4. Junho: Avanços de REA e Educação Aberta no Brasil | Arquiteturas de educação aberta

4.1. registro junho

Registro da Conferência em chat escrito, de 13 de junho de 2018:

 

Avanços de REA e Educação Aberta no Brasil nos últimos 10 anos

(Profª. Ma. Débora Sebriam (Instituto Educadigital))

 

 

As muitas aberturas: promessas e desafios das arquiteturas de educação aberta

((Prof. Me. Tiago Soares (USP))

 

 

 

moderador: Equipe STIS

 

 

[19:29] <JoyceFettermann> Boa noite a todos mais uma vez!
[19:30] <JoyceFettermann> Estamos iniciando a última conferência deste bloco
[19:30] <JoyceFettermann> Recursos Educacionais Abertos: entre definições e discussões, da teoria à prática.
[19:30] <JoyceFettermann> E hoje, teremos a presença dos professores Débora Sebriam e Tiago Soares, que vêm desenvolvendo pesquisas muito interessantes nesta área.
[19:30] <JoyceFettermann> Tiago já está na sala?
[19:31] <JoyceFettermann> Gostaria de convidar primeiro a Débora,
[19:31] <JoyceFettermann> Professora Mestre em Engenharia de Mídias para a Educação (2009).
[19:31] <JoyceFettermann> Especialista em Atividade Física e Qualidade de Vida pela Universidade Estadual de Campinas (2007). Licenciada em Educação Física pela Universidade Estadual de Londrina (2005).
[19:31] <JoyceFettermann> Possui experiência na área de Tecnologias da Informação e Comunicação aplicadas à Educação, atuando principalmente nos seguintes temas:
[19:32] <JoyceFettermann> integração de tecnologias ao currículo, tecnologias e formação de professores, recursos educacionais abertos, educação a distância, uso seguro das telas digitais.
[19:32] <deborasebriam> Boa noite a todos!
[19:32] <JoyceFettermann> Os comentários e discussões serão feitos ao final das duas palestras, ok?
[19:32] <JoyceFettermann> Seja bem-vinda, Débora! Você tem 30 minutos para a sua apresentação.
[19:33] <deborasebriam> combinado
[19:34] <deborasebriam> Minha intenção é dar um panorama geral do tema no Brasil e os avançoes e desafios que temos pela frente
[19:34] <deborasebriam> O início do movimento em torno dos Recursos Educacionais Abertos (REA) está associado a um encontro internacional realizado em Paris, na sede da UNESCO em 2002. Quinze anos depois, há sensação de que os REA entraram definitivamente na pauta educacional de governos, instituições e indivíduos interessados em promover valores como equidade, qualidade e inclusão, evidenciados no 4º objetivo dos Objetivos de Desenvolvimento
[19:36] <deborasebriam> Aqui no Brasil, a disseminação da causa está ligado a algumas pessoas e pequenos grupos
[19:36] <deborasebriam> apesar de cada vez mais pessoa entrarem em contato com o tema.
[19:37] <deborasebriam> O ano de 2017 foi celebrado como um marco no movimento de promoção dos REA. O chamado Year of Open celebrou os cinco anos da Declaração de Paris sobre REA da UNESCO (2012).
[19:37] <deborasebriam> Essa declaração foi um marco importante não só para o Brasil e abriu caminho para ações que iam além de ações de políticas públicas de governos.
[19:38] <deborasebriam> No Brasil, o conhecimento sobre o tema ainda é incipiente, porém crescente. O número de trabalhos sobre REA na academia cresceu gradativamente bem como a conexão entre atores dos diversos campos do ‘aberto’ (educação, dados, software, ciência, hardware, dentre outros). Alguns legisladores e gestores públicos têm tomado consciência da necessidade de disponibilizar o material educacional pago com dinheiro público par
[19:39] <deborasebriam> Os primeiros anos do movimento em torno dos REA no Brasil tiveram como enfoque a promoção de políticas públicas em larga escala através da sensibilização do executivo e do legislativo em torno dos benefícios da abertura na educação, especialmente em relação ao bom uso das verbas públicas.
[19:40] <deborasebriam> Os resultados dessas ações incluem uma série de projetos de lei e decretos, mas infelizmente, pouco seguimento com ações de formação na ponta, sensibilização e mudanças concretas de práticas.
[19:41] <deborasebriam> Esse recorte se dá especialmente entre 2011 e 2014 com a apresentação do PL federal, um PL estadual em São Paulo e um decreto municipal no munícipio de SP.
[19:41] <deborasebriam> Toda a força de trabalho do movimento REA se direcionava ao apoio do poder legislativo
[19:42] <deborasebriam> A partir de 2014 outras ações e estratégias contribuiram para uma ampliação do movimento REA e vários projetos começaram a surgir
[19:42] <deborasebriam> seja na universidade ou até mesmo propostas da sociedade civil
[19:43] <deborasebriam> Desde 2014, as principais ações em nível federal relacionadas a REA são: Plano Nacional de Educação (PNE) nas metas 5 e 7 ressalta o o uso de REA; CAPES encomenda consultoria técnica jurídica sobre Direito Autoral e REA; CAPES contrata formação de gestores da DED CAPES sobre REA e workshop para elaboração de estratégias de implementação;
[19:43] <deborasebriam> CAPES por meio da DED (Diretoria de Educação a Distância) inicia elaboração de documentos normativos institucionais para implementação de uma política de REA para o Programa Universidade Aberta do Brasil;
[19:43] <deborasebriam> Open Government Partnership (OGP-Brasil) reúne governo e sociedade civil para cocriação do Compromisso #6 do 3º Plano de Ação Brasil que visa estabelecer novos modelos para avaliação, aquisição, fomento e distribuição de recursos educacionais digitais, priorizando “autonomia para uso, reuso e adaptação”, ou seja, recursos abertos;
[19:44] <deborasebriam> CNE/CES publica Resolução nº 1, de 11 de março de 2016, determinando a disponibilização de cursos de educação superior a distância como REA;
[19:44] <deborasebriam> Portaria MEC nº 300 de 19 de abril de 2016 sobre procedimentos de recepção, avaliação e distribuição de recursos educacionais digitais abertos ou gratuitos;
[19:44] <deborasebriam> MEC divulga edital do PNLD 2019 com cláusula sobre licença aberta para o material complementar.
[19:45] <deborasebriam> Muito recentemente o MEC publicou portaria sobre Recursos Educacionais Abertos
[19:45] <deborasebriam> Um documento normativo define que todos os recursos educacionais financiados com fundos públicos devem ter licença aberta e, quando digitais, disponibilizados em plataformas na web.
[19:46] <deborasebriam> todas essas ações foram articuladas a principio pelo Instituto Educadigital e após em parceria com a Cátedra Unesco de Educação Aberta
[19:47] <deborasebriam> Essa parceria resultou na iniciativa educação aberta que com o seu trabalho conseguiu articular a criação de um grupo de trabalho sobre REa no MEC.
[19:48] <deborasebriam> Pra vocês entederem a dinâmica de trabalho para que todos esses avanços foram conquistados, desde 2015 não temos nenhum financiamento para dedicar energia a essas ações
[19:48] <deborasebriam> * foram = fossem
[19:51] <deborasebriam> A necessidade de formação de profissionais que trabalham na formação incial e na educação básica é necessária para fomentar práticas de abertura e colaboração e inaugurar espaços de diálogo.
[19:52] <deborasebriam> Atualmente estamos oferecendo o 1º curso REA para 300 professores e técnico-administrativos da universidade aberta do Brasil
[19:53] <deborasebriam> Esse curso visa justamente a sensibilização em torno no tema e a disseminação mais abrangente da filosofia dos REA
[19:53] <deborasebriam> um desagio muito grande ainda é essa formação em massa
[19:53] <deborasebriam> *desafio
[19:53] <deborasebriam> Entendo que as universidades públicos brasileiras podem ser grandes formadoras do tema
[19:54] <deborasebriam> e pensando nisso, nosso intuito é de formar "embaixadores" que sejam formadores em suas instituições.
[19:54] <deborasebriam> Além de continuar o trabalho junto ao MEC através do Grupo de Trabalho.
[19:55] <deborasebriam> Dessa forma, aliamos formação e também sensibilizamos o poder executivo, responsável pelas políticas educacionais do país.
[19:56] <deborasebriam> agradeço o espaço e fico a disposição para perguntas
[19:58] <deborasebriam> convido a todos para conhecer a última publicação que trata da implementação de uma política de educação aberta: http://educadigital.org.br/guiaEA/
[19:59] <deborasebriam> E também o site da Iniciativa Educação Aberta que traz de maneira fácil todas as informações que compartilhei com vocês nessa noite
[19:59] <deborasebriam> http://aberta.org.br/
[19:59] <JoyceFettermann_> Obrigada, Débora!
[20:00] <deborasebriam> eu que agradeço
[20:00] <JoyceFettermann_> Pessoal, o Tiago está com problemas de conexão, tentando entrar na sala.
[20:01] <JoyceFettermann_> Podemos, então, fazer as discussões sobre a palestra da Débora neste momento, enquanto ele chega. Depois começamos a dele.
[20:01] <deborasebriam> ok
[20:03] <acris> gostei muito da apresentação, Débora, belo trabalho o de vocês.
[20:05] <deborasebriam> Nesse último ano as principais conquistas foram sem dúvida o PNLD, a portaria sobre REA e o Curso REa da Capes
[20:05] <JoyceFettermann_> Débora, parabéns pela apresentação! Lendo seu texto, é bom ver quantas ações têm sido realizadas em torno da propagação de REA no Brasil.
[20:05] <deborasebriam> Obrigada
[20:06] <daniervelin> oi, deborasebriam! Gostaria só de comentar, e talvez vc acrescentar algo, sobre as dificuldades comuns que o pessoal tem encontrado com a prática da ideia de REA no curso da Capes
[20:06] <JoyceFettermann_> Ainda há um longo caminho a ser percorrido, mas percebemos o quanto pesquisadores têm se empenhado a melhorar o trabalho.
[20:07] <deborasebriam> Verdade!
[20:07] <acris> gostei de ver no site o enorme botão "recomende um REA". As pessoas tem colaborado? Quais as áreas que mais participam assim, voluntariamente?
[20:07] <deborasebriam> Apesar do conceito de REA ser relativamente simples, causa bastente insegurança ainda
[20:07] <daniervelin> há muitas dificuldades ligadas ao hábito de usar fontes sem saber muito bem qual a licença têm
[20:08] <deborasebriam> sim, a licença ainda não é bem entendida]
[20:08] <deborasebriam> e quando entramos em formatos, as coisas ficam ainda mais complicadas
[20:08] <daniervelin> mesmo para nós algumas licenças ainda não são bem entendidas
[20:08] <JoyceFettermann_> Verdade, daniervelin!
[20:09] <deborasebriam> Nós lançamos ano passado um referatório somente com licenças livres: http://relia.org.br/
[20:09] <deborasebriam> o objetivo é que as pessoas comecem a perceber a diferença entre aberto e gratuito
[20:10] <deborasebriam> e o impacto que os direitos autorais como foram concebidos não fazem sentido numa sociedade imersa nacultura digital
[20:10] <deborasebriam> a ideia de remix foi o que mais causou confusão no cursp
[20:10] <deborasebriam> a ideia de "posse" sobre recursos educacionais ainda é muito forte
[20:11] <deborasebriam> são grandes desafios que só serão resolvidos com formação, troca, prática
[20:11] <daniervelin> sim, também a postagem de um recurso no site EduCapes. Alguns usaram recursos com copyright!!!
[20:12] <daniervelin> complicado...
[20:12] <daniervelin> passar da teoria para a prática ainda não é fácil
[20:13] <deborasebriam> é um processo!
[20:13] <JoyceFettermann_> Eu percebo que ainda há um "receio" em compartilhar por parte dos professores... ainda há uma resistência quanto ao compartilhamento...
[20:14] <JoyceFettermann_> de materiais, atividades etc
[20:14] <deborasebriam> É verdade! Mas a justificativa é estranha
[20:14] <JoyceFettermann_> muito!
[20:14] <Tiago_> Oi pessoal! Desculpa o atraso!
[20:14] <deborasebriam> tem gente que compartilhanuma boa material copyright
[20:14] <JoyceFettermann_> Oi, Tiago_! Bem-vindo! sorriso
[20:14] <deborasebriam> mas quando insere licença acha que as pessoas vão "se apropriar"
[20:15] <JoyceFettermann_> exatamente
[20:15] <deborasebriam> as pessoas ainda não perceberam que esse movimento independe de licença
[20:15] <Tiago_> Minha conexão estava comp0licada, tive que vir correndo para um café com conexão. Desculpa mesmo.
[20:15] <deborasebriam> mas a licença na minha opiniao pode ser muito educativa
[20:15] <JoyceFettermann_> parece um medo de não ser o "dono" do determinado material, sei lá...
[20:15] <deborasebriam> Pois é
[20:15] <deborasebriam> Olá Tiago!
[20:15] <JoyceFettermann_> Tiago_, sem problemas!
[20:16] <deborasebriam> Fiquem a vontade para passar a bola
[20:16] <deborasebriam> acompanharei por aqui a nova conversa
[20:16] <JoyceFettermann_> Ok, vamos, então, passar para a segunda palestra
[20:16] <Tiago_> Opa! Ufa!
[20:16] <JoyceFettermann_> Muito obrigada, Débora!
[20:16] <JoyceFettermann_> sorriso
[20:17] <JoyceFettermann_> Convido, então, o professor Tiago Soares
[20:17] <JoyceFettermann_> "/devoice deborasebriam
[20:18] <Tiago_> Então pessoal, o trabalho que apresentarei é um breve recorte. É um trabalho de crítica e mapeamento de tensões em torno da noção de "aberto".
[20:18] <JoyceFettermann_> Tiago, posso falar um pouquinho sobre você?
[20:19] <Tiago_> Ah sim por favor!
[20:19] <JoyceFettermann_> sorriso
[20:19] <JoyceFettermann_> Bom, o Tiago é formado em Comunicação Social pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), com mestrado em Divulgação Científica e Cultural pela Universidade de Campinas (Unicamp).
[20:20] <JoyceFettermann_> É doutorando em História pela Universidade de São Paulo (USP). Tem trabalhos como Pesquisador da Cátedra Unesco em Educação Aberta (NIED/Unicamp).
[20:20] <JoyceFettermann_> Como pesquisador e ativista, acompanha o movimento da educação, cultura e tecnologias livres no Brasil desde o início da década de 2000, e coordenou projetos junto a instituições e grupos de trabalho como a PUC-SP e o Fórum Internacional de Software Livre.
[20:20] <JoyceFettermann_> É colaborador da Rede Latino-Americana de Estudos sobre Vigilância, Tecnologia e Sociedade (Lavits), e associado aos grupos Informação, Ciência, Tecnologia e Sociedade – ICTS (Unicamp) e Antropi (UFRGS).
[20:21] <JoyceFettermann_> tem trabalhos junto ao junto ao ao Núcleo de Informática Aplicada à Educação – Nied (Unicamp), ao Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo – Labjor (Unicamp), e ao Centro de História da Ciência (USP).
[20:21] <JoyceFettermann_> Muito obrigada pela disponibilidade! Seja bem-vindo!
[20:21] <JoyceFettermann_> Você tem 30 minutos.
[20:22] <Tiago_> ok!
[20:23] <Tiago_> Antes de começar, gostaria de falar um pouco sobre o grupo que possibilitou a produção edste trabalho. Este caso em questão, trata-se de uma reflexão coletiva. Boa parte do que apresentarei foi produzido em parcerias com outros professores e ativistas. É importante citá-los (e agradecê-los): Tel Amiel (UnB), Ewout ter Haar (USP), e Miguel Vieira (UFABC).
[20:23] <Tiago_> Enfim, darei início.
[20:24] <Tiago_> É celebrada no discurso da abertura a percepção de que suas práticas, em sua potência, exerceriam uma profunda força liberadora. Um olhar mais atento, porém, revela que essas novas arquiteturas de criação e prática podem, também, abrir caminho a dubiedades e tensões não desprezíveis.
[20:24] <Tiago_> Esses delineamentos, signos de uma cultura que se apoia sobre novas tecnologias digitais para a galvanização de renovadas dinâmicas, práticas e arranjos para a produção intelectual e criativa, embora entendidas sob uma lógica comum, podem apresentar, também, um desafio. Reunidos sob a noção ampla de Cibercultura, essa multiplicidade de arranjos apresenta, em sua extensão, um desafio em si.
[20:25] <Tiago_> Há uma carga de mobilização social e política considerável na viabilização desse ecossistema, especialmente em países do sul global como os da América Latina. Embora o lore a animar os espaços de influência do discurso do aberto e da cibercultura tragam em seu centro o mito da autonomia individual e das manifestações comunitárias espontâneas,
[20:25] <Tiago_> em países como o Brasil a viabilidade desses arranjos, especialmente em áreas sensíveis às políticas de Estado, como a Educação, passa especialmente pelos espaços da política institucional. Levantamento recente aponta que, das iniciativas de REA constituídas na AL, a maioria era viabilizada por governos, seja em nível federal, estadual ou municipal.
[20:26] <Tiago_> É razoável supor que a articulação do discurso e das políticas informadas pela noção de abertura e de autonomia tecnológica traga, nesses casos, uma camada extra de negociações sobre uma estrutura com tensões que, históricas, estariam já em constante negociação -- afinal, como equilibrar a necessidade de um core de diretrizes, necessárias ao desenho de políticas públicas, às especificidades de práticas e arranjos reg
[20:26] <Tiago_> E é tentador -- e compreensível que o seja -- que a noção ampla de descentralização e autonomia latentes no discurso da abertura sejam entendidos como ferramentas para a neutralização dessas clivagens. Mas essas proposições não apagam o acumulado histórico, ou os espaços da política institucional, ou as negociações entre diretrizes e tradições comunitárias.
[20:27] <Tiago_> E, ao se apresentarem como viabilizadas a partir da arena da política institucional, podem se impor como uma nova dimensão a ser acionada e articulada -- como catalisador de arquiteturas que, em sua potência, podem trazer descentralização, autonomia e colaboração;
[20:27] <Tiago_> ou que podem, do mesmo modo, se dissolver em soluções inócuas que, em casos de maior gravidade, chegariam mesmo a aprofundar obstruções prévias de canais de criação, colaboração e circulação de conhecimento e práticas.
[20:27] <Tiago_> A racionalidade liberal que informa a construção da esfera pública na segunda metade do século XX viu na construção de um projeto baseado no domínio da técnica, das ferramentas de comunicação e das livres manifestações comunitárias uma espécie de vacina à emergência de possíveis forças do arbítrio e de erosão da democracia.
[20:29] <Tiago_> . Em seus modelos dinâmicos explicando a produção da ciência e o avanço do domínio humano sobre os modos de construção do conhecimento, pensadores como Karl Popper e Thomas Kuhn apontaram na equidade de acesso ao conhecimento e às suas ferramentas de elaboração, um caminho que, mais que sedimentar a maturidade de seus novos projetos epistemológicos, serviu de guia à percepção de noções como ‘abertura’ e ‘acesso’
[20:29] <Tiago_> vetores à emancipação e à liberdade, e ao contínuo desenvolvimento do conhecimento e da ciência. Esse discurso, porém, pode ser um pouco ingênuo, ou mesmo levar ao entendimento de sentidos políticos e econômicos que, no processo de concretização de iniciativas 'abertas', apontem a dinâmicas diversas e conflitantes quanto a seus objetivos, funcionamentos e resultados.
[20:30] <Tiago_> Mas existe um outro lado do conceito aberto, não menos poderoso na sua capacidade de mobilização. Como exemplo, na área de transparência e governo aberto, chamadas para maior abertura são justificadas diferentemente para públicos com perspectivas políticas distintas.
[20:30] <Tiago_> Para um público economicamente conservador, individualista e voltado para o mercado, a eficiência da abertura se sobressai.
[20:30] <Tiago_> Para este público, ‘abrir’ dados governamentais para uso da iniciativa privada se encaixa perfeitamente numa ideologia de estado mínimo.
[20:31] <Tiago_> . Para outros atores, ao mesmo tempo, a ‘abertura’ do governo pode ser interpretada como empoderamento da sociedade civil, favorecendo a democracia participativa e a construção coletiva de bens comuns voltados aos menos privilegiados.
[20:31] <Tiago_> Assim, se o mesmo conceito tem sido capaz de atender as necessidades retóricas de lados opostos do espectro político, surgem as questões de por quem e com qual fim o conceito ‘aberto’ está sendo empregado.
[20:31] <Tiago_> Tecnologias, especialmente tecnologias complexas como as que mediam a criação e disseminação de produtos culturais, não são meras ferramentas que podem ser usadas para o bem ou para o mal.
[20:32] <Tiago_> Elas têm estrutura, facilitam determinados usos e desfavorecem outros.
[20:32] <Tiago_> Do mesmo modo que a ideia de governo aberto pode beneficiar e ser utilizada para avançar modelos econômicos e políticos distintos, a ideia de ‘aberto’ na educação, e em particular o uso de licenças abertas, pode ser vista como uma técnica jurídica e precisamos analisar criticamente os pressupostos, muitas vezes tácitos, que regem o uso desta tecnologia.
[20:33] <Tiago_> Os modos de adoção tecnológica no Brasil tem características únicas, que indicam particularidades e imbricamentos delineados entre educação, tecnologia e cultura ao longo do século XX.
[20:34] <Tiago_> Arquiteturas de educação aberta se assentam sobre a integração de soluções (técnicas, jurídicas, metodológicas) que, embora igualmente validadas sob o espectro do aberto, apresentam dinâmicas próprias.
[20:34] <Tiago_> Baseadas não apenas na simples aplicação de soluções técnicas abertas, ou na adoção de licenças e padrões, essas arquiteturas se estruturam a partir de um amálgama das variadas dimensões contempladas pelo debate da abertura,
[20:35] <Tiago_> em interfaces únicas a cada caso, e que articulam, de jeito muito específico, eixos conceituais, institucionais e de prática.
[20:35] <Tiago_> Uma vez acionadas, essas arquiteturas podem colocar em movimento transformações com resultados muito distintos, e com amplos efeitos. E, embora possam ser vetor de inovação e solução de problemas, não são à prova de falhas - e a possibilidade de obstruções ou rupturas não é algo a ser ignorado.
[20:36] <Tiago_> Essas clivagens podem, em um primeiro momento, se apresentar mais como uma intuição do que como particularidades mapeadas, analisadas de modo mais próximo.
[20:36] <Tiago_> No caso brasileiro, essas pistas indicam que o próprio entendimento e aplicação de conceitos como abertura, remix e compartilhamento tem contornos a se apresentarem como muito especiais não apenas quando contrapostos ao universo encontrado em outros países -- mas também, e especialmente, em relação às peculiaridades regionais encontradas dentro próprio Brasil.
[20:37] <Tiago_> Afinal, um conteúdo editável, embora circulado em formatos fechados e com licenças mais restritivas, pode ser entendido como aberto em cenários onde o acesso a material de apoio seja uma questão de certa urgência.
[20:37] <Tiago_> Do mesmo modo, a articulação de diferentes recursos em diferentes meios (como um trecho de um vídeo associado a uma nota de jornal e a uma pintura, por exemplo) pode, na apresentação de uma aula presencial, adquirir contornos semelhantes ao do remix, embora não elaborado sobre uma plataforma digital.
[20:38] <Tiago_> Entender esses casos, tanto em seus pontos falsos (um conteúdo editável não é 100% aberto se circula com licença restritiva, por exemplo) como em possibilidades latentes (uma cultura de reelaboração em sala de aula tem potencial para abrir caminho a novos tipos de produção) nos ajuda a ter mais clareza
[20:38] <Tiago_> sobre como a noção de abertura se cristaliza em relação a diferentes expectativas e potencialidades -- e em como, a partir daí, podemos pensar em propostas e práticas que, mais do que oferecer soluções de tamanho único, sirvam como ferramenta à instrumentalização e à autonomia em realidades distintas.
[20:39] <Tiago_> A partir de um entendimento mais próximo do universo do real, e da apreensão de suas necessidades e especificidades, os diversos atores envolvidos no cenário da abertura podem desenhar alianças e estratégias que se alinhem às melhores práticas, caso a caso,
[20:39] <Tiago_> viabilizando arquiteturas de educação aberta comprometidas com transformações reais nas vidas e nas comunidades.
[20:40] <Tiago_> Bom pessoal, acho que é isso sorriso
[20:40] <JoyceFettermann_> clap clap clap
[20:41] <deborasebriam> muito bom!
[20:41] <JoyceFettermann_> Tiago, você poderia nos dar um exemplo prático de "arquiteturas de educação aberta comprometidas com transformações reais nas vidas e nas comunidades"?
[20:42] <JoyceFettermann_> Algo que esteja sendo feito?
[20:42] <Tiago_> Opa, essa pergunta é bem bacana. Então, uma coisa que tenho percebido é que muita coisa está em movimento, sendo feita.
[20:44] <Tiago_> Por exemplo, tenho acompanhado (junto com a Débora e a Daniervelin, entre outros professores) relatos sobre práticas abertas no sistema Universidade Aberta do Brasil.
[20:46] <daniervelin> Oi, Tiago_! Vi uma definição que você fez uma vez no nosso grupo do Telegram (rs) sobre as redes sociais
[20:46] <Tiago_> E uma coisa que percebo é que muitas coisas, como remix, ou circulação de recursos, são práticas comuns. Já são feitas, e tem dinâmicas próprias, desenhadas pelas professoras e professores conforme sua cultura de prática e a cultura de suas comunidades.
[20:46] <daniervelin> como plataformas abertas e fechadas ao mesmo tempo
[20:47] <JoyceFettermann_> Pelo que entendi (se eu estiver errada, pode me corrigir, por favor), essa arquitetura envolve muito mais do que a produção e uso de materiais com licença aberta. Mas tudo que está por trás disso, certo?
[20:47] <daniervelin> Tiago_, pode falar um pouco dessa perspectiva sobre as redes sociais, do tipo Facebook?
[20:47] <daniervelin> nessa concepção de abertura?
[20:49] <Tiago_> Uma coisa interessante é que essas práticas já são abertas, mas não se conformam exatamente num "cânone" do aberto. Mas o modo como licenças e práticas de compartilhamento e culturas institucionais se articulam vão moldando muitas possíveis arquiteturas.
[20:51] <Tiago_> oi @JoyceFettermann_, isso! é o modo como essas coisas todas se articulam. porque cada cenário é muito específico. mas claro que a consonância com melhores práticas de abertura (cuidado com licenças, cultura de abertura institucional) é importantíssimo. mas é parte do processo, não o define inteiramente.
[20:51] <JoyceFettermann_> Bacana!
[20:51] <Tiago_> Opa, sobre o facebook! valeu @daniervelin!
[20:52] <Tiago_> então, o facebook é um grande exemplo acho. ele é uma plataforma fechada, sua própria arquitetura é estranha á abertura prevista na web, por exemplo.
[20:53] <Tiago_> mas dentro desse ecossistema fechado, há margem para práticas abertas -- para colaboração, remix, capilarização de licenças livres.
[20:54] <Tiago_> o modo como essas estruturas de trabalho, comunitárias, se desenha é que apontará a um contexto e a uma prática de abertura.
[20:55] <daniervelin> mesmo assim, essa prática de abertura se submete à logica de uma empresa, né?
[20:55] <daniervelin> ou seja, encontra coerções
[20:55] <Tiago_> eu sugiro esse termo " arquitetura" por conta das muitas camadas tanto de contextos (institucional, jurídico, tecnológico), como de modelos comunitários mesmo. há sempre um equilíbrio muito específico entre essas coisas todas.
[20:56] <Tiago_> opa, sim @daniervelin. é uma arquitetura de abertura limitada pelo próprio ecossistema.
[20:56] <daniervelin> arquitetura dá mesmo a ideia de um estrutura complexa
[20:57] <Tiago_> mas é interessante, acho, o modo como mesmo dentro dessa margem muito limitada há um possível equilíbrio que possibilita abertura.
[20:57] <daniervelin> usamos na linguística a ideia de estrutura como um entidade autônoma de dependências internas. A língua nesse sentido seria uma estrutura. Talvez possamos pensar na rede assim também
[20:57] <JoyceFettermann_> Sobre essa abertura no Facebook, por exemplo, uma pessoa pode postar um conteúdo e declarar que ele é aberto, mas, na verdade, isso vai estar submetido às regras da rede social, né?
[20:58] <Tiago_> opa @JoyceFettermann_, é verdade.
[20:59] <JoyceFettermann_> Muito interessante, Tiago_! Um assunto novo e que rende muita conversa...rs
[20:59] <daniervelin> bacana suas reflexões, Tiago_! Há toda uma complexidade aí da área, mas nos fazem pensar. Muito bom!
[20:59] <JoyceFettermann_> Verdade!
[21:00] <Tiago_> mas ao mesmo tempo há a possibilidade de organizar um grupo para produzir material colaborativamente, sob licenças abertas. e espalhar issopara fora do ecossistema do facebook.
[21:01] <JoyceFettermann_> Bacana!
[21:01] <Tiago_> eu acho muito importante, aí eu falo de mim mesmo, pensar essas brechas, por estarmos no sul global. nós entramos nessas plataformas de modo coadjuvante (não as desenvolvemos etc), então o modo como encontramos essas brechas e inventamos novos modos de construção do conhecimento em cima disso é algo que tem chamado muito mesmo a minha atenção.
[21:01] <JoyceFettermann_> Inclusive, tem grupos de REA no Facebook fazendo isso.
[21:02] <JoyceFettermann_> A Mara, que apresentou no mês passado, criou um.
[21:02] <JoyceFettermann_> Sobre REA para o Ensino Médio.
[21:02] <Tiago_> fico muito feliz mesmo que tenham achado o nosso trabalho interessante!
[21:02] <JoyceFettermann_> Agradecemos muito a vocês dois, Débora e Tiago, pelas reflexões e por nos trazerem contribuições tão boas sobre REA e a arquitetura na educação aberta.
[21:03] <JoyceFettermann_> Super interessante, Tiago_!
[21:03] <Tiago_> eu que agradeço o convite, de verdade mesmo. é muito bacana essa oportunidade.
[21:03] <JoyceFettermann_> Obrigada a todos pela participação!
[21:04] <JoyceFettermann_> Vamos encerrando o STIS de hoje, mas no mês que vem tem mais! Contamos com vocês! sorriso
[21:04] <JoyceFettermann_> Boa noite a todos!
[21:05] <Tiago_> Boa noite!
[21:06] <JoyceFettermann_> ]
[21:07] <daniervelin> Boa noite!
[21:13] <deborasebriam> boa noite!

 

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