9. Novembro: Semiótica e Comunicação

cartaz STIS novembro 2013

STIS - Seminários Teóricos Interdisciplinares do SEMIOTEC

Elizabeth Taille e Conrado Mendes

Conferência dupla STIS NOVEMBRO 2013

Dia 22 de novembro das 14 às 15:30, na Sala de Conferências do STIS

Reflexões sobre a construção do sentido (Profª Drª Elizabeth Harkot-de-La-Taille, FFLCH-USP)

Resumo: Porque existe o sentido? De onde ele vem? Como se instala e se dissemina? Um dos nomes que identificam as teorias do sentido, que são várias, é semiótica.Em sua maioria, essas teorias baseiam-se na ideia de convencionalidade: considera-se um acordo, ao menos implícito, anterior a toda comunicação, e postula-se a existência de um código externo que se impõe aos participantes das trocas. É assim com o conceito saussureano de língua, herdeiro do espiritualismo de Durkheim. A postura sociológica que lhe subjaz não é ideologicamente neutra, como permite inferi-lo o papel de usuários intercambiáveis da língua, reservado aos participantes da comunidade linguística. Como consequência, a filosofia da linguagem herdeira do pensamento durkheimeano isola-a das ciências da natureza e elimina qualquer tensão entre os participantes do ato comunicativo, desprovidos de perspectiva de negociação, já que são concebidos como intercambiáveis. Por essa via, não há como correlacionar a variedade das produções semióticas e a social (um dos objetivos das sociossemiótica), nem estudar a negociação das distâncias entre os parceiros da troca semiótica (foco da retórica geral).As escolas semióticas tradicionalmente difundidas separam-se entre as racionalistas (em geral europeias, descendentes de Saussure, Hjelmslev, Greimas) e as pragmáticas (em geral americanas, a exemplo de Peirce e Morris). Proponho um breve panorama de como essas duas principais vertentes pensam a relação entre mundo e linguagem, assim como a proposição avançada pelo Groupe m, de Liège, Bélgica, à questão “De onde vem o sentido?”, a fim de fomentar reflexões sobre os processos pelos quais o mundo (natural e social) é traduzido em cultura, pela ação das linguagens.

 

Semiótica e mídia: uma abordagem tensiva do fait divers. (Prof . Dr. Conrado Moreira Mendes)

Resumo: Nesta conferência, apresentaremos alguns elementos de nossa pesquisa de doutorado, realizada na Universidade de São Paulo, entre 2009 e 2013, com estágio doutoral na Université Paris 8 Vincennes-Saint-Denis, entre 2010 e 2011. Sob orientação do Prof. Dr. Waldir Beividas (USP) e supervisão durante o estágio no exterior do Prof. Dr. Denis Bertrand, nossa investigação se ocupou da análise e da teorização do fait divers, categoria jornalística que se refere a eventos de caráter fortuito, com base nas proposições da semiótica de vertente tensiva. O corpus da pesquisa constituiu-se primordialmente da cobertura do Caso Isabella Nardoni, compreendido sob a rubrica dessa expressão, realizada pelo Jornal Nacional nos meses de março, abril e maio de 2008. Também compuseram o corpus da investigação outros relatos jornalísticos dessa natureza, tanto os que se pautaram por uma curta duração quanto aqueles que repercutiram na mídia por um período considerável. Em relação ao caso aludido, impôs-se a questão teórica que se refere à pouca duração que um relato noticioso de tal categoria costuma ter. Ao contrário, ele arrastou-se por meses a fio no primeiro semestre de 2008, mantendo, não obstante, uma elevada carga tímica. Dessa forma, procurou-se buscar nos mecanismos do discurso as estratégias usadas pelo enunciador “Jornal Nacional” para “extensivizar” a intensidade do Caso Isabella Nardoni, o qual se baseia numa estrutura acontecimental e que, por definição, deveria ser muito intenso, mas pouco extenso. Para tanto, a pesquisa se valeu dos seguintes eixos analíticos: concessão e fidúcia, duração e intensidade, a paixão coletiva da comoção e, por fim, relações intertextuais e interdiscursivas que o texto em análise permite estabelecer com outros textos/discursos. Os referidos eixos cumpriram, cada qual, a tarefa de responder parcialmente o porquê de, a despeito do transcurso da temporalidade, a intensidade em torno do caso enfocado ter sido duradoura.