Resumo |
Conrado Moreira Mendes
A EXPRESSÃO E O CONTEÚDO
DA FALA DO JORNAL NACIONAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos
Linguísticos, da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas
Gerais, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Linguística.
Área de Concentração: Linguística
Linha de Pesquisa: Linguagem e Tecnologia
Orientadora: Profª. Drª. Ana Cristina Fricke Matte
Resumo
Esta dissertação é fruto de uma pesquisa que pretendeu analisar como se
constroem os sentidos da fala, em sua acepção saussuriana, do principal
telejornal brasileiro: o Jornal Nacional. Por fala, entende-se a
realização da língua, o que implica semioticamente a existência de dois
planos: conteúdo e expressão. Ao se trabalhar com os dois planos da
função semiótica, no que concerne à fala, requisitou-se, de um lado, a
fonética acústica, disciplina que analisa as características físicas dos
sons da fala, ou seja, as ondas acústicas mecanicamente produzidas. Por
outro lado, ancorou-se no escopo teórico-metodológico da semiótica do
discurso, disciplina que se interessa pelos mecanismos intra-textuais de
produção de sentido do texto, lato sensu. Partindo da análise da
fonética acústica, destaca-se o resultado segundo o qual existe uma
correlação muito baixa, de 17%, entre a variação segmental (derivada de
F0 interna de VV) e a variação prosódica para o F0 (pitch do GA). Além
disso, a correlação entre F0 do VV e pitch do GA também é baixa (22%).
Isso indicaria uma primeira relação entre conteúdo e expressão, já que
se pode considerar o GA uma unidade de sentido, enquanto o VV não. A
análise fonética respondeu ainda à seguinte pergunta: existe uma
uniformização na fala de repórteres e apresentadores do JN com relação à
produção dos arquifonemas /R/ e /S/? A partir de dados fonéticos
trabalhados estatisticamente, pôde-se comprovar baixa variabilidade na
realização de tais arquifonemas. Quanto ao sentido do conteúdo, ao se
fazer uma análise semiótica das matérias do Jornal Nacional, puderam ser
depreendidas algumas estruturas invariantes sobre as quais se constrói o
discurso desse noticiário. As matérias foram analisadas principalmente
no que tange o nível discursivo, previsto pelo percurso gerativo de
sentido. Da semântica discursiva, observou-se como se constroem sentidos
por meio da análise de temas e figuras. Além disso, do nível
discursivo, analisou-se a aspectualização do tempo, ou seja, o andamento
do texto. Quanto ao andamento, os textos analisados se estruturam de
duas maneiras: a primeira delas é um andamento acelerado inicial que
decresce no decorrer do texto. A segunda forma de estruturação textual,
no que se refere ao andamento, é uma oscilação entre aceleração e
desaceleração. Com relação às análises dos temas e figuras, pode-se
dizer que o discurso do Jornal Nacional é muito mais temático que
figurativo. Isso quer dizer que o JN muito mais explica e organiza a
realidade, por meio de temas, do que a recria discursivamente, por
figuras. Buscou-se, ademais, perceber os traços sêmicos subjacentes e
chegou-se a uma relação entre, de um lado, o querer e, de outro, o
dever. Essa tensão entre o querer e o dever mostra que, na maioria das
vezes, este é valorizado euforicamente, ao passo que aquele tem um valor
negativo construído no e pelo texto. Poder-se-ia afirmar que a
noticiabilidade de uma matéria jornalística, nasce do conflito
especificamente entre o dever-não-fazer e o querer-fazer, em que há uma
quebra de um contrato fiduciário estabelecido. Por fim, relacionou-se o
conteúdo e a expressão da fala do Jornal Nacional para perceber de que
maneira se dá o comportamento mútuo desses funtivos. Partindo da
proposta de Matte (2008), que mostrou a inadequação do nível narrativo
para o estudo interdisciplinar entre conteúdo e expressão da fala,
cruzaram-se dados semióticos provenientes de análise temático-figurativa
e aspectual do texto, ou seja, a partir do nível discursivo. Os dados
semióticos foram representados pelas etiquetas valor
(positivo/negativo), disposição (do sujeito em questão, dever/querer) e
andamento (acelerado/desacelerado). Dados da pesquisa apontam para um
quadro em que alguns elementos do plano do conteúdo afetam, na fala do
Jornal Nacional, elementos do plano da expressão, em análises
estatisticamente significantes e que, portanto, não devem ser
descartadas. Estabelecer-se-ia, portanto, uma relação simbólica, ou
seja, que alguns elementos do conteúdo - que não chegam a compor
categorias - afetam alguns elementos da expressão, que tampouco formam
categorias, sugerindo uma relação culturalmente estabelecida.
|