente, de nada.
[14:18] <Elizabeth_> Eu não sabia que sabia alguma coisa nova, ou que vivia ou agia ou desejava. Eu não tinha nem vontade nem intelecto. Era levada a objetos e atos por certo ímpeto cego natural.
[14:18] <Elizabeth_> Tinha uma mente que me fazia sentir raiva, satisfação, desejo. Esses dois fatos levavam meus próximos a supor que eu queria e pensava. Lembro-me de tudo isso, não porque eu soubesse que era assim, mas porque tenho memória tátil.
[14:18] <Elizabeth_> Ela me permite lembrar que nunca contraí a testa no ato de pensar. Nunca antecipava ou escolhia coisa alguma. Recordo-me também tatilmente de que nunca em um sobressalto ou numa batida do coração senti que amava ou que me importava com algo.
[14:19] <Elizabeth_> Minha vida interior, então, era um espaço em branco sem passado, presente ou futuro, sem esperança ou expectativa, sem admiração ou alegria ou fé.
[14:19] <Elizabeth_> Não era noite – não era dia." (KELLER, 1904, p. 141-2, tradução minha)
[14:20] <Elizabeth_> "... eu vivia numa espécie de sonho perpétuo. O depoimento de pais e amigos que cuidavam de mim dia após dia é o único meio que tenho de saber a realidade daqueles primeiros obscuros anos de minha infância.
[14:20] <Elizabeth_> Os atos físicos de ir para a cama e andar sozinha de manhã marcam a transição da realidade para a Terra dos Sonhos. Com a precisão que me é possível contar, adormecida ou desperta eu só sentia com meu corpo.
[14:20] <Elizabeth_> Não consigo me recordar de um único processo que eu pudesse dignificar chamando de pensamento. É verdade que meus sentidos eram extremamente aguçados; porém, além de uma conexão direta com minhas necessidades físicas, eles não se associavam nem eram dirigidos.
[14:21] <Elizabeth_>  Tinham pouca relação entre si, comigo ou com a experiência de outrem. (...)
[14:21] <Elizabeth_>  No entanto, antes de minha educação começar, eu sonhava. Sei que sonhava porque me recordo de não haver interrupção em minhas experiências táteis. Coisas caíam, repentinamente, pesadamente.
[14:21] <Elizabeth_> Sentia minhas roupas queimando, ou caía numa banheira de água fria. Uma vez senti cheiro de bananas e o odor era tão vivo em minhas narinas que pela manhã, antes de me vestir, fui atrás das bananas, no aparador. Não havia bananas, nem cheiro de bananas em lugar nenhum! Minha vida era de fato um sonho contínuo." (KELLER, 1904, p. 198-200, tradução minha).
[14:22] <Elizabeth_> O percurso de Keller abre uma fresta na opacidade do processo de fazer sentido: de um “tempo inconsciente, ainda que consciente”, “espaço em branco sem passado, presente ou futuro”, “espécie de sonho perpétuo” (KELLER, 1904, p. 141, 142 e 198, tradução minha), ela passa a saber que sabe, a ter memória evocável e a saber que é.
[14:22] <Elizabeth_> Como alguém passa de um dado estágio para o de quem sabe sobre esse estágio? Os relatos de Keller sugerem dois saltos qualitativos. Eis o primeiro, radical: o conceber a significação: (SLIDE 2)
[14:25] <Elizabeth_> O texto do slide 2 : "Enquanto o fluxo fresco..." traz o relato do assomo de Keller, da experiência de conceber a significação, retratada como libertadora.
[14:25] <Elizabeth_> Mas, antes de mergulhar na análise de trechos da história de Keller, voltemos à semiótica, ou melhor, às semióticas.
[14:25] <Elizabeth_> Em sua maioria, essas teorias baseiam-se na ideia de convencionalidade: considera-se um acordo, ao menos implícito, anterior a toda comunicação, e postula-se a existência de um código externo que se impõe aos participantes das trocas.
[14:26] <Elizabeth_> É assim com o conceito saussureano de língua, herdeiro do espiritualismo de Durkheim. A postura sociológica que lhe subjaz não é ideologicamente neutra, como permite inferi-lo o papel de usuários intercambiáveis da língua, reservado aos participantes da comunidade linguística.
[14:26] <Elizabeth_>  Como consequência, a filosofia da linguagem herdeira do pensamento durkheimeano isola-a das ciências da natureza e elimina qualquer tensão entre os participantes do ato comunicativo, desprovidos de perspectiva de negociação, já que são concebidos como intercambiáveis.
[14:26] <Elizabeth_> Por essa via, não há como correlacionar a variedade das produções semióticas e a social (um dos objetivos das sociossemiótica), nem estudar a negociação das distâncias entre os parceiros da troca semiótica (foco da retórica geral).
[14:27] <Elizabeth_> As escolas semióticas tradicionalmente difundidas separam-se entre as racionalistas (em geral europeias, descendentes de Saussure, Hjelmslev, Greimas) e as pragmáticas (em geral americanas, a exemplo de Peirce e Morris).
[14:27] <Elizabeth_> Como pano de fundo para desenvolver um breve panorama de como essas duas principais vertentes pensam a relação entre mundo e linguagem,
[14:28] <Elizabeth_> omo o exemplo de modelo do sistema solar geocêntrico, proposto por Ptolomeu, século II DC (SLIDE 3),
[14:28] <Elizabeth_> heliocêntrico, proposto por Copérnico (1473- 1543) (SLIDE 4)
[14:28] <Elizabeth_> e geo-heliocêntrico, de Tycho Brahe, (1546 - 1601) (SLIDE 5)
[14:29] <Elizabeth_> Por que modelos diferentes? A Terra, o Sol e os planetas não mudaram radicalmente de movimentação,mas seus modelos representativos, sim.
[14:29] <daniervelin> código para acessar os slides à direita: elizabeth
[14:29] <Elizabeth_> Resposta hipotética das vertentes pragmáticas: porque o conhecimento se desenvolve e entende melhor e mais aprofundadamente o mundo, podendo assim chegar mais perto da verdade de sua representação. Os modelos representam o mundo (representamen). As leis da natureza são descobertas pelo homem.
[14:30] <Elizabeth_> Resposta hipotética das vertentes idealistas: porque o conhecimento se desenvolve e novos modelos são necessários para se responderem às novas perguntas que são colocadas.
[14:30] <Elizabeth_>  Os modelos não representam o mundo, mas criam um mundo representado. Não temos acesso às leis da natureza, criamos um simulacro de mundo, por meio da linguagem (hoje, do discurso).
[14:31] <Elizabeth_>  (SLIDES 6 E 7)
[14:32] <Elizabeth_> Cada simulacro traz em seu bojo consequências na interpretação dos fenômenos.
[14:33] <Elizabeth_> Se o modelo geo-heliocêntrico satisfazia a igreja, na Idade Média, deixava a desejar às matemáticas, quando chegava a hora de calcular as órbitas.
[14:34] <Elizabeth_> Embora a projeção do movimento dos planetas desenhasse uma bela rosáscea, o cálculo e as projeções de movimentos futturos ficava comprometido pela grande complexidade.
[14:35] <Elizabeth_> Os simulacros que criamos mudam, também, quando mudam as perguntas que fazemos a eles, quando nos colocamos questões que são incapazes de bem reponder.
[14:35] <Elizabeth_> Volto a Helen Keller (SLIDES 8 E 9) e à proposição avançada pelo Grupo m, de Liège, Bélgica, à questão “De onde vem o sentido?”, a fim de fomentar reflexões sobre os processos pelos quais o mundo (natural e social) é traduzido em cultura, pela ação das linguagens.
[14:36] <Elizabeth_> A palavra insight  é duplamente interessante para descrever esse momento-chave em que Keller, no lugar de eleger a hipótese de memorização de nomes para as coisas , destaca relações estabelecidas entre estímulos sensórios (entre si e com algo além deles), um primeiro grau de sintaxe, a partir de separações e reagrupamentos dos elementos percebidos .
[14:36] <Elizabeth_> Brandt (WEB, s/d, p. 11) descreve o processo de significação como tendo início na fusão de material sensório em instâncias de percepção sincrética, multimodal. Tais instâncias geram perceptos que, por sua vez, convertem-se em “mundos” espaço-temporais.
[14:36] <Elizabeth_> Estes últimos integram-se às crenças e aos afetos dos sujeitos e o todo se estende em processos neurofenomenológicos que, para se estabilizarem como sentido (meaning) e virem a ser memorizados, dependerão de determinações contextuais.
[14:36] <Elizabeth_> A fim de serem resgatáveis, os conteúdos precisam se tornar reflexivos, pois é por meio da reflexivização que se tornam sentido e podem ser memorizados. Para o autor, prestar atenção a algo é exatamente permitir o estabelecimento desse processo de reflexivização.
[14:37] <Elizabeth_> O grau de compatibilidade identificável entre o processo descrito por Brandt e o relato de Keller é grande: (SLIDE 10)
[14:37] <Elizabeth_> a)    material sensório se funde em instâncias de percepção sincrética, multimodal, que geram perceptos: o fluxo fresco escorria sobre uma mão,[sua professora] soletrava na outra a palavra água, primeiro lentamente, em seguida, rapidamente;
[14:37] <Elizabeth_> b)    perceptos tornam-se “mundos” espaço-temporais e estes se integram às crenças e aos afetos dos sujeitos: uma emoção repentina e forte de pensamento que retornava; (SLIDE 11)
[14:37] <Elizabeth_> c)    conteúdos devem se tornar reflexivos, pois é por meio da reflexivização que se transformam em sentido (meaning) e podem ser memorizados: senti uma consciência nebulosa como de algo esquecido — uma emoção repentina e forte de pensamento que retornava; soube então que "á-g-u-a" significava a coisa fresca maravilhosa que fluía por sobre minha mão;
[14:38] <Elizabeth_> d)    o processo de reflexivização instaura-se em resposta ao ato de atentar-se a algo: Fiquei imóvel, toda minha atenção presa aos movimentos de seus dedos. De repente, senti uma consciência nebulosa como de algo esquecido...
[14:38] <Elizabeth_> Brandt (2010) propõe o seguinte modelo para a integração de conteúdos em sentidos meaning de complexidade crescente. (SLIDE 12)
[14:39] <Elizabeth_> O momento da instauração da relação entre os estímulos táteis “frescor” e “dedilhado” é da ordem do acontecimento zilberberguiano, e de um tipo de acontecimento particular, o “assomo”, designado por Cassirer como “vivência da significação”.
[14:39] <Elizabeth_> Se essa vivência se dá de modo forte e afetivamente intenso, remete à interjeição (ZILBERBERG, 2006, p. 16). É em situação de interjeição que se descreve Keller: (SLIDE 13) “De repente, senti uma consciência nebulosa como de algo esquecido — uma emoção repentina e forte de pensamento que retornava”. (grifo meu)
[14:39] <Elizabeth_> O acontecimento é raro e intenso, sua repetição o transformará em fato (ZILBERBERG, 2008, p. 5). E Keller, após o primeiro salto qualitativo, o “assomo”, retrata-se como desperta:
[14:40] <Elizabeth_> (SLIDE 14) “Aquela palavra viva despertou minha alma, deu-lhe luz, esperança, alegria, libertou-a”! (grifos meus)
[14:40] <Elizabeth_> Klinkenberg e Edeline (2011), movidos pela questão “por que há sentido, ao invés de nada?”, aplicam-se a desvendar como se dá, do ponto de vista semiótico, o processo de integração do que Brandt (s/d, 2005) nomeia de “fusão de material sensório em perceptos”, ou anassemiose, para os autores.
[14:40] <Elizabeth_> A estrutura mínima para tal operação, chamada dipolo, está presente desde as formas de vida mais básicas. O dipolo permite a percepção de um gradiente, isto é, de uma diferença ou variação de estímulos externos.
[14:40] <Elizabeth_> Tal diferença pode ser concomitante, como no fenômeno que gera o tropismo, ou sequencial – por exemplo, em organismos unicelulares, por operação de uma memória química. Para o gradiente ser acusado pelo dipolo, isto é, ser percebido, é necessário ter uma ordem de grandeza compatível com a estrutura a registrá-lo.
[14:41] <Elizabeth_>  Variações pequenas demais são ignoradas, pois imperceptíveis. Uma escala de cores dá um bom exemplo: enquanto vemos claramente variações de cor em faixas maiores, dificilmente percebemos diferença entre dois pontos muito próximos.
[14:41] <Elizabeth_> O olho humano percebe mudanças de cor a partir de limiares mínimos, fisiológicos, mas também culturais.  A operação de limiarização é responsável por mudanças de qualidade, por exemplo, de estímulos sensoriais para perceptos.
[14:41] <Elizabeth_> Na ausência da limiarização, tais estímulos permanecem tão somente o que são na origem: estímulos sensoriais.
[14:41] <Elizabeth_> A operacionalidade do conceito de limiarização não se limita ao nível sensorial, mas manifesta-se em todos os níveis possíveis de triagem, como no caso do acontecimento zilberberguiano e do assomo de Cassirer .
[14:42] <Elizabeth_> O confronto tátil do contato com a “coisa fresca maravilhosa” e com o dedilhado soletrando “á-g-u-a” faz a menina relacioná-los e produz o acontecimento provocador daquilo descrito como seu despertar.
[14:42] <Elizabeth_> Nas primeiras semanas, encantada com o poder facilitador da “mágica” da linguagem, na obtenção das coisas que queria, aprendeu várias novas palavras. Até essa época, sustenta a autora, em seu mundo não havia comparação de estados mentais, nem consciência de qualquer mudança ou processo interno que lhe estivesse ocorrendo. Só pensava em coisas que queria.
[14:42] <Elizabeth_> Era o “abrir o congelador numa escala maior” (KELLER, 1904, p. 145), o uso instrumental das palavras aprendidas. O segundo salto qualitativo ainda estava por acontecer.
[14:43] <Elizabeth_> "Quando aprendi o significado de “eu” e “me” e entendi que eu era algo, comecei a pensar. Aí a consciência começou a existir para mim. Assim, não foi o sentido do tato que me trouxe conhecimento. Foi o despertar de minha alma que deu valor a meus sentidos, seu conhecimento de objetos, nomes, qualidades e propriedades.
[14:43] <Elizabeth_> O pensamento me fez consciente do amor, da alegria e de todas as emoções. Eu queria muito conhecer, então entender e, depois, refletir sobre o que conhecera e entendera. E o ímpeto cego, que antes me levava de lá para cá, aos ditames de minhas sensações, desapareceu para sempre." (KELLER, 1904, p. 145-6, tradução minha)
[14:43] <Elizabeth_> Ideia – aquilo que dá identidade e continuidade à experiência – entrou em minha existência adormecida e acordada no mesmo momento do despertar de minha autoconsciência ". (KELLER, 1904, p. 199, tradução minha)    
[14:44] <Elizabeth_> As reflexões de Keller dão sustentação à hipótese de que é preciso mais do que palavras, experiência e ação, em sociedade, para se construir memória capaz de integrar identidade: uma espécie de confiança nos sentidos é condição necessária.
[14:44] <Elizabeth_> Trata-se de confiança em seu sentido primeiro de “segurança íntima de procedimento” (HOUAISS, 2001), ou de “Sentiment qui fait qu'on se fie à quelqu'un ou à quelque chose.” (LITTRÉ, v 1.3). Em suma, um sentimento seguro que possibilitará o estabelecimento de uma base e um crivo comum ao que vem a ser sopesado.
[14:44] <Elizabeth_>  É o segundo nível de limiarização potencial que se apresenta. Se instalado, o mundo simbólico, já concebido, poderá ser habitado.
[14:44] <Elizabeth_> Além de conhecer os estímulos sensoriais proporcionados pelo contato com o mundo, Keller assevera ser imprescindível a atribuição de valor a eles, para reconhecê-los.
[14:45] <Elizabeth_> Duas propriedades imbricam-se nessa operação, uma inteligível e uma sensível: a atribuição de valor pressupõe a apreensão de um gradiente ou de uma diferença, que é o significado distintivo de valor, e um grau de investimento afetivo sobre a distinção percebida, que corresponde ao sentido psicológico da palavra.
[14:45] <Elizabeth_> Esses dois conceitos estão subsumidos na expressão dar valor aos sentidos (sensórios, pois os meanings já são investidos de valor). Conquistada essa síntese, características tornam-se reconhecíveis no mesmo objeto e em outros que as atestem. Estabelece-se o que Klinkenberg e Edeline (2011) nomeiam de qualidade translocal.
[14:45] <Elizabeth_> Feita essa conquista e habitadas as novas possibilidades de compreensão do mundo que essa síntese permite, a narradora pôde dar o novo salto caracterizado pelo conceber-se como “algo”, a partir de um desdobramento entre “eu” e “me”, condição germinal da alteridade.
[14:45] <Elizabeth_> Infere-se que a esse desdobramento de si corresponda a ideia de que, assim como é possível ao eu ser algo, o mesmo se aplica ao que para tal eu é algo, isto é, tal algo poderá ser eu para alguém.
[14:46] <Elizabeth_> O mundo se complexifica e, de eu e não eus, passa a ser habitado por um eu que pode ser algo, por outros que podem ser eus e por outros que não podem ser eus, os dois primeiros consistindo em instâncias que contribuem para a construção do sentido (“eu” e “tu/você”), e o terceiro (“ele/ela”), “matéria-prima” a partir da qual o sentido, doravante como concebido no âmbito do discurso, se construirá.
[14:46] <Elizabeth_> Configuram-se, então, as condições para a fidúcia, que, instalando-se, tornará possível o compartilhamento de experiências. Em havendo atribuição de valor aos sentidos (sensórios), abre-se a possibilidade para o estabelecimento de relações entre efeitos de sentir intra e intersubjetivos;
[14:46] <Elizabeth_>  se, além desse nível preliminar, a confiança se instaurar na relação intersubjetiva, estabelecendo a fidúcia, poderá promover o reconhecimento das experiências, sua nomeação e seu compartilhamento.
[14:46] <Elizabeth_> Vou agora abreviar  a sequência, para concluir.
[14:47] <Elizabeth_> Abrem-se as portas à experiência da repetição, da duração, do início e do fim, e o tempo irrompe no mundo simbólico, passando a significar, assim como a consciência de si e da própria inserção no tempo e no espaço – enfim, no mundo . “Il y a de la rationalité, c-a-d: les perspectives se recoupent, les perceptions se confirment, un sens apparaît”, descreve Merleau-Ponty (1945, p. xv).
[14:47] <Elizabeth_> Sim, desde que, no início de tudo, funde-se a confiança nas formas de percepção e se dê sua valorização. E, no construir o sentido (meaning)– ação individual e social que pressupõe a fidúcia -, esse efeito característico do arranjo das perspectivas e percepções seja nomeado. Caso contrário, resultará fugaz e se dissipará no inefável.
[14:47] <Elizabeth_> Retomando Brandt (s/d e acrescentando 2005), Klinkenberg e Edeline (2008) e Grupo  (2011), o caminho percorrido entre o sentir e o saber, do ponto de vista da significação, pode ter o seguinte detalhamento, recortado artificialmente, por esforço de clareza: (SLIDE 15)
[14:48] <Elizabeth_> 1.    Ocorre a percepção de um fenômeno. Nos termos de Brandt, há fusão de material sensório em instâncias de percepção sincrética, multimodal. Instaura-se o dipolo (Grupo ). No exemplo de Keller, há fusão de material sensório, porém apenas do modo tátil.
[14:48] <Elizabeth_> 2.    A percepção do fenômeno traduz-se em uma semiose perceptiva, os perceptos.  Ocorre o procedimento de limiarização (Grupo ) Esse primeiro nível semiótico é fundamental, está na base de toda significação. Todo processo de produção de sentido o pressupõe.  O proprioceptivo entra na estrutura profunda e faz par com a lógica: o sensível e o inteligível se aliam. Tem-se um vetor de semiotização que, para se tornar
[14:49] <Elizabeth_> 3.    (SLIDE 16)A percepção, em estado de semiose perceptiva, ou percepto, adquire valor. Estabelece-se a qualidade translocal (Grupo ):
[14:49] <Elizabeth_> a.    percepções tornam-se comparáveis, possibilitando seu reconhecimento e transferência a outras experiências; b.    percepções tornam-se aspectualizáveis (o repetido – iterativo; o contínuo – continuativo; o início – incoativo; o final – terminativo);
[14:49] <Elizabeth_> c.    constitui-se “mundo” espaço-temporal; d.    Insight do desdobramento de eu em algo estabelece o germe da alteridade e complexifica as relações eu-mundo, doravante habitado por três instâncias: eu, tu e ele.
[14:50] <Elizabeth_> e.    há consciência de si e da própria inserção no tempo e no espaço. Instaura-se a fidúcia; o dispositivo enunciatário se completa e pode ser colocado em funcionamento.
[14:50] <Elizabeth_> 4.    (SLIDE 17)Tornam-se possíveis semioses reflexivas; logo, a consciência reflexiva e as trocas intersubjetivas, em coconstrução.  Seuillage et translocalidade em graus de complexidade crescente (Grupo  2011); griles d’interprétation et retour des résidus (Klinkenberg e Edeline 2008):
[14:51] <Elizabeth_> 5.    (SLIDE 18 A)Compõe-se o repertório de crenças, afetos, informações e conhecimentos, o conteúdo simbólico da pessoa.  (SLIDE 18 B)Este repertório está sempre sujeito a tensões afetivas, culturais e residuais (Grupo  2011), (SLIDE 18 C)a renegociações internas e externas, com o grupo, diante da passagem do tempo e dos acontecimentos (Ricoeur 2004).
[14:51] <Elizabeth_> (Esqueçam o A, B, C, era dinâmica na apresentação em ppt. Desculpme-me,esqueci de retirar).
[14:52] <Elizabeth_> Concluindo, as reflexões propostas têm valor científico fraco, pois são tributárias a relatos de uma pessoa empírica e uma só. Não significa que não devam ser consideradas, principalmente porque, no campo da educação de crianças portadoras de cegueira e surdez congênitas (Bruce, 2006 e outros),
[14:52] <Elizabeth_> os estudos indicam haver patamares de limiarização atingidos por apenas parte delas, sendo a aquisição da linguagem restrita às que conquistam a tríade eu-tu-ele, mediante a concepção da possibilidade de “eu” ser “outrem” para o “outro” e vice-versa, (e a hierarquização da categoria das pessoas sobre a de não pessoas - os objetos), concomitantemente com a instauração do que a semiótica lê como fidúcia.
[14:52] <Elizabeth_> Obrigada! E peço perdão pelo atraso!
[14:53] <daniervelin> obrigada, Elizabeth_ !
[14:53] <daniervelin> convido o Conrado__ para apresentar e, em seguida, dialogamos, pode ser?
[14:53] <Conrado__> Claro]
[14:53] <Elizabeth_> Claro!
[14:54] <daniervelin> ótimo! então a palavra é sua Conrado__ !
[14:54] <Conrado__> Informo apenas que podrei ficar ate as 15:15 pq estou em pocos de caldas e volto para bh no bus das 16h
[14:54] <Conrado__> bom, antes de mais nada, parabéns, Beth pela palestra super interessante.
[14:55] <Conrado__> sorriso
[14:55] <Conrado__> A minha será mais modesta
[14:55] <Elizabeth_> Obrigada e desculpe- tê-loa atrasado,não sabia de seu horário.
[14:55] <daniervelin> que pena! de toda forma, você pode informar seu contato de e-mail depois e enviaremos dúvidas e sugestões depois
[14:55] <Conrado__> imagina, sem probs.
[14:56] <Conrado__> sim, claro: eh conradomendes@yahoo.com.nr
[14:56] <Conrado__> *br
[14:56] <Conrado__> Boa tarde a todos.
[14:56] <Conrado__> Vou falar com vocês sobre alguns elementos de minha pesquisa de doutorado, concluída em agosto.
[14:57] <Conrado__> Estudei o fait divers à luz da semiótica tensiva. Então, vamos por partes.
[14:57] <Conrado__> Para quem não conhece o termo, a expressão francesa fait divers (tradução literal de ‘fato diverso’) designa relatos de eventos surpreendentes, inesperados, em geral, envolvendo mortes, agressões, notícias sobre temas bizarros.
[14:57] <Conrado__> O uso do termo foi registrado pela primeira vez no periódico parisiense Le Petit Journal em 1863. Entretanto, como tipo de manifestação cultural oral, o fait divers existe desde a Idade Média.
[14:57] <Conrado__> No Brasil, relatos de mortes, suicídios e desgraças em geral chegam praticamente ao mesmo tempo em que se difundem pela Europa.
[14:58] <Conrado__> A partir do século XX, o fait divers torna-se cativo nas páginas dos jornais brasileiros. O ano de 1963, por sua vez, é marcado pelo nascimento do Notícias Populares (NP) em SP, um jornal nutrido basicamente de faits divers e que se caracterizava por um estilo popularesco, com manchetes em tipografia exagerada, imagens coloridas de cadáveres, nudez e linguajar chulo.
[14:58] <Conrado__> A televisão absorveu muito bem o gênero em programas como o Aqui Agora. Atualmente, Cidade Alerta ou Brasil Urgente desempenham o papel de levar ao público notícias que se pautam muito mais pelo sensível que pelo inteligível, mais pela emoção que pela razão.
[14:58] <Conrado__> Em geral, o fait divers aparece nas editorias ‘Cidades’ ou ‘Cotidiano’ nos jornais escritos. Entretanto, dependendo da força e do impacto de um fait divers, ele pode até mesmo virar capa, ou, no caso dos telejornais sensacionalistas ou não, ser coberto por dias, semanas ou até meses, tal como foi o Caso Isabella Nardoni, o fait divers a que mais me detive na pesquisa.
[14:59] <Conrado__> Nesse caso específico, ocorrido em 2008, pai e madrasta defenestraram a filha/enteada do sexto andar do apartamento do pai. O caso causou grande comoção popular tendo uma cobertura jornalística especialmente longa.
[14:59] <Conrado__> Roland Barthes, semiólogo francês (1915-1980), foi o primeiro teórico a propor uma estrutura para o fait divers.
[14:59] <Conrado__> tal texto data de 1964
[14:59] <Conrado__> Para o autor, trata-se de “uma informação monstruosa”. Entretanto, para Barthes, o fait divers não possui duração nem memória.
[15:00] <Conrado__> Em nossa pesquisa de doutorado quisemos verificar, entre outras coisas, se, atualmente, o fait divers não seria passível de acolher uma duração extensa – e observamos que sim.
[15:00] <Conrado__> Outros casos semelhantes, tal como o Caso von Richthofen ou o Eloá Pimentel foram pauta de todos os noticiários brasileiros, ressoando, inclusive, internacionalmente, não apenas por uma edição, mas várias.
[15:01] <Conrado__> Assim, a nosso ver, atualmente, o fait divers pode possuir uma duração variável de curta a longa, sem que isso descaracterize esse tipo de notícia.
[15:02] <Conrado__> Vou contar agora como cheguei à pesquisa propriamente dita.
[15:02] <Conrado__> Como disse a Daniervelin ao abrir os trabalhos do STIS de hoje, sou graduado em Comunicação Social/Jornalismo pela UFMG e, nesse período, devido a muitas disciplinas que cursei como eletivas no Departamento de Linguística da Faculdade de Letras da mesma instituição, acabei me interessando pela perspectiva dos estudos da linguagem para o estudo dos textos veiculados pelos meios de comunicação.
[15:03] <Conrado__> Assim, logo após o término da graduação, ingressei no Mestrado em Estudos Linguísticos da UFMG e minha pesquisa aí analisou uma semana, independente da temática, de Jornal Nacional.
[15:03] <Conrado__> Nessa época, estava preocupado com questões relativas à expressão da fala, mas também com aspectos relacionados ao plano do conteúdo da língua, ou seja, o discurso.
[15:03] <Conrado__> Para o doutorado, eu queria uma espécie de estudo de caso. Estava finalizando o mestrado, quando estourou o Caso Isabella Nardoni. Como já estava estudando o JN, salvei um corpus de três meses de cobertura ininterrupta do noticiário, já com o objetivo de estudá-lo na próxima pesquisa.
[15:03] <Conrado__> Já no doutorado, na Universidade de São Paulo, estudei com mais profundidade um dos desdobramentos atuais da semiótica francesa, chamada semiótica tensiva, desenvolvida principalmente pelo semioticista francês Claude Zilberberg.
[15:03] <Conrado__> Essa teoria deu o suporte teórico-metodológico para a pesquisa, porquanto ela volta seu foco de interesse para o aspecto sensível da significação.
[15:04] <Conrado__> Em linhas gerais, para a semiótica tensiva, é a emoção que governa a razão ou, em termos semióticos, é a intensidade que rege a extensidade. Por aí, eu pude observar por que o caso durou tanto tempo e por que tamanha comoção social foi suscitada.
[15:04] <Conrado__> A questão que guiou nosso estudo foi “por que o caso se estendeu por tanto tempo?”
[15:04] <Conrado__> No Caso Isabella Nardoni, em específico, pudemos constatar alguns elementos que justificam essa longa duração.
[15:07] <Conrado___> Desculpem, caiu a conexao
[15:07] <daniervelin> sem problemas
[15:07] <Conrado___> Em primeiro lugar, há que se diferenciar dois tipos de acontecimento. O primeiro foi o motivador do caso: o assassinato da menina, veiculado na primeira reportagem.
[15:07] <Conrado___> O do segundo tipo são os ‘microacontecimentos’, assim denominados no âmbito de nossa pesquisa. Esses são compreendidos como eventos secundários que se relacionam a um evento principal e motivador.
[15:07] <Conrado___> Microacontecimentos são, por assim dizer, fragmentos, estilhaços do acontecimento principal: notícias veiculadas posteriormente que agregam alguma nova informação ao caso, impedindo que sua intensidade (aspecto sensível) decresça num curto período de tempo.
[15:07] <Conrado___> No caso em questão, não paravam de surgir novos desdobramentos sobre o caso. Em outras palavras, o telespectador não conseguia, por mais que quisesse, absorver o impacto daquelas informações monstruosas, uma vez que outras novas informações não paravam de surgir ou de reverberar.
[15:08] <Conrado___> Para a semiótica, o sujeito precisa de temporalidade para que consiga converter o aspecto sensível da significação em inteligível. Assim, é como se o sujeito ficasse estarrecido tentando compreender o que aconteceu, mas essa tarefa era impossível de ser levada a cabo porque outras notícias relacionadas ao caso não paravam de irromper.
[15:08] <Conrado___> Assim, a tonicidade (o impacto daquelas reportagens que afetava os sujeitos telespectadores) projetada sobre a temporalidade (o período de tempo em que aquelas reportagens repercutiam) criava um efeito de persistência. E é justamente esse efeito de persistência uma das razões pelas quais o fait divers em questão foi durativo.
[15:08] <Conrado___> Há outros elementos, além disso, para que o caso tivesse tomado as proporções que tomou.
[15:08] <Conrado___> Em primeiro lugar, o enunciatário “telespectador” não sabia quem havia cometido o assassinato. Esse era, pelos termos da semiótica, modalizado pelo querer-saber.
[15:08] <Conrado___> Os protagonistas da história eram brancos (para os padrões brasileiros) e pertenciam à classe média/média-alta, de modo a “singularizar” o crime (tal como o caso von Richthofen).
[15:09] <Conrado___> Os suspeitos eram o pai e a madrasta que tinham atentado contra a vida da própria filha. Isso revela a estrutura concessiva do crime. Concessão em semiótica não significa conceder algo, mas, assim como na gramática, revela algo que “embora não fosse de se esperar, aconteceu”.
[15:09] <Conrado___> Noutros termos, embora pai e mãe, pelo senso comum, pela doxa, sejam responsáveis pela criação e bem estar dos filhos, ele, no caso, apesar disso (aí está a concessão), se revelou o assassino da própria filha, junto com sua segunda mulher – a madrasta.
[15:09] <Conrado___> Este termo, aliás, foi sobejamente utilizado pela mídia. Não era a “companheira” de Alexandre Nardoni, ou a “esposa”, ou “a segunda mulher” – mas a “madrasta”.
[15:09] <Conrado___> Ao fazer isso, consciente ou inconscientemente, a imprensa já emitia a sentença de culpa a Anna Carolina Jatobá, fundada no estereótipo da cultura/língua de que as madrastas são sempre más. Os contos de fada, nesse sentido, são ilustrativos de inúmeros estereótipos arraigados no imaginário coletivo.
[15:11] <Conrado___> Ao fazer isso, consciente ou inconscientemente, a imprensa já emitia a sentença de culpa a Anna Carolina Jatobá, fundada no estereótipo da cultura/língua de que as madrastas são sempre más. Os contos de fada, nesse sentido, são ilustrativos de inúmeros estereótipos arraigados no imaginário coletivo.
[15:11] <Conrado___> O corpus da pesquisa se refere à cobertura feita pelo Jornal Nacional. A razão disso é que esse noticiário, em geral, não se pauta pelo sensacionalismo.
[15:11] <Conrado___> Podemos dizer que um caso como esse pode prescindir do sensacionalismo, pois o sensível já está no próprio conteúdo do relato.
[15:11] <Conrado___> Sensacionalismo, como o próprio nome diz, significa tornar algo sensacional ou sensível, através da linguagem, algo não necessariamente sensacional.
[15:11] <Conrado___> Assim, apesar do relato menos passional – se compararmos, por exemplo, com o que faria o Cidade Alerta ou Brasil Urgente, por exemplo – o Caso Isabella Nardoni se mostrou ancorado no sensível, no patêmico.
[15:12] <Conrado___> E isso, mesmo com um relato mais “objetivo” do que “subjetivo”, que caracteriza o JN. Em relação ao estudo da mídia audiovisual, metodologicamente, nós analisamos frames (quadros) das imagens exibidas.
[15:12] <Conrado___> E, a partir da relação entre o visual e o verbal, a pesquisa mostrou uma certa dissociação entre o saber e o crer do ponto de vista do enunciador “Jornal Nacional”. O que o verbal dizia estava modalizado pelo querer-saber, enquanto o visual mostrava um enunciador modalizado pelo crer-ser.
[15:12] <Conrado___> Isso porque se mostravam muito mais imagens do ponto de vista da acusação (simulações feitas por computador, fotos de peritos de vestígios, fotos de simulação com boneco forense) do que da defesa do casal acusado.
[15:12] <Conrado___> Em outras palavras, pelo verbal, o noticiário era mais neutro (em termos de determinar os culpados) do que pelo visual.
[15:12] <Conrado___> Outra coisa interessante que a pesquisa mostrou foi que qualquer notícia pode ter uma dimensão afetiva. No entanto, pode-se apelar mais ou menos para seu aspecto sensível.
[15:13] <Conrado___> A nosso ver, privilegiar o aspecto afetivo do relato jornalístico configura-se como uma estratégia do enunciador “noticiário” que visa a ampliar o número possível de enunciatários “telespectadores”.
[15:13] <Conrado___> Desse modo, se o enunciador se ancorasse unicamente no cognitivo, acabaria privilegiando um enunciatário mais escolarizado. Por outro lado, ao centrar-se no afetivo, consegue abarcar enunciatários de todos os níveis sociais e de escolaridade.
[15:13] <Conrado___> Isso porque todos têm um lado afetivo, humano, que se choca e se põe no lugar do outro, em maior ou menor grau.
[15:13] <Conrado___> Graças aos outros faits divers estudados, pudemos ainda fazer uma espécie de tipologia do fait divers.
[15:13] <Conrado___> Em geral, o fait divers pode ser mais átono ou mais tônico (em termos de intensidade/sensível).
[15:13] <Conrado___> Um dos faits divers que analisamos foi a notícia veiculada por O Globo (jornal impresso) de um bebê negro espancado até a morte pelo pai e pela madrasta. A mesma temática do Caso Isabella Nardoni, portanto.
[15:14] <Conrado___> Contudo, por inúmeras razões (por exemplo: os personagens eram negros e pobres; os assassinos foram quase que imediatamente identificados) esse fait divers teve repercussão apenas no dia seguinte.
[15:14] <Conrado___> Desse modo, ele é tônico (porque impactante) e concentrado (pela curta duração).
[15:14] <Conrado___> Faits divers também podem ser átonos (e concentrados) a respeito de notícias menos impactantes, mas que, nem por isso, deixam de ser fait divers: alguém que ganhou na loteria duas vezes, ou “seu” José, que após ter ganho na loteria, descobriu que perdeu o bilhete premiado.
[15:14] <Conrado___> Nesse sentido, o fait divers é sempre fato inabitual, distinto daquilo que se espera: não se espera que pai mate o próprio filho; não se espera que alguém que ganhou na loteria ganhe de novo; não se espera que alguém que ganhou na loteria perca o bilhete, etc.
[15:14] <Conrado___> Assim, os faits divers átonos e aqueles tônicos e concentrados são “comuns” tanto porque repercutem menos quanto porque são mais numerosos.
[15:14] <Conrado___> Os fait divers “raros”, a exemplo do Caso Isabella Nardoni, são tônicos e extensos, ou seja, têm um grande impacto, uma grande força de afetação e, não obstante, são longos e, por isso, menos numerosos.
[15:14] <Conrado___> Por essa razão, em geral, a memória coletiva em relação a casos como esse costumam permanecer.
[15:14] <Conrado___> Em linhas gerais, assim posso resumir os principais resultados da pesquisa, realizada em quatro anos e meio, entre 2009 e 2013. Três anos e meio no Brasil e um ano na França em estágio doutoral.
[15:15] <Conrado___> A investigação, que se intitula Semiótica e mídia: uma abordagem tensiva do fait divers, foi desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Semiótica e Linguística Geral  da Universidade de São Paulo, sob orientação do Prof. Dr. Waldir Beividas, e na Université Paris 8 Vincennes-Saint-Denis, com supervisão do Prof. Dr. Denis Bertrand.
[15:15] <Conrado___> No Brasil obtive apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo e, no estágio doutoral no exterior, obtive apoio da CAPES.
[15:16] <daniervelin> obrigada pela apresentação, Conrado___ !
[15:16] <daniervelin> podemos abrir a sala para as questões?
[15:17] <Conrado__> Gostaria de agradecer a oportunidade de poder falar sobre minha pesquisa de doutorado para um público mais amplo e interdisciplinar, que é o do STIS! Obrigado, Ana Cris, Dani, Adelma, Woodson e  todos os envolvidos.
[15:18] <Conrado__> Quem se interessou pelo trabalho, está disponível para download no seguinte endereço: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8139/tde-18102013-150803/pt-br.php
[15:18] <Conrado__> Muito obrigado pela atenção! sorriso
[15:18] <daniervelin> obrigada, Conrado__ e Elizabeth_ pelas apresentações tão intensas e didáticas!
[15:18] <daniervelin> alguém tem comentários, perguntas?
[15:18] <Elizabeth_> Muito interessante, Conrado!
[15:18] <Conrado__> Peço desculpas por ter de deixá-los agora. Mais uma vez obrigado e a´te a p´roxima
[15:18] <Conrado__> sorriso
[15:19] <adelmaa> Também temos uma entrevista concedida pelo prof Conrado ao Portal Imprensa discorrendo sobre sua tese: http://www.portalimprensa.com.br/noticias/brasil/61888/pesquisador+analisa+caso+isabella+nardoni+pelo+olhar+do+jornal+nacional
[15:19] <Conrado__> sorriso
[15:19] <daniervelin> sorriso)
[15:20] <daniervelin> Elizabeth_, sua análise está publicada em algum artigo?
[15:21] <Elizabeth_> Gostei muito da palestra de Conrado. Lembrou-me do trabalho de Nilton Fernandez, sobre os telejornais, em que ele apontava para a velocidade da troca de notícias como fator de sensibilização do público e de redução da possibilidade de reflexão: as pessoas se emocionavam, vendo o telejornal,mas, ao final, pouco se lembravam e menos ainda conectavam com outras notícias!
[15:21] <Woodsonfc__> Elizabeth, é um consenso em todas as semióticas que o sensível tem predominância sobre o inteligível?
[15:22] <Elizabeth_> A análise que apresentei aqui é um trechinho de minha Teses de Livre-Docência, seu trecho incial. Uma versão próxima a ela, mas focada na questão do valor, está aceita para publicação (na França), em 2014.
[15:22] <Woodsonfc__> na produção do sentido
[15:22] <Elizabeth_> Estou ainda reformulndo a introdução da teses, para transformá-la em livro e submetê-la.
[15:23] <daniervelin> ótimo!
[15:24] <Woodsonfc__> Alô!
[15:24] <daniervelin> adorei a explicação com as representações do sistema solar!
[15:24] <Elizabeth_> Woodson, várias semióticas não se dedicam ao sensível, no sentido zilberberguiano. Há também aquelas que focalizam o sensível no sentido fenomenológico: para essas, sim, o sensível rege o inteligível, na gênese do sentido. Uma vez o sentido estabelecido, o recurso ao sensível nãoé mais obrigatório, em boara possa sempre ocorrer.
[15:25] <adelmaa> Elizabeth, dsculpe-me pela minha ausência na parte inicial de sua palestra. Lerei por completo, com prazer e ansiedade, quando tiver acesso ao log do evento de hoje.
[15:25] <Elizabeth_> Ah, o sistema solar dá um exemplo bem gostoso, para pensar suas explicações semióticas.
[15:25] <daniervelin> fica bem mais fácil explicar a relação entre mundo natural e a linguagem
[15:26] <Elizabeth_> Imagine! Quando a ler, se quiser perguntar algo é só escrever. Meu email está no último slide.
[15:26] <Lilian_> não consegui visualizar os slides, mas pelo chat deu pra entender bem
[15:26] <daniervelin> eu também percebi assim, Lilian_
[15:27] <Elizabeth_> Obrigada. Os slides ilustram. Acho que podem ajudar, mas de fato, não são essenciais.
[15:27] <Woodsonfc__> Interessante ver que a linguagem emerge de uma forte experiência sensível sem a qual não se estabeleceria a intelecção necessária para a aquisição da língua
[15:28] <Elizabeth_> No caso da educação de crianças nascidas surdas e cegas, não havia tempo para falar, os estudos mostram que apenas 50% consegue se apoderar da linguagem em seu sentido amplo.
[15:28] <Woodsonfc__> O que parece comprovar essa gênese, não, Elizabeth. Haveria alguem que pense diferente?! Pierce?
[15:29] <Elizabeth_> E que 50% usam a linguagem apenas como via de mão única, para expressar necessidades, desejos, com baixa interaçaõ.
[15:29] <Elizabeth_> Desculpem minha digitação.
[15:30] <Woodsonfc__> Mas há nesses 50% algum indício de problemas mentais associados?
[15:30] <Elizabeth_> A preocupação de Peirce é distinta. Lembra da máxima saussureana, que "o ponto de vista faz o objeto"?
[15:30] <Woodsonfc__> Nos que não conseguem ter acesso a linguagem ampla!
[15:31] <Elizabeth_> Volto a Peirce e depois aos outros 50%: a preocupação dele é filosófica, voltada para os graus (se é que posso dizer assim) de complexificação do sentido. A semiótica cognitiva vê grande interesse na história de Keller, pois parece representar bem o modo como parte de seus pesquisadores pensa.
[15:32] <Elizabeth_> Os outros 50%: não, sem indício de outros problemas. Creio que seja devido à dificuldade de romper o que Keller chamava de sua "prisão interna".
[15:32] <Woodsonfc__> Fico desconsertado em pensar esse fazer o objeto, me parece muito limitador para a Ciência que pretende desvendar o real por trás das ilusões!
[15:33] <daniervelin> interessante no caso da Hellen que foi a falta que exacerbou a percepção, não é?
[15:33] <Elizabeth_> Se tentamos imaginar o que seria nascer somente com tato, olfato e paladar, como podemos  apreender o mundo ao redor?
[15:33] <daniervelin> embora a percepção estivesse sempre lá
[15:34] <Elizabeth_> O contato com as outras pessoas fica muito centrado no tato e, em menor medida, no olfato. Mas não sabemos fazer muito no nível intelig[ivel com o olfato.
[15:34] <Elizabeth_> Exceto perfumistas, talvez.
[15:34] <Woodsonfc__> Pois é, morre o próprioceptivo para a invasão do mundo exterior
[15:34] <daniervelin> é mesmo rs
[15:34] <BrenoA> Elizabeth, fiquei curioso para saber a que você se refere quando fala no espiritualismo de Durkheim, e qual a influencia dele na linguística de Saussure?
[15:35] <Woodsonfc__> Coisa que os Indus sempre dizem ocorrer em suas meditações
[15:35] <daniervelin> bem lembrado, BrenoA, tbm fiquei pensando nisso e depois esqueci
[15:35] <Elizabeth_> Sim, Dani, a percepção estava lá, mas por três sentidos. Essas crianças nunca ouviram uma voz, um som, nunca viram uma forma. Seu contato com outras pessoas, no aprendizado, é via colocação de sua mão(da criança) sobre a do educador, que vai lhe mostrando coisas.
[15:36] <daniervelin> entendi, realmente um campo muito interessante para estudo dos sentidos, Elizabeth_
[15:37] <adelmaa> É uma terreno amplo e ainda pouco explorado, concordam comigo?
[15:38] <Woodsonfc__> Acho interessante verifiar a proposta de comparar a produção da linguagem pela ausência de um dos sentidos: comparar rádio, imprensa, TV, teatro etc
[15:38] <daniervelin> sim, adelmaa
[15:39] <Woodsonfc__> Pessoas com problemas congênitos
[15:39] <Elizabeth_> Durkheim tem a posição idealista no nível máximo: o mundo é criação da linguagem. Sem linguagem, não há mundo,não há sentido.Muitos semioticistas defendem essa posição que chamo de radical.Se sem linguagem não há mundo e ainda por cima se entende por "arbitrariedade do signo" que todo signo seria arbitrário, aí não há como entendermos a ação da linguagem sobre as pessoas, em seu sentido social.
[15:40] <Elizabeth_> Mas isso é muito difícil de pensar e enquanto se escreve, assim, "na frente de todo mundo"... Parece tirar a roupa em público (rs)
[15:41] <Elizabeth_> Quanto a ser um terreno pouco explorado, é verdade, principalmente na semiótica francesa. Mas o próprio Fontanille vem trabalhando numa semiótica da "impressão" - nome que fica ambíguo em português (empreinte).
[15:41] <Lilian_> Elizabeth o que me diz sobre a exposição exagerada na internet que vem ocasionando até o suicídio de jovens?
[15:41] <daniervelin> é verdade, questão complexa... estou aqui tentando entender...
[15:42] <Woodsonfc__> Aí, "tirar a roupa em público" é algo que remete demais ao sensível que revela a impotência da linguagem em compartilhar as sensações!
[15:42] <Elizabeth_> Woodson e Lilian, problemas congênitos, suicídios... uau, são coisas tão complexas! Não posso dizer nada com responsabilidade. Estudei as crianças cegas e surdas para tentar entender um pouco a gênese do sentido. Mas não entendo sobre o mundo delas, não.
[15:43] <Woodsonfc__> São metáforas que pretendem promover a sensação pela disrupção do encadeamento inteligível
[15:44] <Elizabeth_> É Woodson, é essa a principal ação das metáforas. Aliás, o Groupe m ("m" grego), que saiu na minha fala como "quadradinho", tem esse nome motivado por metáfora. Eles têm muitos trabalhos procurando relacionar de maneira estrutural o sensível e o inteligível.
[15:45] <Woodsonfc__> Ficou mais perguntas que respostas, né? E os 50% que não puderam adquirir uma linguagem, mas será que isso tb não ocorre em quem tem todos os sentidos tb?!
[15:45] <BrenoA> Desculpa o assédio, haha. Outra questão que gostaria de fazer, Elizabeth, é se você traça alguma diferença conceitual entre significação e sentido. Penso aqui na obra "Logica do sentido" de Deleuze, você dialoga com essa corrente?
[15:47] <Elizabeth_> Para adquirir a linguagem, parece realmente ser necessário se desdobrar eu "eu" e "me", em sujeito e em objeto (da fala de outra pessoa).Essas crianças que não conseguiram ir além, nunca conseguiram "perceber" que elas poderiam ser "objeto" em certas situações.
[15:47] <Lilian_> Obrigada por esta oportunidade de compartilhar este momento de reflexão e conhecimento. Tenho que me retirar do chat. Abraço a todos.
[15:48] <Elizabeth_> Breno, não estou trabalhando atualmente com Deleuze. Gosto dele, mas me concentrei em chamar de processo de significação o "caminho" e as "forças" que agem no "fazer sentido" e, como a frase indica, sentido como produto desse processo. Só isso.
[15:49] <daniervelin> obrigada pela presença, Lilian_
[15:49] <Lilian_> até a proxima
[15:49] <Elizabeth_> Obrigada, Lilan!
[15:51] <Elizabeth_> Voltando à tentativa de resposta a Woodson, Keller dá um exemplo fantástico. Quando ela aprende um alfabeto tátil e percebe que pode ser um objeto para o pensamento de outrem, ela percebe que há diferença entre coisas e pessoas. Consequência? Ela passa dois anos (ANOS!!!) frustrada, tentando ensinar sua cachorra, Belle, a se comunicarpor alfabeto tátil!
[15:51] <BrenoA> obrigado
[15:52] <daniervelin> hehehe que detalhe interessante!
[15:52] <Elizabeth_> Aqueles 50% que não atingem a linguagem plena, não manifestam esse movimento por se comunicar em mão dupla. Limitam-se a trazer para si o que interessa, digamos, ou "abrir o congelador numa escala maior", como diz Keller.
[15:53] <Woodsonfc__> Estava pensando nos autistas que agora estamos recebendo nas escolas
[15:53] <Elizabeth_> Pois ém Sani, ela imediatamente entendeu que a cachorra não era uma coisa. Ora, o que era, então? Entre coisas e pessoas, a cachorra está bem mais próxima de ser compreendidad como uma pessoa.
[15:54] <Woodsonfc__> E no engano que se tem ao ver que eles parecem sofrer com a presença do mundo exterior
[15:54] <Elizabeth_> Woodson, vocês recebem preparo para os receber?
[15:54] <Woodsonfc__> Que levou a tratamentos no sentido de isolá-los ao invés de integrá-los
[15:54] <Woodsonfc__> o problema é esse, não há muito preparo
[15:54] <daniervelin> ela acabou acrescentando uma nova categoria semântica na concepção de mundo que ela tinha
[15:55] <Elizabeth_> Provavelmente, o isolamento era o mais "indicado" para preservar a estrutura escolar montada. O foco, no isolamento,não sei se seria o autista, acho que seria "o 'bom' funcionamento da instituição".
[15:56] <Woodsonfc__> Mas dizem que muitos melhoram dependendo do espectro do autismo !
[15:56] <adelmaa>  Eu diria de forma mais enfática: não há preparo algum.
[15:57] <daniervelin> isso revela uma deficiência de estudos nessa área
[15:57] <Elizabeth_> Dani, a partir de coisas e pessoas ela acerscentou uma nova categoria: você pensou à maneira da semiótica cognitiva sorriso
[15:57] <daniervelin> :D
[15:58] <adelmaa> Gente, que aula magna, hein?
[15:58] <Elizabeth_> Gente, a conversa está bem interessante, principalmente agora com o tema dos autistas,mas, infelizmente, preciso partir. Tenho uma reunião começando em 2 minutos...
[15:58] <Woodsonfc__> Concordo com a adelmaa, esse é o problema
[15:58] <adelmaa> Eu que não sou da área, estou amando.
[15:58] <daniervelin> Elizabeth_, muitíssimo obrigada por sua participação!
[15:59] <daniervelin> aproveitamos muito mesmo! e outras pessoas ainda poderão se beneficiar, porque deixaremos o registro disponível no site
[15:59] <Woodsonfc__> ok Elizabeth_ muito obrigado pela atenção
[15:59] <Elizabeth_> De nada, foi um prazer. Obrigada a todos. E, de novo, perdão pela minha digitação capenga! abraços
[15:59] <adelmaa> Professora Elizabeth, prof Conrado, o STIS, agradece as suas presenças e sente-se honrado em tê-los hoje conosco. Na verdade O STIS é se estabelece como um evento plural, pois além de aproximar relevantes pesquisadores do grande público traz viva a difusão do conhecimento que antigamente ficava apenas dentro do muros da universidade.
[15:59] <adelmaa> Nosso objetivo é divulgar trabalhos instigantes, extraordinários como os de nosso palestrantes de hoje, torná-los visíveis ao público interessado não apenas aquele que está nas universidades ,mas o público em geral.
[15:59] <adelmaa> Além de fazer a inserção tecnológica dos participantes, convida todos a estudar temas diversos e relevantes. A participação de todos é  livre, ativa, próxima, pois queremos promover o acesso a educação e formação  todos.
[16:00] <daniervelin> obrigada a todos pela participação hoje!
[16:00] <daniervelin> esse é o último Stis deste ano, adelmaa ?
[16:01] <adelmaa> Obrigada a Danierveli, Hugleo, Woodosn Fiorini. Madu Ferreira e Aline Resende, Elizabeth Guzzo que fazem comigo este  eveno acontecer a cada mês. [
[16:01] <Woodsonfc__> Lembramos que o nosso próximo encontro será com o professor Hugo Mari que encerrará o ciclo de 2013 no próximo dia `06/12
[16:01] <daniervelin> ok!
[16:01] <daniervelin> obrigada pela lembrança, Woodsonfc__
[16:02] <adelmaa> Não, minha quertida Dani, teremos excepcionalmente no mês de dezembro o último STIS de nossa agenda 2013.
[16:02] <daniervelin> ok! então até 06/12, divulgaremos o próximo evento nas listas e redes sociais
[16:03] <adelmaa> Agradecemos a todos os nossos particpantes e solicitamos de vocês que nos ajudem a divulgar o nosso evento STIS.
[16:03] <Ra88> Gostaria de registrar minha satisfação em poder participar de um show de aula
[16:03] <Ra88> como este
[16:04] <daniervelin> obrigada, Ra88
[16:04] <Ra88> Pretendo acompanhar os próximos. Parabéns a todos!
[16:04] <Woodsonfc__> Os certificados serão expedidos aos ouvintes que solicitarem por e-mail colocando seu nome completo e respectivos Nicks usados aqui
[16:05] <adelmaa> Obrigada Ra88, Agora que você ja conhece nosso evento junte-se a nós no desejo de democratizar o conhecimento.
[16:05] <Woodsonfc__> o endereço é stis@textolivre.org
[16:05] <adelmaa> Divulge o STIS em susa rdes sociais. Na sua escola, na sua universidade, no seu trabalho.
[16:06] <Ra88> Sim, obrigada!
[16:06] <madu> Obrigada a todos.
[16:07] <adelmaa> O STIS é um evento idealizado pel profa dra Ana Cristina Fricke Matte e coordenado por uma equipe extraordinária de voluntários.
[16:09] <adelmaa> Grande abraço, nos encontraremos dia 06 de dezmbro. Até lá!
[16:09] <Woodsonfc__> Vocês podem ter acesso a programação e aos logs dessas palestras em http://stis.textolivre.org/site/
[16:10] <Woodsonfc__> e no FACE em https://www.facebook.com/stis.lingtec
[16:12] <daniervelin> obrigada, Woodsonfc__ e adelmaa
[16:13] <adelmaa> Cheiros, Dani, HugLeo, Madu.
[16:16] <adelmaa> Obrigada Chris____, minha amiga DAVINO,  erikaperillo, Luiz, Ra88, Raimunda, Tanpi, Willian, e Wood.

Como citar este texto:

HARKOT-DE-LA-TAILLE, Elizabeth. Reflexões sobre a construção do sentido. In: STIS - Seminários Teóricos Interdisciplinares do Semiotec. Ano III, 2013. Disponível em: <http://stis.textolivre.org/site/index.php/artigos/12-stis/registros-das-palestras-logs/59-log-elizabeth-taille-e-conrado-mendes>;. Acesso em: 27 fev. 2014.

MENDES, Conrado.  Semiótica e mídia: uma abordagem tensiva do fait divers. In: STIS - Seminários Teóricos Interdisciplinares do Semiotec. Ano III, 2013. Disponível em: <http://stis.textolivre.org/site/index.php/artigos/12-stis/registros-das-palestras-logs/59-log-elizabeth-taille-e-conrado-mendes>;. Acesso em: 27 fev. 2014.

 

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