Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

Número de respostas: 12

VERIDICÇÃO E CONSTRUÇÃO DA VERDADE

Uma análise de post de Instagram sobre os relacionamentos amorosos de mulheres autistas

Autores

•     Alexandra Cristina de Moura Faculdade de Letras/UFMG / PPGL/PUC-Minas

Palavras-chave:

semiótica, autismo, redes sociais

Resumo

Este trabalho analisa uma postagem da página @sexualidade.autista no Instagram à luz da teoria semiótica greimasiana, buscando compreender como se constrói a verdade nesse tipo de discurso. A peça, voltada à conscientização sobre os riscos enfrentados por mulheres autistas em relações afetivas, utiliza elementos verbais e simbólicos para desconstruir o senso comum. A análise identifica os mecanismos narrativos, modais e veridictórios que estruturam a construção do sentido e da verdade no post.

PDF: leia aqui o texto completo

Coordenadores de mesa: 

  • professor Ana Matte
  • Mesa: Robert Iquiapaza

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Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Robert Iquiapaza -
Como membros da Comissão Científica, temos a honra de dar as boas-vindas a todos os autores e ao nosso estimado público. É com entusiasmo que celebramos este espaço de encontro e diálogo, voltado ao compartilhamento de conhecimento e à promoção de discussões sobre temas fundamentais para a universidade, a educação a distância (EAD) e o software livre. Que este seja um ambiente fértil de aprendizado mútuo, troca de ideias e, acima de tudo, de debates produtivos que fortaleçam nossa caminhada coletiva rumo à inovação e à inclusão.
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Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Isadora Baroni Santos -
Achei muito interessante como o artigo traz uma análise crítica sobre a construção da verdade nos discursos digitais, especialmente tratando de um tema tão delicado quanto os relacionamentos afetivos de mulheres autistas. A escolha do post do Instagram foi muito pertinente, pois mostra como as redes sociais podem funcionar como espaços de denúncia e conscientização. A articulação entre os conceitos de veridicção e os elementos visuais/textuais do post foi muito bem feita, tornando a leitura clara mesmo para quem não tem familiaridade com a semiótica. Gostei também de como o estudo valoriza a experiência subjetiva dessas mulheres.
Vocês acreditam que a abordagem semiótica poderia ser usada para analisar outros tipos de postagens de cunho social nas redes?
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Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Alexandra Cristina de Moura -
Olá, Isadora! Muito obrigada pelo seu comentário tão generoso e atento! Fico feliz que a escolha do post tenha sido considerada pertinente, realmente a proposta era explorar como as redes sociais funcionam como espaços de resistência simbólica, especialmente em relação às experiências afetivas de mulheres autistas, que costumam ser silenciadas ou invalidadas.

Sobre sua pergunta: sim, acredito plenamente que a abordagem semiótica pode (e deve) ser aplicada a outros tipos de postagens de cunho social. A teoria greimasiana, ao tratar o sentido como construção discursiva e valorativa, é uma ferramenta potente para revelar os contratos de verdade e os embates ideológicos que estão por trás de discursos sobre raça, gênero, deficiência, sexualidade, entre outros. O desafio é sempre escolher objetos que mobilizem esses regimes de valor com densidade e, ao mesmo tempo, permitam articulações didáticas e políticas, como foi o caso desse post em particular.
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Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Ana Cristina Fricke Matte -
Alexandra,
Este é o melhor momento da nossa disciplina, quando vocês podem conversar com outras pessoas sobre o trabalho que fez, não ficando restritos à minha avaliação.
Semiótica é minha melhor praia e fico contente que tenha feito bom proveito da disciplina. O que você considerou mais difícil de levar do estudo teórico à prática na análise desse tema que é duplamente polêmico (mas não deveria ser, claro)?
Um ótimo evento!
Ana
Em resposta à Ana Cristina Fricke Matte

Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Alexandra Cristina de Moura -
O mais desafiador, sem dúvida, foi equilibrar o rigor teórico da semiótica com a sensibilidade necessária para tratar de um tema tão delicado como os relacionamentos afetivos de mulheres autistas. A teoria greimasiana é bastante estruturada e abstrata, o que pode parecer distante quando estamos lidando com vivências reais, atravessadas por dor, exclusão e apagamento simbólico.

Outro ponto difícil foi lidar com o risco de simplificar demais uma experiência complexa ou de, sem querer, reproduzir algum tipo de estereótipo ao tentar "traduzir" essas experiências para dentro da lógica da análise discursiva. Como se trata de um grupo historicamente silenciado, a responsabilidade ética é enorme e isso exige não só cuidado com as escolhas conceituais e metodológicas, mas também escuta ativa e humildade para reconhecer os limites de uma análise que, por mais cuidadosa que seja, nunca dará conta de toda a densidade do vivido.
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Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Marco Thulio Alves Maciel -
Que leitura sensível e potente! Fiquei tocado pela forma como vocês desconstroem o rótulo de drama e reinventam o post sobre red flags como um grito legítimo de cuidado, mostrando passo a passo como cores, imperativos e contratos veridictórios criam o efeito de verdade que legitima a experiência de mulheres autistas . Uma curiosidade: vocês imaginam que a mesma análise renderia insights diferentes se aplicada a vídeos curtos do TikTok, onde o ritmo acelerado e os áudios virais podem mudar a forma como o público reconhece e valida esses alertas?
Em resposta à Marco Thulio Alves Maciel

Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Alexandra Cristina de Moura -
Sobre sua pergunta, acredito que a análise aplicada a vídeos curtos do TikTok realmente poderia render insights diferentes, justamente por conta das especificidades da plataforma em termos de ritmo, formato e mecanismos de circulação dos conteúdos.

Na perspectiva da veridicção, conforme discutimos no texto sobre os contratos veridictórios, a construção da “verdade” em discursos digitais depende não só do conteúdo, mas do modo como ele é apresentado e reconhecido socialmente como legítimo. No caso do TikTok, o ritmo acelerado e a forte presença de elementos audiovisuais (como áudios virais, efeitos visuais e uma estética performativa) podem alterar significativamente os contratos veridictórios implícitos na recepção dos vídeos.

Enquanto em um post escrito, como o analisado, a textualidade e o design visual permitem uma construção detalhada e pausada do alerta, os vídeos curtos exigem que a mensagem seja transmitida rapidamente e de forma impactante, o que pode favorecer uma compreensão mais emocional e imediata, mas também potencialmente superficial. Além disso, os algoritmos de recomendação do TikTok influenciam quais conteúdos são destacados e podem criar bolhas interpretativas específicas, alterando o reconhecimento coletivo dessas “red flags”.

Do ponto de vista semiótico, o uso intensivo de signos visuais, sonoros e gestuais no TikTok reforça a dimensão performativa da mensagem, que pode amplificar a expressão de emoções e sensações, mas também tornar o processo de legitimação mais fluido e menos ancorado em contratos discursivos formais, como ocorre nos textos escritos.

Portanto, a análise veridictória em TikTok precisaria levar em conta esses novos modos de enunciação e recepção, considerando como os diferentes canais semióticos e as dinâmicas algorítmicas reconfiguram o que é aceito como “verdade” ou “alerta legítimo” na experiência das mulheres autistas.
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Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Robert Iquiapaza -
Parabéns Alexandra, enquanto o estudo foca em um caso específico de mulheres autistas, os mecanismos semióticos de construção de sentido, de desconstrução do senso comum e de legitimação da voz frente à desqualificação parecem mais amplos. A sua análise fornece um modelo de como a linguagem é usada para criar um "efeito de verdade" e resistir simbolicamente, o que pode ser observado e aplicado a uma vasta gama de discursos e públicos.
Em resposta à Robert Iquiapaza

Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Alexandra Cristina de Moura -
Obrigada! Concordo que, apesar do foco em mulheres autistas, os mecanismos semióticos que evidencio, especialmente a construção do “efeito de verdade” e a resistência simbólica à desqualificaçã, têm uma aplicabilidade muito mais ampla, pois revelam como a linguagem atua para legitimar vozes marginalizadas e desconstruir sentidos comuns arraigados, servindo como um modelo para analisar diversos discursos e públicos que também enfrentam processos semelhantes de invisibilização ou contestação.
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Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Maria Eduarda Gomes Ribeiro -
O artigo é muito bem fundamentado e traz uma análise semiótica bastante cuidadosa sobre um tema delicado e urgente: os riscos enfrentados por mulheres autistas em relacionamentos amorosos. A autora consegue conectar teoria e prática de forma clara, tornando o texto acessível e ao mesmo tempo profundo. É um trabalho que promove reflexão e oferece uma contribuição significativa para os debates sobre autismo e gênero.
Em resposta à Maria Eduarda Gomes Ribeiro

Re: Veridicção e Construção da Verdade. Autoria: Alexandra Cristina de Moura

por Alexandra Cristina de Moura -
Muito obrigada pelo reconhecimento! Fico feliz que a análise semiótica cuidadosa tenha conseguido articular teoria e prática de forma clara e acessível, especialmente tratando de um tema tão sensível e urgente como os riscos enfrentados por mulheres autistas em relacionamentos amorosos. Minha intenção foi justamente promover uma reflexão profunda que contribua para ampliar o debate sobre autismo e gênero, fortalecendo vozes que muitas vezes são invisibilizadas ou desconsideradas.