STIS 2017
4. Maio: Semiótica, política e didática
4.1. registro maio
LOG: Luiza Helena e Luciano Magnoni
Registro da Conferência em chat escrito, de 24 de maio de 2017:
ANÁLISE SEMIÓTICA DE MAPAS DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2014: fraturas no discurso da identidade nacional
conferencista: Luiza Helena Oliveira da Silva
Procedimentos de tematização e figurativização em livros didáticos no Brasil e na França
conferencista: Luciano Magnoni Tocaia
moderador: Equipe STIS
[19:39] <woodsonfc> Hoje teremos as conferências da profa
[19:40] <woodsonfc> Prof.ª Dr.ª Luiza Helena Oliveira da Silva
[19:40] <woodsonfc> da UFT - Araguaína
[19:40] <woodsonfc> com a conferência:
[19:40] <woodsonfc> ANÁLISE SEMIÓTICA DE MAPAS
[19:41] <woodsonfc> DAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2014: fraturas no discurso da identidade nacional
[19:41] <woodsonfc> Em seguida teremos o
[19:41] <woodsonfc> Prof. Dr. Luciano Magnoni Tocaia - Faculdade de Letras / UFMG
[19:41] <woodsonfc> Procedimentos de tematização e figurativização em livros didáticos no Brasil e na França
[19:42] <woodsonfc> Teremos 30 minutos para cada um falar e em seguida abrimos para a discussão
[19:42] <woodsonfc> de mais 30 minutos
[19:43] <acris> O Stis é um programa de conferência realizado na penúltima semana de cada mês, de março a dezembro, das 19:30 às 21:00 horas congregando pesquisadores do Brasil e do exterior em torno de temas diversos para uma educação livre e democrática.
[19:43] <woodsonfc> ok?
[19:43] <woodsonfc> Isso
[19:43] <acris> antes quero apresentar a prof Luiza
[19:43] <acris> A Profª Drª Luiza Helena Oliveira da Silva É mestre e doutora em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Em 2013/2014, realizou estágio pós-doutoral em sociossemiótica no Centre de Recherches Politiques (CEVIPOF-CNRS) e Université de
[19:43] <acris> Limoges, com bolsa CAPES. Desde 2005, é docente da Universidade Federal do Tocantins, Campus de Araguaína, onde atua nos cursos de Licenciatura em Letras, Mestrado Profissional em Letras em Rede Nacional (ProfLetras), Programa de Pós
[19:44] <acris> Graduação em Letras: Ensino de Língua e Literatura (PPGL) e Programa de Pós-graduação Cultura e Território (PPGCult). Tem experiência como docente na área de Linguística, atuando principalmente nos seguintes temas: semiótica discursiva aplicada
[19:44] <acris> ao ensino de língua e literatura, gêneros digitais, memória e formação de professores. Nos últimos trabalhos, vem se dedicando a investigar a interação em ambientes digitais e implicações para o ensino presencial e a distância. Integra o grupo de pesquisa SEDI
[19:44] <acris> (Semiótica e Discurso), da UFF, e coordena o GESTO (Grupo de Estudos do Sentido/Tocantins), na UFT. Publica regularmente em revistas científicas, tendo organizado em parceria com outros pesquisadores os livros "Ensino de língua e
[19:44] <acris> literatura: pesquisas na pós-graduação" (EDUFT, 2014) e "Como fazer relatórios de pesquisa: investigações sobre ensino e formação de professor de língua materna" (Mercado de Letras, 2010). Escreve ainda crônicas e poemas, divulgados em coletâneas
[19:44] <acris> e portais da Internet. Desde 2015, atua como coordenadora do ProfLetras/UFT. Atualmente, integra o Conselho Gestor do Profletras, como representante da região Norte. Editora-chefe da Revista EntreLetras (PPGL/UFT) a partir de setembro de 2016.
[19:45] <acris> Assim, é com enorme prazer que convido a prof.a Luiza a inicar sua conferência
[19:45] <Luiza> Obrigada pela apresentação, acris
[19:45] <Luiza> Boa noite a todos
[19:45] <acris> Luiza: você tem 30 minutos, ok? Durante esse público a fala está restrita à sua, depois do prof. LUCIANO__ abriremos para perguntas
[19:45] <acris> boa noite!
[19:46] <Luiza> embora tenha me dedicado a pesquisas sobre o ensino
[19:46] <Luiza> este trabalho tem um viés mais político, relacionado a pesquisas mais recentes sobre o espaço
[19:47] <Luiza> no caso, analisamos mapas com resultados das eleições de 2014, que se multiplicaram em diferentes versões logo após o resultado das votações de 2º turno
[19:48] <Luiza> partimos aqui de uma reflexão em torno da noção de unidade nacional
[19:48] <Luiza> de uma identidade nacional
[19:48] <Luiza> Do ponto de vista identitário, deve-se compreender que tanto a semelhança quanto a diferença são sempre resultantes de uma produção, uma construção que engaja sujeitos historicamente situados (LANDOWSKI, 2002).
[19:48] <Luiza> Não há, nesse sentido, uma identidade dada pela natureza, inequivocamente, marcando o pertencimento do sujeito, mas efeitos de um complexo imaginário social e historicamente produzido e compartilhado aliado a processos ideológicos que lhe garantem adesão.
[19:49] <Luiza> No caso de uma certa noção de brasilidade, que nos homogeneizaria apagando ou relativizando as diferenças e as distâncias, esta não se daria fora dos quadros da história ou da história dos discursos.
[19:49] <Luiza> partindo das reflexões de Anderson, consideremos que a nação é uma "comunidade imaginada"
[19:49] <Luiza> “... a nação é imaginada como comunidade porque, sem considerar a desigualdade e a exploração que atualmente prevalecem em todas elas, a nação é sempre concebida como um companheirismo profundo e horizontal” (ANDERSON, 1989, p. 16).
[19:50] <Luiza> Não se trata, nessa direção, de pensar tão somente numa construção particular e subjetiva de um eu que subitamente se põe a categorizar o mundo, mas de considerar o modo como se compartilham discursos que concorrem para pensar a alteridade sob a perspectiva da igualdade e da diferença, a irmandade ou o estranhamento.
[19:50] <Luiza> No contexto do Brasil das eleições presidenciais de 2014, sob a sanção negativa da mídia a propósito dos resultados da reeleição de Dilma Rousseff, importou evidenciar a distinção, o que nos faz diferentes e inconciliáveis
[19:51] <Luiza> , a justificar que de novo viessem à tona rancorosos discursos separatistas e encontrasse abrigo o regime da segregação (LANDOWSKI, 2002).
[19:51] <Luiza> Landowski discute a segregação sob a perspectiva do caráter processual, considerando uma disjunção que ainda não se completou, a partir de uma fissura que age no sentido de separar o que há pouco fora conjunto, seja do ponto de vista real ou ao menos imaginado.
[19:51] <Luiza> A segregação corresponde, assim, ao momento em que “as forças centrífugas que são o seu motor” ainda não chegaram ao final, coexistindo ao lado de forças contrárias, as de coesão.
[19:52] <Luiza> para que o status de desigualdade adquira sua legitimidade e a apartamento se complete, incidindo sobre a exclusão, é necessário contar não apenas com a adesão do grupo que a impõe, como ainda do grupo que a ela é submetido, como numa espécie de quase-cumplicidade (LANDOWSKI, 2002, p. 19).
[19:52] <Luiza> A diferença é pois de um ou outro modo assumida por ambos e o que antes era irmandade agora é compreendido como irreconciliável estranheza.
[19:53] <Luiza> Aliando-se aos trabalhos de Landowski os conceitos de triagem e de mistura advindos da semiótica tensiva, Barros (2009) vai organizando uma sintaxe dos discursos de intolerância
[19:53] <Luiza> Compreende-se como sintaxe a identificação das regularidades que circunscrevem o modo de funcionamento dos discursos intolerantes, estes que se inscrevem sob o regime da segregação, quando a diferença do outro não é então admitida como aceitável.
[19:54] <Luiza> Nos termos dessa abordagem teórica, triagem e mistura correspondem a duas grandes operações da sintaxe extensiva, relativa ao “estado de coisas” (ZILBERBERG, 2011).
[19:54] <Luiza> A mistura corresponde aos processos de mestiçagem, de heterogeneidade, que compreende os “valores do universo” enquanto a triagem remete aos “valores do absoluto”, consistindo em seleções que correspondem a processos sucessivos de “pureza”, num projeto de redução da heterogeneidade.
[19:54] <Luiza> Levada a extremos, serve no plano das práticas aos discursos de ódio e intolerância, que prescrevem, por exemplo, a morte do dessemelhante.
[19:55] <Luiza> Do ponto de vista de uma narrativa, Barros inscreve os discursos da intolerância na fase da sanção, aquela em que o sujeito destinador avalia negativamente a performance do outro, o destinatário, como que mediante uma quebra de contrato entre os sujeitos
[19:55] <Luiza> No contexto das eleições presidenciais, a polarização entre dos dois candidatos, representando opções mais à esquerda ou mais à direita confluiu para o recrudescimento das oposições de classe social (mais ricos versus mais pobres) ou de região (Norte versus Sul/Sudeste, ainda que os resultados evidenciem a ampla votação que Rousseff obteve nos Estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro).
[19:56] <Luiza> Os sancionadores – que atualizam os discursos intolerantes – apresentam-se, pois, como os que se colocam como destinadores inconformados com a performance indevida do outro, os destinatários, levando em conta aqui a assimetria de papéis actanciais.
[19:56] <Luiza> Ao mesmo tempo, a culpa pela ruptura da “comunidade imaginada” é relacionada ao outro, como se pode ler no “Blog do Noblat”: “O país sai partido ao meio – e a maior culpa cabe ao PT com a política do ‘nós’ contra ‘eles’”
[19:56] <Luiza> Em seu blog, Noblat defende que a separação se deu por obra do Partido dos Trabalhadores, que teria posto fim à unidade nacional
[19:57] <Luiza> Para isso, ilustra seu post intitulado “Viva o povo brasileiro” com a reprodução de uma tela da artista Tarsila do Amaral, Operários (1933), como quem pretende confirmar a unidade dos trabalhadores, ou do “povo brasileiro”.
[19:57] <Luiza> Deixa, contudo, explícita desde o início a certeza da cisão, como um já dado: “o país sai partido”.
[19:57] <Luiza> Reproduzido seu texto num outro site, o Nordeste Notícias, a imagem que precede o artigo confirma a separação entre norte e sul. Na imagem, uma grossa linha horizontal em zigue-zague atravessa o mapa do país, forma recortada da bandeira nacional
[19:58] <Luiza> Ali também a culpa da separação é atribuída ao PT, o que se enuncia desde o título, anteposto ao de Noblat: “O PT rachou o Brasil”.
[19:58] <Luiza> Num artigo de opinião produzido poucos dias depois e comentando a intolerância que se avolumava nos discursos dos inconformados com as urnas, Pichonelli confirma o raciocínio de Barros (2009).
[19:59] <Luiza> “Sobram patadas sobre pobres, gays, lésbicas, negros, “comunistas”, mulheres. Um exemplo foram as manifestações de ódio contra a população nordestina, onde o PT conquistou muitos votos. A repulsa chega com todos os disfarces, mas pode ser identificada, por exemplo, quando um ex-presidente da República atribui um resultado adverso (para ele e os seus) à cegueira coletiva dos “menos instruídos”. (PICHONELLI, 2014, s/p)
[19:59] <Luiza> Os primeiros mapas que trouxeram os resultados da votação em segundo turno para o cargo de presidente da república partiam o país ao meio, imediatamente tendo como efeitos a multiplicação de impropérios nas redes digitais por parte daqueles que se enunciavam como “nós” em relação aos “outros”, os de lá, do Norte e do Nordeste.
[19:59] <Luiza> O Brasil não é então sentido como uma totalidade, mas como cindido, marcada a distinção nos mapas as zonas do azul (áreas de eleitores de Aécio) e do vermelho (dos eleitores de Dilma).
[20:00] <Luiza> Não há, porém, uma uniformidade das representações, o que se justifica pela multiplicação de perspectivas que se anunciam a partir dos resultados
[20:00] <Luiza> Isso põe em questão a perspectiva do enunciador que traduz sua presença por procedimentos acessórios já que um mapa supõe resguardar-se dos índices específicos que poderiam remeter à instância da enunciação (BENVENISTE, 1989, p.84).
[20:00] <Luiza> Se observarmos o “Mapa Interativo” da Folha de São Paulo (2014), veremos que as nuances de gradação de tons de vermelho e azul remetendo aos detalhes da votação só ficam visíveis quando o internauta seleciona sua cidade e o Estado.
[20:01] <Luiza> Do ponto de vista da “segregação”, o mapa desse jornal seria o que mais representa a divisão do país do ponto de vista político e ideológico naquele dado momento.
[20:01] <Luiza> Não há gradações, optando-se pelo emprego de cores primárias, sem nuances, organizando-se a oposição espacial entre os lugares do vermelho e do azul.
[20:01] <Luiza> O vermelho situa-se na metade superior, com pequena intromissão na metade inferior representada por uma curva à direita como se Rio de Janeiro e Minas Gerais fossem ali representados como extensões da faixa que cobre o Nordeste).
[20:02] <Luiza> O azul situa-se monolítico, na parte mais ocidental, na metade inferior. Cindido, o país é então traduzido como dois, em posições de oposição e ausência de conciliação.
[20:02] <Luiza> Uma resposta ao mapa reproduzido pela Folha de São Paulo aparece no blog de Thomas Conti em 27 de outubro de 2014.
[20:02] <Luiza> Segundo informações ali presentes, seu trabalho contou com mais de 40 mil compartilhamentos e reprodução (não reconhecida) pelo jornal Folha de São Paulo.
[20:03] <Luiza> No blog, o autor explicita os procedimentos técnicos que lhe possibilitaram a elaboração de seu desenho (mapa à direita) que responde ao primeiro, à esquerda e que, segundo o autor, estaria servindo às manifestações de ódio e segregação.
[20:03] <Luiza> Temos, portanto, evidenciado o caráter responsivo – um mapa que responde ao outro; um enunciado que responde a um primeiro e também uma sanção.
[20:03] <Luiza> Em vez de sancionar os resultados da eleição, como se dá com muitas declarações nas redes sociais, o que Conti faz é rejeitar a opção primeira da Folha.
[20:04] <Luiza> Ao declarar “Menos ódio, por favor”, a solicitação incomum a um tipo de reprodução de resultados estatísticos projeta no enunciado um enunciador de primeira pessoa, que se dirige pelo verbo no imperativo a um tu específico – aquele que ecoa o ódio.
[20:04] <Luiza> Conti também esclarece que as representações levam em conta as diferentes escalas, sendo o primeiro mapa construído com a escala binária e o segundo com a escala ponderada.
[20:04] <Luiza> Trata-se, portanto, de uma escolha enunciativa que evidencia os efeitos que se pretende produzir no enunciado. Para explicitar os mecanismos mobilizados para a produção de seu mapa, Conti declara:
[20:05] <Luiza> "Usando o Excel 2013, computei o percentual de votos válidos de cada candidato em uma tabela. Nas versões mais novas, o Excel tem um recurso chamado Formatação Condicional que permite ao programa colorir automaticamente tabelas a partir de uma instrução. Usando esse recurso, selecionei o vermelho básico para 100% de votos em Dilma, e o azul básico para 0% de votos em Dilma.
[20:05] <Luiza> . Depois fiz o contrário para a coluna do Aécio: 100% de votos nele é o azul básico, e 0% de votos nele é o vermelho básico. Feito isso, todos os valores intermediários são coloridos automaticamente pelo excel, formando uma cor que reflete precisamente o grau de distância entre 0% e 100% nessas escalas. O fato de as duas colunas terem precisamente a mesma coloração atesta a precisão do programa". (CONTI, 2014)
[20:05] <Luiza> O autor propõe, assim, relativizar a oposição inicial e o que ela implica quanto aos efeitos da segregação.
[20:06] <Luiza> Vermelho e azul então se mesclam, em diferentes gradações que embaralham (“como é de verdade”) a diferença inicial (“como dizem que é”).
[20:06] <Luiza> Continua Conti:
[20:07] <Luiza> “Os gráficos que foram veiculados distorcem o cenário eleitoral: dezenas de milhões de nordestinos não votaram na Dilma, dezenas de milhões do sudeste não votaram no Aécio! Não adianta ficar propagando ódio contra esse ou aquele grupo, venceu quem teve o maior número de votos ENTRE 144 MILHÕES DE ELEITORES”.
[20:07] <Luiza> Se o mapa aparece sob efeito de escolhas que são muitas vezes obscurecidas, Conti se apressa por esclarecer a opção de recursos que guiaram a elaboração a reprodução e, ao mesmo tempo, analisa as duas produções, explicitando sob a perspectiva de uma debreagem actancial enunciativa, que há um eu que escreve e desenha “seu mapa”, com sua tradução particular dos números.
[20:07] <Luiza> Há muitos outros mapas que estamos considerando, mas, para efeito desta apresentação, selecionamos estes acima descritos
[20:08] <Luiza> Os modos de representar os números da eleição não são indiferentes aos efeitos produzidos nos leitores/espectadores que, na condição e eleitores, tinham em mãos documentos para analisar e posicionar-se quanto ao processo.
[20:08] <Luiza> Esconder as nuances, traduzindo a divisão, foi a opção política e ideológica que serviu para sancionar negativamente os eleitores ao norte.
[20:08] <Luiza> As respostas a essa opção não tardaram a produzir resultados na rede e nas bocas de muitos pelo país, muitos ganhando os espaços da grande mídia nacional.
[20:09] <Luiza> Um exemplo dessa reação pode ser lido no mapa compartilhado pela então vereadora da cidade de Natal, Eleika Bezerra Guerreiro em sua página pessoal no Facebook.
[20:09] <Luiza> A região em vermelho é então nomeada como Nova Cuba, numa alusão aos votos à esquerda, com eleição da candidata petista. O Estado de Minas Gerais, que também teria sido responsável pela vitória de Dilma Rousseff, seria então “implodido”, como uma espécie de não-lugar.
[20:09] <Luiza> Conforme depoimento transcrito no site G1, que reproduziu o post da vereadora, os preconceitos são por ela atribuídos aos outros, sem reconhecer o ódio separatista na sua postagem, inclusive por propor o desparecimento de todo um Estado brasileiro.
[20:09] <Luiza> "Infelizmente nós saímos de um pleito em que muitos preconceitos foram abordados e disseminados. Há até um certo maniqueísmo entre etnias e condição social. Se você é de um, é bom. Se é de outro, é mal. Não tinha nenhuma intenção de ser separatista", afirmou a vereadora em entrevista à Inter TV Cabugi. (Site G1, em 27 out. 2017)
[20:10] <Luiza> Há certamente muito a explorar sobre o contexto político brasileiro em uma crise que parece se aguçar a cada dia, fugindo à nossa capacidade de compreensão. Mas vamos aqui tentando estabelecer alguns caminhos para pensar este país
[20:10] <Luiza> Ou ao menos pensar estes lugares de voz em disputa, produzindo diferentes sentidos para o ser brasileiro. Ou não ser mais.
[20:10] <Luiza> Fim...
[20:11] <Luiza> Será que corri muito?
[20:11] <acris> Luiza: tens5 minutos
[20:11] <Luiza> então
[20:11] <acris> quer acrescentar algo?
[20:12] <Luiza> não sei se dá para entender pelas descrições que fiz dos mapas o que está sendo colocado
[20:12] <Luiza> vê-los certamente ajudaria bastante a compreender a argumentação
[20:12] <woodsonfc> Tem um link, mas me lembro bem desses mapas de memória!
[20:12] <acris> bem, pra mim ficou claro. se você quiser, podemos acrescentar figuras ao registro da conferência, envie-nos por e-mail
[20:13] <Luiza> a questão principal é pensar que os mapas trazem efeito de referente, como se apenas resultassem de operações matemáticas, sem um "eu" que seleciona os algoritmos que resultarão num texto
[20:13] <woodsonfc> Podemos colocar depois
[20:13] <Luiza> ok
[20:13] <acris> sim, muito bem colocado, Luiza
[20:14] <acris> depois abrimos para perguntas e daí você pode esclarecer alguma questão dos mapas, ok?
[20:14] <Luiza> ok
[20:14] <acris> muito obrigada!
[20:14] <acris> bom, antes de chamar o prof. LUCIANO__, peço licença para apresentá-lo
[20:14] <acris> o Prof Dr. Luciano Magnoni Tocaia. Possui graduação em Letras-Tradutor, Mestrado em Comunicação e Letras e Doutorado em Letras. Atualmente, é professor do curso de Letras na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do Programa
[20:15] <acris> de Mestrado Profissional em Letras (Profletras) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Suas pesquisas atuais fundamentam-se nos pressupostos epistemológicos estabelecidos no quadro da Semiótica discursiva de linha francesa, das teorias do discurso pelo
[20:15] <acris> viés bakhtiniano, do Interacionismo sociodiscursivo (ISD) e da Historiografia Linguística. Seus trabalhos estão relacionados a análises enunciativo-discursivas de textos pertencentes a variadas esferas da comunicação, ao uso de gêneros discursivos/textuais em contextos de
[20:15] <acris> ensino-aprendizagem de leitura e de produção textual em língua materna (português) e em língua estrangeira (francês), à elaboração de material didático (português e francês) baseado na teoria dos gêneros discursivos/textuais e à didática de língua materna e estrangeira (língua
[20:15] <acris> francesa), cujas questões essenciais repousam sobre a análise dos saberes ensinados e seus modos de transposição em contextos escolares. Possui capítulos de livros e artigos científicos principalmente nas áreas de teoria e análise do discurso e do texto, semiótica discursiva de
[20:15] <acris> linha francesa e leitura e produção de textos em língua materna (português) e língua estrangeira (francês). É autor do livro "Leitura e Produção textual na universidade: teoria e prática" pela Editora Mackenzie.
[20:16] <acris> LUCIANO__: podemos começar, você tem 30minutos, ok?
[20:16] <LUCIANO__> Perfeito!!! Boa noite a todos, quero mais uma vez agradecer pelo convite. Estou muito feliz de poder participar desta modalidade de conferência.
[20:16] <LUCIANO__> Nesta conferência, pretendo examinar as diferentes funções dos procedimentos de tematização e figurativização na perspectiva da semiótica discursiva de linha francesa. Para tanto, analisarei dois livros didáticos destinados ao ensino de língua materna, no Brasil e na França, respectivamente:
[20:17] <LUCIANO__> Português: Linguagens. 9º ano (CEREJA; MAGALHÃES, 2010) e Fleurs d´encre: Français 3e manuel unique (BERTAGNA; CARRIER, 2012).
[20:17] <LUCIANO__> É importante destacar, previamente, que partiremos do princípio de que o livro didático é um discurso, já que o discurso é a unidade de análise da teoria semiótica de linha francesa, ou semiótica greimasiana.
[20:17] <LUCIANO__> Adotar a premissa anterior é, portanto, acreditar que o discurso é tanto o lugar da instabilidade das estruturas, onde se dão efeitos de sentido, quanto compreender que os mecanismos de tematização
[20:18] <LUCIANO__> e figurativização, aliados a outros de actorialização, temporalização e espacialização, são fundamentais para o processo de discursivização.
[20:18] <LUCIANO__> Isso posto, passo à análise dos dois discursos em questão.
[20:18] <LUCIANO__> PROCEDIMENTOS DE TEMATIZAÇÃO E FIGURATIVIZAÇÃO EM PORTUGUÊS: LINGUAGENS. 9º ANO
[20:18] <LUCIANO__> Para a teoria semiótica discursiva de linha francesa, a disseminação de temas e figuras é tarefa do sujeito da enunciação, e pode ser vista como estratégias de persuasão no discurso. Neste quadro, informar é transmitir um objeto de valor, nesse caso, cognitivo (o saber).
[20:19] <LUCIANO__> Esse valor (o saber) acha-se inscrito num enunciado.
[20:19] <LUCIANO__> Os valores, quando assumidos no nível discursivo, são disseminados pelo enunciador por meio de percursos temáticos que podem (ou não) receber investimentos figurativos.
[20:19] <LUCIANO__> No caso do livro didático, esse investimento figurativo existe e se dá de forma ocasional e esparsa, como mostrarei no decorrer da análise.
[20:20] <LUCIANO__> O livro didático é, portanto, o que podemos considerar, um discurso temático de figurativização esparsa.
[20:20] <LUCIANO__> Apresentarei, a seguir, como se tematizam e se figurativizam alguns saberes que o livro didático busca transmitir como objetos de valor.
[20:20] <LUCIANO__> Em Português: Linguagens. 9º ano (CEREJA; MAGALHÃES, 2010), a carta de apresentação, primeiro contato direto com o estudante, se revela um discurso temático, cujo tema principal pode
[20:20] <LUCIANO__> ser depreendido pelo encadeamento dos conjuntos organizados, denominados percursos temáticos.
[20:21] <LUCIANO__> O tema geral desse discurso seria, assim, o saber, ou seja, os conhecimentos e ensinamentos que a obra transmite, que levam os alunos a aprender determinados conteúdos e os fazem transitar livremente entre as linguagens.
[20:21] <LUCIANO__> No caso do livro didático, esse saber uno (o saber) se divide em outros saberes, que, por sua vez, podem vir de universos variados, como o da ciência linguística, o da arte, o da cultura, o do senso comum, entre outros.
[20:21] <LUCIANO__> Pressupõe-se que por meio do estudo que se fará a partir do livro didático o indivíduo possa usar a língua portuguesa de forma a melhor interagir com as pessoas e o mundo em que vive.
[20:21] <LUCIANO__> Nesta conferência, em razão do curto tempo, concentrar-me-ei apenas sobre os saberes advindos da ciência linguística e do universo dos jovens.
[20:22] <LUCIANO__> Assim, analisarei, inicialmente, a seção “A língua em foco”, que tem por objetivo desenvolver o trabalho gramatical.
[20:22] <LUCIANO__> Encontram-se, nesta seção, algumas figuras ocasionais que assumem papel claro na organização persuasiva do discurso, como as atividades de leitura sugeridas por meio de textos que pertencem
[20:22] <LUCIANO__> aos mais variados gêneros discursivos, as histórias em quadrinhos, os cartuns, os anúncios publicitários etc.
[20:22] <LUCIANO__> Esses gêneros, na seção gramatical da obra, produzem um efeito de sentido de corporalidade, uma vez que vivificam o discurso, pelo reconhecimento de figuras do mundo, e fazem, então, que o enunciatário do texto interprete o discurso como “real”.
[20:22] <LUCIANO__> O subtema do domínio das linguagens mantém uma coerência interna no discurso ao tratar de questões que explicam os fatos e as coisas do mundo, buscando classificar, ordenar e interpretar a realidade.
[20:23] <LUCIANO__> Não obstante ser um texto temático, a cobertura figurativa, esparsa, na verdade, auxilia a dar concretude ao tema tratado. Vejamos o que nos diz os autores:
[20:23] <LUCIANO__> [...] você que transita livremente entre as linguagens, que usa, como um de seus donos, a língua portuguesa para emitir opiniões, para expressar dúvidas, desejos, emoções, ideias,
[20:23] <LUCIANO__> para receber mensagens, você que gosta de ler, de criar, de falar, de rir, de criticar, de participar, de argumentar, de debater, de escrever (CEREJA; MAGALHÃES, 2010, p. 3).
[20:23] <LUCIANO__> O universo dos jovens é outra formação discursiva que se concretiza no livro didático Português: Linguagens. 9º ano. (CEREJA; MAGALHÃES, 2010);
[20:24] <LUCIANO__> O enunciador, dado que se destina a um público adolescente, busca criar uma imagem positiva do destinatário e valoriza, então, temas e figuras da juventude, com o objetivo de levar o destinatário ao querer-fazer.
[20:24] <LUCIANO__> Nesse caso, esse subtema emerge pela figurativização do “mundo” do adolescente, ou seja, de sua forma de ser e de recortar a realidade:
[20:24] <LUCIANO__> “para você que é pura emoção, às vezes sentimental, às vezes bem-humorado, às vezes irrequieto, e muitas vezes tudo isso junto” (CEREJA; MAGALHÃES, 2010, p. 3);
[20:25] <LUCIANO__> “e também para você que, dinâmico e criativo, não dispensa um trabalho diferente com a turma” (CEREJA; MAGALHÃES, 2010, p. 3); “para você que gosta de ler, de criar, de falar, de rir, de criticar” (CEREJA; MAGALHÃES, 2010, p. 3).
[20:25] <LUCIANO__> Por meio da disseminação das figuras elencadas que concretizam o subtema do universo dos jovens, extraímos o simulacro de um mundo vivido intensamente, mais impactante, com um
[20:25] <LUCIANO__> recorte mais amplo. Ao jovem também se associam temas como o milagre do amor, o que é ser jovem, etc.
[20:25] <LUCIANO__> Na escolha dos temas que serão tratados em suas unidades, Português: Linguagens. 9º ano (CEREJA; MAGALHÃES, 2010) não apresenta, por exemplo, grandes temas da História do Brasil, como as questões da colonização, do extermínio dos índios, da ditadura militar, das revoluções ocorridas etc.
[20:26] <LUCIANO__> Tampouco trata dos grandes temas da História, como as grandes guerras, o Holocausto, os massacres étnicos, entre outros.
[20:26] <LUCIANO__> O percurso temático da obra parece “proteger” o estudante de temas mais intensos em conteúdo, ao propor percursos temáticos relativamente triviais que fazem tanto da escola quanto do livro um lugar agradável e saudável,
[20:26] <LUCIANO__> num ambiente em que o aluno não se depare com questões que possam despertar sofrimentos, dor ou suplícios, como textos sobre a morte na ditadura ou nas revoluções, a tortura militar durante os regimes autoritários, o massacre dos índios etc.
[20:26] <LUCIANO__> Deve-se apontar, inclusive, que os temas desenvolvidos pelos livros didáticos de Língua Portuguesa no Brasil são analisados pela equipe de avaliadores do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
[20:26] <LUCIANO__> É notório, portanto, que a escolha de temas da obra não é, então, tarefa apenas do enunciador, mas há, por detrás, um sistema que impõe as questões que devem constar no livro didático brasileiro que queira ser aprovado pelo PNLD.
[20:27] <LUCIANO__> É válido reiterar que todos esses subtemas elencados, que têm por meta enriquecer semanticamente o discurso, constituem-se, na verdade, nas formações discursivas que determinam o que pode e o que deve ser dito numa dada conjuntura,
[20:27] <LUCIANO__> já que concretizam, pela linguagem, a concepção de mundo e – acrescentamos – a visão de língua que lhes é correspondente.
[20:27] <LUCIANO__> Passemos, a seguir, aos PROCEDIMENTOS DE TEMATIZAÇÃO E FIGURATIVIZAÇÃO EM FLEURS D´ENCRE, o livro didático para o ensino de francês como língua materna.
[20:28] <LUCIANO__> O processo de figurativização no livro Fleurs d’encre: Français 3e manuel unique (BERTAGNA; CARRIER, 2012) se inicia por se introduzir, em variados momentos da obra, quadros de pintores renomados, fotografias, esculturas, ilustrações, cartazes, anúncios publicitários, capas de livros, poemas, etc.
[20:28] <LUCIANO__> Podemos notar que se criam, pela introdução desses elementos no decorrer das unidades, efeitos de sentido de realidade e de corporalidade, que seduzem e tentam o enunciatário, levando-o ao querer-fazer, visto que lhe são ofertados valores considerados positivos.
[20:29] <LUCIANO__> O enunciatário reconhece, então, figuras do mundo e as interpreta como “reais”. Isso faz com que se construa o simulacro de que o livro didático diante dele é o retrato fidedigno, do “real”.
[20:29] <LUCIANO__> Não é comum na cena genérica do livro didático para o ensino de língua materna na França encontrar um texto de apresentação nos moldes do livro didático brasileiro (carta de apresentação).
[20:29] <LUCIANO__> Isso faz com que o percurso temático do livro francês não se estabeleça a partir desse texto inicial, inexistente, mas a partir de uma análise geral da obra, recuperando os traços ou semas que se repetem no discurso e o tornam coerente.
[20:30] <LUCIANO__> Funda-se, assim, no livro didático francês, assim como em Português: Linguagens. 9º ano (CEREJA; MAGALHÃES, 2010), um tema central associado a outros subtemas, que auxiliam na organização dos valores em percursos.
[20:30] <LUCIANO__> Assim como procedi para o livro didático brasileiro, também apontaremos apenas alguns temas no livro didático francês, sem a pretensão de esgotá-los.
[20:30] <LUCIANO__> O livro didático Fleurs d´encre: Français 3e manuel unique também desenvolve um tema central que denomino o saber, ou seja, pensa-se que os alunos devem aprender determinados conteúdos e que a obra deve, portanto, cumprir seu papel de ensinar e transmitir conhecimentos.
[20:31] <LUCIANO__> Esse tema geral igualmente provém de universos distintos, que denomino subtemas, como: a cultura humanista, o patrimônio literário francês, a ciência linguística e o trabalho sobre a linguagem, o domínio das técnicas usuais da informação e da comunicação (TIC).
[20:31] <LUCIANO__> A temática geral da obra impressiona pelo alto grau de elaboração dos temas que veicula, visto que os assuntos tratados são de intenso e denso teor.
[20:31] <LUCIANO__> Alguns desses assuntos são: “Abécédaire de la Grande Guerre”, “Violences de l’histoire”, “Au nom de la dignité humaine”, “La ferme des animaux, une fable politique”, “Hymnes à la liberté”, “À la recherche du bonheur”, “Peintures du monde”, “Impacts sur les civils”, entre outros.
[20:31] <LUCIANO__> Parece não haver no discurso francês nenhuma preocupação, ao menos aparente, com o choque e o “amargo” que certos temas possam causar em crianças na faixa etária dos 11 aos 14 anos.
[20:32] <LUCIANO__> Discutem-se com naturalidade e de maneira um tanto profunda, sem banalidade, temas como o massacre dos judeus durante a ocupação nazista na França e na Europa, o trabalho em campos de concentração, os reflexos das duas grandes guerras para a sociedade francesa,
[20:32] <LUCIANO__> questões raciais, formas de violência da sociedade atual, casos de tortura, as maiores violências da História, poetas e poesias oprimidos, entre outros.
[20:32] <LUCIANO__> Os Nouveaux Programmes (2012), documentos governamentais semelhantes aos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) brasileiros, também visam à reafirmação do lugar central ocupado pela literatura no Ensino Fundamental (collège) francês.
[20:33] <LUCIANO__> Prática cultural, a literatura mantém em Fleurs d´encre: Français 3e manuel unique (BERTAGNA; CARRIER, 2012), junto ao estudo da língua, uma relação estreita e evidente.
[20:33] <LUCIANO__> Dessa maneira, é muito forte a presença dos textos fundadores do patrimônio literário francês nas páginas do livro francês.
[20:33] <LUCIANO__> Acredita-se que a convocação da literatura em sala de aula ajuda, por um lado, a reunir um corpo de obras altamente legitimadas e, por outro, a estabelecer um corpus linguístico autorizado, que define e descreve a língua literária e cede, então, os melhores modelos para o uso da língua.
[20:33] <LUCIANO__> Junto ao trabalho literário e cultural, o livro didático francês também figurativiza seus sentidos no âmbito da ciência linguística, mais especificamente no âmbito da linguagem.
[20:34] <LUCIANO__> Observando o trabalho gramatical trazido pelo livro didático francês, notamos, primeiramente, que todo o conteúdo gramatical tratado na obra é uma revisão, ou seja, destina-se ao último ano
[20:34] <LUCIANO__> do Ensino Fundamental francês um trabalho sobre fichas de revisão dos conteúdos curriculares gramaticais trabalhados nos anos anteriores, que, segundo os autores, ajudam a facilitar a memorização no final do Ensino Fundamental.
[20:34] <LUCIANO__> Tomarei, para concretizar o percurso temático proposto pelo discurso sobre a gramática, a ficha de revisão correspondente à apresentação do que seja uma frase, sua definição e seus exemplos.
[20:34] <LUCIANO__> Na ficha, o narrador define o conceito de frase, apresenta, em seguida, a natureza delas (principal, ou subordinada), explica seu encadeamento (justaposição, coordenação ou subordinação), define o que seja uma frase simples e complexa, para, por fim,
[20:35] <LUCIANO__> apresentar os quatro tipos de frases (declarativa, interrogativa, injuntiva, exclamativa) propostos pela gramática francesa. Todas as definições estão invariavelmente acompanhadas de um exemplo, figurativização que serve para demostrar a aplicabilidade da regra.
[20:35] <LUCIANO__> Outras estratégias persuasivas adotadas pelo enunciador em relação ao subtema da linguagem são:
[20:35] <LUCIANO__> 1. o uso do francês em sua norma natural, única, ou, por vezes, na norma prescritiva, embora seu uso seja bastante restrito, como já dissemos;
[20:36] <LUCIANO__> 2. o uso de textos literários como ponto de partida para o trabalho pedagógico sobre as questões linguísticas em sala de aula;
[20:36] <LUCIANO__> 3. a recorrência, em alguns momentos, a práticas de aprendizagem dedutivas, a partir de regras, memorização e aplicação em numerosos exercícios de repetição para o trabalho do ditado,
[20:36] <LUCIANO__> da escrita e do léxico, embora o enunciador insista, no livro do professor, que a aprendizagem se dê de forma indutiva;
[20:36] <LUCIANO__> 4. explicações dadas pelo enunciador em pequenos boxes, geralmente ao lado dos textos literários, sobre a vida de autores dos textos propostos, aspectos biográficos, suas produções literárias, data de nascimento e morte etc.;
[20:37] <LUCIANO__> 5. um trabalho minucioso sobre a expressão oral, aprofundando, em exercícios que privilegiam a argumentação, temas precisos, limitados e escolhidos em relação aos textos literários lidos;
[20:37] <LUCIANO__> 6. considerável desejo de se oferecer ao aluno um estudo pormenorizado do texto não verbal, com técnicas de enquadramento e focalização, uso de cores e de luz, questões de perspectiva, zoom, proporção, entre outras.
[20:37] <LUCIANO__> Observados alguns temas e figuras em cada um dos livros didáticos (discursos) analisados, passo às considerações finais.
[20:38] <LUCIANO__> Nesta conferência, parti do princípio de que o sujeito apreende o mundo por meio de discursos. Ao acatar esse quadro epistemológico discursivo, considerei o livro didático para o ensino de língua materna, objeto de estudo do trabalho, como um objeto discursivo.
[20:38] <LUCIANO__> Como adiantei, os percursos temáticos e seus investimentos figurativos são determinados sócio-histórica e ideologicamente. A partir deles, estabelecem-se, portanto, diferentes maneiras de ver, sentir e representar o mundo, por meio de discursos, simulacros da ação do homem no mundo.
[20:38] <LUCIANO__> Em relação ao livro didático brasileiro, observei percursos temáticos que impressionam pela “leveza”. Não há ocorrência, na obra, de temas que possam desestabilizar um ambiente mais agradável e motivador de aprendizado.
[20:39] <LUCIANO__> Quando necessário, questões mais espinhosas ligadas ao mundo do jovem recebem um tratamento superficial e pontual, sem maiores explicações ou detalhes, resultando em uma imagem de relativa facilitação, com “tom de voz” ameno.
[20:39] <LUCIANO__> Dos enunciados do livro didático francês, por sua vez, depreendi um simulacro do “mais intenso”, que pela escolha de temas e figuras vive o mundo de forma mais contundente. Ao contrário do livro brasileiro, não há, no livro francês, ao menos aparentemente,
[20:39] <LUCIANO__> nenhum desejo da enunciação em amenizar a escolha de temas densos e/ou figuras, no sentido de poupar o adolescente de questões mais espinhosas.
[20:40] <LUCIANO__> Apresentei a vocês, portanto, duas totalidades, cuja unidade sustenta a imagem de um sujeito como corpo, voz e caráter, sujeito determinado por sistemas de valores e de percepção de mundo.
[20:41] <LUCIANO__> Duas maneiras diferentes de ser, dois éthé, criados discursivamente e fundamentados no eixo extensão/distensão, que refletem e refratam diferentes “realidades”,
[20:42] <LUCIANO__> Dois jeitos de ser: o jeito Português: Linguagens. 9º ano, e o jeito Fleurs d´encre: Français 3e manuel unique, de ser no mundo,
[20:42] <LUCIANO__> o jeito Brasil e França, respectivamente.
[20:42] <LUCIANO__> Obrigado!!!
[20:42] <acris> Muito obrigada, LUCIANO__!
[20:42] <acris> Antes de mais nada, confesso que é uma delícia ler semiótica entre nós, devo agradecer aos dois pela oportunidade e parabéns pelas apresentações! Está aberta a seção de perguntas!
[20:42] <Luiza> gostei muito da apresentação do Luciano
[20:43] <woodsonfc> Obrigado Luciano e Luiza
[20:43] <acris> Luiza: É interessante como os números sempre aparecem como siônimo de verdade, né, Luiza? E se esquece que mesmo com números absolutos é possível a manipulação, como você bem mostra.
[20:43] <Luiza> uma orientanda está analisando livro da modalidade EJA
[20:43] <Luiza> é, Ana
[20:43] <acris> siônimo == sinônimo
[20:43] <woodsonfc> relacionando as duas conferências, como podemos conceber o ideário do destinatário brasileiro para os mapas das eleições e do livro didático brasileiro?
[20:43] <Luiza> há dezenas de mapas desse período
[20:43] <acris> Nessa análise, Luiza, parece-me que o que temos é um determinado grupo apoderando-se de lugares comuns do preconceito para desfazer de um resultado que, se não fosse cindida a unidade nacional, não poderia ser questionado, é isso?
[20:44] <Luiza> sim
[20:44] <Luiza> e houve muito preconceito e intolerância com os eleitores do norte e do nordeste
[20:44] <Luiza> inclusive negando os votos do Rio e Minas
[20:44] <acris> impressionante
[20:45] <Luiza> pelo modo como é representado no primeiro mapa, o da Folha, o país fica literalmente dividido em duas metades
[20:45] <Luiza> uma azul, outra vermelha
[20:45] <LUCIANO__> Luiza, se me permite...
[20:45] <Luiza> claro
[20:45] <LUCIANO__> tenho um projeto de pesquisa atual sobre Preconceito e Intolerância na Mídia
[20:46] <LUCIANO__> e sua pesquisa muito me ajudará
[20:46] <Luiza> ótimo
[20:46] <Luiza> quero ler
[20:46] <woodsonfc> Pois é, mas em termos de mistura, como o tipo brasileiro parece emergir dos discursos produzidos pelos duas formações discursivas: livro didático e mapa da eleição?
[20:46] <Luiza> a Diana Barros é precursora nisso e sua produção está atualíssima diante do que temos acompanhado
[20:47] <LUCIANO__> essa polarização que você trouxe é sabida, porém, quando demostrada cientificamente, mostra-se um tanto perigosa... Precisamos de muita pesquisa nesse sentido
[20:47] <acris> vedade
[20:47] <Luiza> isso se desenha nos textos da mídia
[20:47] <Luiza> há os mapas e os títulos, os comentários, as análises
[20:48] <Luiza> sua reprodução nas redes sociais
[20:48] <Luiza> até o ponto de um sujeito falar em "meu mapa"
[20:48] <woodsonfc> Luiza: a reprodução nas redes já é uma forma de estudar a recepção
[20:49] <acris> acho que o que o woodsonfc está apontando é que aquilo que é otido como o "agradável e portanto adequado" no livro didático é o que permite que se use a unidade quando favorável e se apele ao preconceito quando a unidade - no caso a vitória nas eleições - não é o desejado pela mídia
[20:49] <LUCIANO__> woodsonfc: no LD brasileiro, formamos cidadãos à la Paulo Freire
[20:49] <acris> LD?
[20:50] <Luiza> mas enm tanto, woodson
[20:50] <LUCIANO__> a escola deve ser vista como um lugar agradável, simpático,
[20:50] <Luiza> pelo que vai revelando o Luciano
[20:50] <LUCIANO__> LD+ livro didático
[20:50] <Luiza> Freire pressupõe uma leitura de mundo
[20:50] <acris> ok, obrigada, LUCIANO__
[20:50] <Luiza> e esse livro parece cor-de-rosa do ponto de vista político
[20:50] <LUCIANO__> assim, nada que modifique esse ambiente deve ser levado à sala de aula
[20:50] <LUCIANO__> exatamente, Luiza
[20:51] <Luiza> na EJA há um olhar diferente
[20:51] <LUCIANO__> o aluno é poupado
[20:51] <Luiza> mais Freire mesmo
[20:51] <Luiza> a temática do trabalho atravessa os textos
[20:51] <acris> LUCIANO__: jura que é assim Paulo Freire? não é o que me lembro de pedagogia de oprimidos...
[20:51] <Luiza> e ali entram os problemas todos relativos aos trabalhadores
[20:51] <Luiza> caso dos alunos da EJA
[20:51] <woodsonfc> Então, parece que há uma reprodução do brasileiro como alguém que se deseja "cordial"? e nós professores reproduzimos isso?
[20:51] <LUCIANO__> a própria paginação do LD brasileiro (o corpo discursivo) é mais difuso e menos concentrado, se comparada ao LD francês
[20:52] <LUCIANO__> woodsonfc: o problema começa nos PCNs
[20:52] <LUCIANO__> eles ditam os temas
[20:52] <LUCIANO__> os LDs, para serem aprovados, devem seguir esses temas
[20:52] <acris> LUCIANO__: sua explicação me fez entender a reação exagerada de alguns felizmente poucos alunos meus que, ao ter que falar de software livre versus proprietário numa aula de redação acadêmica, trazem argumentos quase histéricos mostrando seu total despreparo para lidar com aquilo que encaram como afronta e que nada mais é que deixar um tema polêmico seguir seu curso polêmico em sala de aula. Talvez na França eu não tivesse que lidar com
[20:52] <acris> situações extremas como essa, o que você acha?
[20:52] <Luiza> o livro francês me parece mais tradicional do ponto de vista das teorias linguísticas (centrado na literatura...). O brasileiro é mais pragmático...
[20:53] <LUCIANO__> Ana e Luiza, vocês estão corretíssimas
[20:53] <Luiza> aulas de leitura são boas para confrontar os discursos intolerantes, Luciano
[20:53] <LUCIANO__> minha tese de doutorado chega a essas conclusões
[20:54] <LUCIANO__> O aluno brasileiro, infelizmente, não é preparado para reagir polemicamente
[20:54] <acris> LUCIANO__: E pra falar de semiótica: é interessante que a figurativização - ressaltando-se que nesse caso se trata de uma forma de apropriação do mundo concreto pelas palavras e não necessariamente de figuras visuais - é uma forma de manipulação: cria um quadro de valores que supõe ser o do destinatário para, ao fechar o contrato, negociar um conteúdo que está muito mais voltado à forma que ao conteúdo e, portanto, muito mais afeito ao
[20:54] <acris> temático que ao figurativo, é isso mesmo?
[20:55] <woodsonfc> \hum
[20:55] <woodsonfc> Percebo que muitos lugares comuns transpiram em sala de aula quanto a visão dos alunos de alguns temas
[20:55] <LUCIANO__> acres: perfeito
[20:56] <Luiza> eu me lembro dos livros da Norma Discini e do Lídio Tesoto, que eu usava na escola pública, no início dos anos 90
[20:56] <LUCIANO__> woodsonfc: um outro problema é o abandono da literatura no LD brasileiro
[20:56] <Luiza> eles privilegiavam uma boa discussão política sobre democracia, greves, direitos dos trabalhadores
[20:56] <Luiza> a literatura vira um gênero entre outros
[20:56] <LUCIANO__> em nome de uma teoria que tenha que letrar a qualquer preço (gêneros textuais/discursivos), a literatura foi deixada de lado
[20:57] <Luiza> sim
[20:57] <Heloisa> A literatura virou praticamente um enfeite no livro didático
[20:57] <woodsonfc> HQs, vi muito no Cereja
[20:57] <Heloisa> pode-se dizer isso?
[20:57] <LUCIANO__> Como a França possui um imenso patrimônio histórico e cultural, a literatura é ponto de partida de todas as lições do LD francês
[20:58] <thalita> Luiza e LUCIANO__ : Vocês querem dizer que a Literatura perdeu espaço no livro didático ou que ela nunca teve esse espaço?
[20:58] <woodsonfc> A literatura é realmente relegada a um segundo plano
[20:58] <Luiza> imagino o que aconteceria se os livros didáticos de língua portuguesa tratassem hoje de questões mais espinhosas...
[20:58] <Luiza> ela tinha grande espaço
[20:58] <LUCIANO__> Detalhe: esqueci de dizer que escolhi Cereja porque é o LD mais adotado. Fiz uma triagem antes
[20:58] <Luiza> é um dos melhores, mesmo
[20:58] <LUCIANO__> thalita: já teve espaço
[20:58] <LUCIANO__> não o suficiente
[20:58] <woodsonfc> A ideia é que se deve seduzir o aluno que não está suficientemente envolvido com a leitura de textos literários
[20:58] <LUCIANO__> mas já teve
[20:59] <LUCIANO__> pegue LDs da década de 1980 e você verá
[20:59] <woodsonfc> usei o Cereja até ano passado
[20:59] <Luiza> nos anteriores mais ainda
[20:59] <LUCIANO__> a partir de 1997, com a publicação dos PCNs, a literatura cai em esquecimento
[21:00] <woodsonfc> hum! Verdade
[21:00] <acris> Bem, estamos chegando ao final de nossa jornada de hoje, Luiza , LUCIANO__ e woodsonfc gostariam de fazer algum comentário para fechar?
[21:00] <Luiza> eu gostaria de agradecer
[21:00] <LUCIANO__> em nome de uma teoria linguística (gêneros textuais) para letrar, abandona-se a riqueza do patrimônio literário
[21:00] <Luiza> achei muito bacana
[21:00] <LUCIANO__> Pessoal, eu adorei!!!
[21:00] <LUCIANO__> de verdade!!!
[21:00] <LUCIANO__> Muito obrigado pelo convite!!!
[21:00] <Luiza> gostei de conhecer o trabalho do Luciano
[21:00] <woodsonfc> E os estudos literários só são retomados no ensino médio, porém com carater de estudos dos períodos
[21:01] <Luiza> para nossas pesquisas na UFT...
[21:01] <LUCIANO__> E eu também gostei do seu, Luiza. Vai me ajudar!!!
[21:01] <Luiza> agradeço à Ana e à Adelma pelo convite
[21:01] <LUCIANO__> woodsonfc: obrigado pelas questões
[21:01] <Luiza> e ao professor Woodson pelos comentários
[21:01] <LUCIANO__> Adelma, Ana, Thalita
[21:02] <woodsonfc> Eu que agradeço!
[21:02] <acris> Agradeço aos autores por esse excelente momento, ao Woodson pela apresentação, à Adelma que foi a alma do STIS e sem ela não estaríamos aqui (infelizmente a internet dela caiu) e a todos os presentes. Quem precisar de certificado deve preencher o formulário no site. E aguardem em breve notícias do STIS de junho, que também promete! Palmas aos conferencistas! Parabéns! clap clap clap clap clap clap clap clap
[21:02] <acris> clap clap clap clap clap clap clap clap
[21:02] <Luiza> rsrsrs
[21:02] <LUCIANO__> lol
[21:02] <Luiza> abraços a todos, boa noite
[21:02] <woodsonfc> Parabéns aos dois: Luiza e Luciano
[21:02] <LUCIANO__> Obrigado
[21:02] <LUCIANO__> Merci!!!
[21:02] <Luiza> obrigada, Woodson
[21:02] <woodsonfc> clap clap clap clap clap clap clap clap
[21:02] <LUCIANO__>
[21:02] <acris> clap clap clap clap clap clap clap clap
[21:02] <thalita> Obrigada, Luiza e LUCIANO__!!
[21:03] <Luiza> au revoir
[21:03] <LUCIANO__> À bientôt!
[21:03] <thalita> clap clap clap!!
[21:03] <acris> Abraços e uma ótima noite!
[21:10] <woodsonfc> Desculpe a ausência. Encerramos, portanto, a conferência e convidamos a todos para estar conosco na próxima conferência que oportunamente divulgaremos na nossa página e nas mídias sociais! Obrigado pela presença de todos e boa noite!
[21:13] <thalita> Boa noite, woodsonfc!
[21:14] <thalita> Boa noite a todos!
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